Camila Reis CCIndicação

CCrítica: ''You''

21.1.19Colaboradores CC


ATENÇÃO:: Possui spoilers leves!


Se você passeou pela internet nesse fim/início de ano, deve ter visto muita gente comentando You, série que entrou no catálogo da Netflix em dezembro e ganhou admiradores por ter um ritmo viciante e uma história cheia de twists. Adaptada do romance de mesmo nome, escrito por Caroline Kepnes, a série acompanha Joe Goldberg (Penn Badgley), o gerente de uma livraria especializada em livros raros, que conhece Guinevere Beck (Elizabeth Lail), uma estudante e aspirante a escritora com a vida cheia de pequenos segredos e problemas. 

Após uma conversa bem curta sobre livros, Joe se demonstra interessado por ela e para saber se investe ou não na garota começa a stalkear a vida dela online e offline, descobrindo por onde anda e com quem. E depois de acompanhar seus passos, ele decide que é homem certo para ela e que precisa salvá-la das amigas egoístas e do namorado hipster. Então começa a se infiltrar no cotidiano da menina., primeiro ocupando o lugar de amigo maduro e salvador, que está a alguns passos a frente em perceber o perigo, depois como namorado apaixonado e preocupado.



Essa narrativa funciona nos primeiros cinco episódios. Até aí a série segue um ritmo bom e o suspense em torno dos personagens é bem construído, especialmente porque acompanhamos a história do ponto de vista distorcido de Joe, que narra praticamente todos os episódios. A direção faz um trabalho bem interessante ao usar câmera levemente desfocada ao fundo e posicionada muitas vezes à distância dos atores; ajudam muito a reforçar a sensação de que estamos junto com ele bisbilhotando a vida alheia. O roteiro é ágil e consegue ir apresentando cada pessoa inserida na vida de Beck de forma competente e intrigante. Outro acerto é a forma como a tecnologia e as redes socias são usados dentro da história. 

Porém, por mais que todos esses artifícios cumpram com perfeição o papel de prender sua atenção e manter a curiosidade do espectador lá em cima, algumas coisas são bem difíceis de engolir. A quantidade de coincidências que são necessárias para que a história aconteça, tanto no início, onde os descuidos da Beck em relação à privacidade são muito forçados, como na segunda metade da série, onde o Joe entra e sai de casas sem ser visto e aparece do nada em lugares e ninguém desconfia de nada. Várias vezes me vi questionando: como uma mulher que mora sozinha em Nova York, não tem cortinas em casa? E como alguém em 2018 não tem senha no celular? 

Outra coisa incômoda é a forma como a Beck é desenvolvida, por mais que a história seja sobre a obsessão do Joe por ela. O fato de haver apenas um episódio do ponto de vista dela dificulta muito que o público se conecte e torça de verdade para que a personagem não caia na cilada que é ficar íntima dele. Ao mesmo tempo em que acompanhar as relações da vida dela pelo olhar obcecado e detalhista do Joe é o que acaba tornando os episódios tão instigantes, muitas vezes termina por dar a impressão de que, quem escreveu aquela história estava mais interessado em fazer o público sentir empatia com o garoto stalker do que pela vítima, o que é bastante problemático.



Embora o roteiro acerte em algumas coisas, como colocar Beck como mulher que sente desejo e ambição, ter escolhido tirar o olhar dela da história me incomodou demais. Também me preocupou muito o número de pessoas afirmando que a série é tão boa que eles chegaram a torcer para o Joe. Enfim, ,esmo com problemas, You é envolvente e consegue ser um bom divertimento, se você não pensar muito no que está assistindo.


*** 


Sobre a autora: Camila Reis é pisciana, chocólatra, viciada em séries e apaixonada por cinema e música, pseudo jornalista que um belo dia resolveu que ia finalmente tirar o pensa sobre tudo isso da cabeça e começar a escrever, não importa onde.

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2 comentários

  1. Olá,
    Realmente foi muito burburinho dessa série. Anda não assisti, mas que medo de um cara assim. É complicado que torçam exatamente para quem não deveriam torcer. Talvez seja essa onda de "stalkear" fosse completamente normal que vemos hoje em dia, acho que mesmo sendo (normalmente) em níveis diferentes as pessoas acabam se identificando e normalizando isso.

    Pelo jeito ele é bem manipulador e invasor da privacidade alheia. Medinho.

    Abraços.

    Ruby W.

    newsfallenbooks.com
    Instagram: @Blogfallenbooks

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  2. Por mais irresponsável que isso seja, a história é contada do ponto de vista do Joe justamente pra que o público sinta empatia por ele e não pela Beck, inclusive ela é retratada como uma garota normal e imperfeita, o que reforça isso ainda mais.

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