O único livro de ficção que eu li até agora em 2018, e um que mesmo depois de terminar continua aparecendo e reaparecendo na minha vida. Vamos conversar sobre o que achei, doenças mentais e ficar cheio até o talo.
Mas sobre o que é esse livro? Tartarugas? E ONDE EXATAMENTE É LÁ EMBAIXO?
Algum tempo antes de ler o livro eu tive uma epifania no Batdrama (minha newsletter) em que fez 100% sentido de que lá embaixo era... bem, lá embaixo. O cu. Sabe quando você come muito e fica cheio até o talo? Bem, nesse mundo alternativo em que eu vivi brevemente esse livro era sobre alguém que enchia o rabo de tartarugas. Spoiler: não é sobre isso.
Dessa vez o John Green nos leva pela história de uma garota e sua amiga tentando desvendar o desaparecimento de um cara rico para poder ganhar uma recompensa. E é isso, mas não é isso. Porque a protagonista tem TOC, e ela é uma adolescente comum que vai pra escola e vive a vida dela, e o filho do cara rico é um garoto que ela conhecia da infância e pode ser ou não que ela goste dele.
Eu sinceramente não sei nem dizer como classificar essa história, porque ainda tem algo mais além de desvendar mistério e adolescente vivendo a vida. Acho que é a garota tentando se entender e lidar com o fato de que ela tem uma doença mental, mas a continuar vivendo mesmo assim.
Quando eu comecei a ler Tartarugas Até Lá Embaixo eu gostei tanto, fui lembrada do quão bom John Green pode ser. O jeito que ele escreve é especial e a narrativa simplesmente vai fluindo. Pra quem não tem conseguido se prender tanto a leituras ultimamente, ler nunca foi tão fácil.
Eu também gosto que a história é super atual. A melhor amiga da protagonista escreve fanfics e é fã de Star Wars, e os personagens discutem sobre filmes de espaço e poesias no meio da história toda. O que em certa parte já era uma marca do John Green como escritor, mas foi legal ver uma história 1) centrada em garotas e 2) fanfics!!
Mas eu gostei tanto do livro que eu não quis mais ler pra não acabar tão rápido e passei meses sem ler até que eu quase não queria ler mais. E se você está fazendo essa cara:
Eu concordo com você, eu também me sinto assim agora, mas o fato é que aconteceu.
Eu não sei como teria sido a leitura se tivesse sido direto, mas eu sei como foi pra mim, e voltar depois dessa pausa me fez ver o livro com outros olhos. Acho que a animação da primeira parte veio da investigação, mas conforme a história avança a gente tem mais a garota vivendo. E é legal, mas parece que não tem nada pra descobrir.
O final da história é uma nebulosa na minha cabeça. Sei lá, parece que é quase o final de outro livro e o John Green tava querendo falar as coisas sobre viver com uma doença mental, mas...??? Eu sinceramente nem sei. Não sei dizer se foi bom ou ruim porque eu não sei.
Agora, o que eu sei, é que eu gostei mesmo assim. Sendo alguém que tem ansiedade e literalmente sendo cercada por pessoas que tem questões de saúde mental diferentes, inclusive TOC, foi legal ver isso no livro. Tem momentos que a personagem fala coisas como "Olha... isso não é um momento, isso que eu sou agora talvez seja o melhor que eu consiga ser," o que é uma verdade sobre lidar com essas condições.
Quando você tem doença mental normalmente acontecem duas coisas 1) as pessoas confundem com oscilações de humor natural que as pessoas tem. Tipo ficar triste quando tem algo ruim, ou nervoso diante de algo grande acontecendo. As pessoas não entendem que é algo além disso, incontrolável. Às vezes a gente até reconhece: pera, isso é a ansiedade. MAS CONTINUA MESMO ASSIM. E VAI CONSUMINDO. E 2) o segundo caso é que, até como consequência do primeiro, as pessoas esperam que seja passageiro. É aquele caso do "como assim meu amor não curou a sua depressão??? você está namorando, apaixonado e com alguém que te ama!!! como é que você ainda não tá melhor???"
E o livro mostra que não é assim. Ela mostra de forma natural viver com uma doença mental, ter pensamentos invasivos, e também aprender a lidar com isso. Aprender que você pode viver com isso - é uma vida diferente, que tem altos e baixos.
A história também lida com a personagem aprendendo a confiar na terapeuta, tomar os remédios e a dizer como quer ser tratada. Mais pra o final da história a gente vê a garota falando com a mãe, tipo "cara, é ruim quando você me trata assim por causa da doença." Ou ela mesma lidando com os amigos.
Mas mais do que tudo, a história mostra a protagonista vivendo, e isso é legal.
Desde então eu fico com vontade volta e meia de indicar o livro pra amigos que lidam com doença mental e também pra amigos de pessoas que lidam com doença mental, porque Tartarugas Até Lá Embaixo não só ajuda a entender, como dá apoio emocional pra lidar com os nossos próprios dirgraçamentos mentais.
A resenha já terminou, mas eu preciso acrecentar essa observação que foi algo que eu pensei várias vezes enquanto lia: Eu acho legal o John Green se esforçar pra colocar fanfic na história, mas eu ainda senti tanto como a visão de alguém de fora. O ship da garota é a Rey com o Chewbacca, e isso tem muito tom de FANFIC É ALGO ZOADO QUE AS PESSOAS ESCREVEM QUALQUER COISA LOUCA HAHAHA Pega aí um ship bizarro. É tipo aquela fanfic zoada do Groot fazendo sexo escrita em primeira pessoa pelo próprio Groot. E acho que é muito a visão sobre fanfics de quem é de fora, e o maior problema disso é que fanfic é um espaço onde é comum pessoas marginalizadas se inserirem na história e já existe um preconceito enorme do tipo - O casal hétero é o canon, agora o casal de mesmo gênero é a coisa "bizarra" de fanfic. Obviamente, John Green não fez nada disso de propósito e nem deve pensar isso (imagino), mas existe todo uma mentalidade popular aí que sacaneia e marginaliza quem é diferente, e a forma como fanfic foi tratada na história só reforça isso. Mas nem 100%, porque a forma como ele desenvolve depois a relação dos personagens do livro com as fanfics é interessante.
E é isso. Agora, o que significa Tarturas e onde é lá embaixo? Você vai ter que ler o livro pra descobrir.
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