Eu não tinha uma boa autoestima antes de saber quem era Amanda Palmer.
Eu podia te dizer que às vezes eu acordava me sentindo bonitinha e era legal, de vez em quando eu realmente achava que eu era incrível. Mas isso era ocasional. O que imperava no dia a dia era a noção de que eu não era TUDO ISSO, de que eu não tinha peito o suficiente, de que não era feminina o suficiente, de que as marcas de acne e catapora no meu corpo eram horrendas e ninguém ia aceitá-las.
(Boa parte dessa insegurança enorme veio lá da 6ª série, quando a gente ia fazer natação e as meninas cochichavam que eu parecia uma tábua porque não tinha peito, e o garoto que eu tinha crush "me trocou" por uma menina que todo mundo dizia ser a mais "gostosa" da sala).
Meu primeiro contato com a Amanda Palmer foi um vídeo dela numa banheira, nua, cantando uma versão loucaça de "The First Time Ever I Saw Your Face". Eu a conhecia de nome (afinal, ela era parceira do Neil Gaiman), mas essa foi a primeira vez que realmente a vi.
E nossa, a partir daí a minha vida mudou. É sério.
Ali estava uma mulher, bonita porém não dentro dos padrões, com tudo de fora, pelos em todas as partes do corpo, sem sobrancelha... Era uma pessoa muito real.
Na época, eu andava numa vibe de parar de depilar as minhas pernas porque eu tinha muita preguiça e eu não entendia muito bem por que eu tinha que depilar. Minha família dizia que parecia que eu estava suja, mas não fazia sentindo para mim. A gente tem pelos por um motivo, para proteger e etc, por que eu parecia suja mas meus amigos homens achavam ok ficar sem depilar?
Amanda Palmer foi um pivô muito importante nessa jornada de autoaceitação e autoestima. Ela claramente amava o corpo dela e não tinha vergonha de mostrar, e falava abertamente sobre se amar e sobre depilação e tudo que ela falava era incrível para mim e EXATAMENTE o que eu precisava ouvir ou ler.
Um argumento (beeeeeeeeem bosta, obviamente) que usavam para tentar fazer com que eu me depilasse era que "nenhum garoto vai te namorar se você tiver com pelo grande"..................................
E aí eu comecei a usar a Amanda como exemplo, quase como se ela fosse minha guru. "Se a Amanda Palmer, que tem pelo na perna, é casada com o NEIL GAIMAN, eu não vou me importar não". Por causa da própria Amanda, eu acabei descobrindo todo o furor que existe na internet pela Stoya (sim, a atriz pornô) e vi como ela era linda mesmo sem ter o volume de seios que a sociedade acha "bonitas". E comecei a me olhar no espelho e ver muita coisa que eu nunca tinha visto antes.
Não vou dizer que a Amanda Palmer tenha sido responsável pelo carinho que comecei a desenvolver pelo meu corpo. Tudo isso quem fez fui eu. E ajudou ter amigos que não faziam comentários maldosos, que eram meio "tanto faz" com essa coisa de corpo ideal, etc. A questão é que ver, pela primeira vez, alguém tão maravilhoso falando de coisas que me afligiam, reforçando ideias que já estavam dentro de mim, me validando, tornou toda essa jornada mais fácil.
Agora, eu não vou negar que seja uma batalha diária. Trabalhar a autoestima e o amor ao próprio corpo (e às vezes à própria mente) é uma coisa complexa demais para mudar da noite pro dia. As inseguranças não vão simplesmente embora, elas permanecem. Mas com a ajudinha da Amanda Palmer e de cuidados que tomo comigo mesma, hoje eu me amo muito mais do que há seis anos.
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