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Dana Martins
Clube de Escrita: O processo de escrita do Greg Pak
11.2.18Dana Martins
So estamos aqui pra um Clube de Escrita (algumas horas atrasado)... yey. E essa é literalmente a primeira frase que eu escrevo no computador desde que eu terminei o último Clube de Escrita. Então hoje vai ser um pouco diferente, eu vou comentar/traduzir o texto do Greg Pak de "Como eu escrevo roteiro de quadrinhos," adaptado pra escrita!
Como eu não tenho o que falar sobre o meu progresso, decidi trazer pra o Clube de Escrita um texto muito bom do Greg Pak - se você lê em inglês, ele postou aqui no site dele. É sobre quadrinhos, mas acho que tirando algumas especificidades, é tudo contar histórias e dá pra aprender muito.
Vamos lá, o Greg começa com uma nota dizendo que todo mundo tem um processo diferente. "Isso é só o que funciona pra mim, agora, na maior parte do tempo."
E é assim que ele faz o roteiro:
She-Hulk está chocada, com raiva. Maddy diz o Hulk (...) PÁGINA DOIS Fin Fang Foom come um tubarão branco maravulhoso. PÁGINA TRÊS A QUATRO Hulk e Lady Hellbender vão (...) Ela fala sobre (.,.) |
1. Faz um resumo de toda a história. Em inglês eles chamam de "outline," que pode ser traduzido pra esboço, mas acho que não expressa exatamente o que é outline. Quando eu penso numa outline, eu imagino esse resumo em tópicos como na imagem acima.
PARTE 1
ela está fugindo da polícia
PARTE 2
ela entra no carro da policial por acaso
PARTE 3
ela e a policial conversam
Obviamente, "outline" é um termo muito vasto e pode ser aplicado de formas diferentes, em tipos de histórias diferentes (em histórias maiores a outline vai ser maior...). O ponto é que você vai fazer essa lista/resumo dos acontecimentos pra ter uma ideia geral do que acontece.
Então a primeira coisa que o Greg faz é esse resumo, e diz que dava um texto inteiro só nesse tópico. Mas por enquanto, o que importa é que se esse esboço tá funcionando, ele resume os grandes momentos da trama, viradas emocionais e detalhes temáticos - tudo que é essencial pra história funcionar e importar. Um bom esboço significa que fazer o roteiro fica MUITO mais fácil.
2. Divide esse resumo (outline) em páginas.
E aí, ou
3A. Divide essas páginas em paineis primeiro, depois adiciona diálogo (lembra que estamos falando de quadrinhos!)
OU, dependendo da cena ou de como ele tá se sentindo:
3B. Rascunha uns diálogos antes, depois divide as páginas em paineis.
E aí ele diz que quando tá determinando essa divisão e as quebras de página, ele sempre tenta terminar a página com algum mini cliffhanger. Uma questão, um pensamento pela metade, uma ação que é completada na próxima página. "Tem que fazer o pessoal continuar virando as páginas!!"
Agora uma pausa pra dizer que isso é pra quadrinho. Primeiro, no caso de um livro você divide os momentos do seu resumo em tópicos por capítulos. Aqui como a JK Rowling faz:
E a Jennifer Egan no conto "Black Box":
Fico tão aliviada vendo essas coisas, porque a primeira vez que eu fiz um planejamento super detalhado e cheio de informação assim, eu tive uma crise pensando: será que eu tô exagerando? será que eu sou a burra do rolê que não sabe fazer história e precisa desses guias todos? Na época, eu continuei a fazer assim mesmo e me ajudou demais. Agora depois de ver como outros autores fazem eu percebo que todo mundo tá perdido e fazendo o que pode.
Dica aleatória: leia outros escritores falando sobre escrever! Pesquise sobre a rotina deles, leia entrevistas, assista vídeos. Você não só vai aprender coisas legais, como também perceber que não tá sozinho nas suas dificuldades. Se o dia tiver bom, vai até ficar inspirado pra escrever.
De volta pra o texto do Greg, se a sua história não tiver capítulos, você pode dividir por mini-partes, ou cenas. E um detalhe é que em quadrinhos a pessoa fazendo história tem um controle muito maior sobre as páginas. Em livros/ficção, você não sabe onde termina a página. Se é que existe uma página - eu leio vários livros no celular com um zoom 1000x que fica trechinhos de texto no visor. Mas você tem 1) controle de cena e 2) controle de capítulo e você pode aplicar essas dicas do Greg.
4. Depois de dividir o resumo em tópicos em cena, aí o Greg Pak começa a escrever. Ele começa a escrever do começo, mas se ele fica preso numa parte ele pula e escreve as cenas fáceis primeiro.
5. Volta e escreve as cenas difíceis, que são fáceis agora que ele fez o resto.
6. Se ele fica realmente preso uma cena/momento, liga pra o editor e fala com ele. "Editores são incríveis. Às vezes eles só concordam e dizem "uh huh" e me deixam falar até eu resolver. Às vezes eles perguntam aquelas questões certas, que desbloqueiam tudo. Essas ligações SEMPRE ajudam."
Agora nós, pobre mortais sem editor, podemos pedir ajuda aos amigos. Infelizmente nem sempre a gente tem aquela pessoa que Entende™ ou vai falar a coisa certa, mas vou te dizer que quase sempre ajuda. Às vezes só de eu chegar e falar do problema pra alguém resolve (às vezes a pessoa não tá nem online HUAHUAH), e algumas vão te perguntar coisas que podem te ajudar. Seja como for, procurar alguém é melhor que ficar sofrendo calado.
7. Reescreve as cenas fáceis agora que ele escreveu as difíceis e conhece melhor a história.
8. Revisita as cenas difíceis agora que entendeu o que precisou melhorar nas cenas fáceis.
9. Repassa e edita tudo diversas vezes, prestando atenção especial nos pequenos detalhes, se certificando de que está explicando o que precisa ser explicado, e vendo se, durante as revisões, ele adicionou um detalhe mais pra o final que precisa ser engatilhado melhor no início.
10. Entrego quando o tempo acaba.
11-12: entrega pra os editores, recebe feedback e faz revisões.
13. Tento entender sobre o que REALMENTE é a história e fazer os ajustes sutis no diálogo e ação pra trazer à tona o tema mais profundo/emocional.
Partes mais difíceis de fazer um roteiro:
1. O resumo inicial
2. Escrever o início (principalmente trabalhar na exposição)
3. O final/cliffhanger
4. As páginas antes do clímax
Outros pensamentos:
Tem um aspecto interessante de escrever um roteiro. Quando você tem um limite de páginas, por exemplo, e isso te ajuda a tomar decisões que funcionam. Por exemplo, volta e meia eu vou ter uma cena de 3 páginas que é difícil de fazer funcionar. Então eu escrevo tudo o que vem antes e depois dela. E de repente eu descubro que só sobrou uma página pra essa cena difícil - e isso é tudo que eu preciso. Ou até que eu nem preciso da cena.
(relacionado a isso, mais de uma vez, quando eu tive muita dificuldade de escrever uma cena, eu no fim descobri que eu não precisava da cena. Eu tava com dificuldade porque ele não pertencia à história.)
E "Ação sem drama emocional é oca. Tem que dar tempo pra construir personagem e 'emotional drive.'" Deu um branco agora mas emotional drive é tipo o que faz o personagem ir em frente, algo pessoal.
Outras atividades essenciais para o processo de escrita:
A. Beba água.
B. Durma o bastante e coma.
C. Reconheça que seja lá o que você tá escrevendo nesse instante não é perfeito, mas você vai revisar isso e tornar melhor e "perfeição" é uma ilusão de qualquer forma.
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E é isso. Ele termina indicando se inscrever a newsletter dele, que eu indico também porque foi onde eu li isso pela primeira vez e foi muito bom: https://t.co/3gs0d2ElNl
Acho que o processo do Greg Pak é meio parecido com o meu. Antigamente eu não fazia outline nem planejava tanto, agora eu tenho buscado fazer mais esse resumo em tópicos antes de começar porque facilita muito na hora de escrever (perde menos tempo escrevendo cena que você vai jogar fora), mas no fim do dia: faz o que você sentir que precisa no momento. Inclusive, a história que eu vou editar agora (a Drive!) eu escrevi toda sem resumo nenhum. Agora antes de editar que eu vou parar e ver ponto a ponto o que acontece pra ter certeza de que tudo se encaixa.
No momento, eu acho que o maior problema da Drive! é perto do final, porque a história começou do PdV (ponto de vista) de uma personagem, e termina no PDV de outra. Não tá fechando direito. Eu, depois de publicar esse texto (e comer alguma coisa), vou repassar a história toda fazendo esse resumo em tópicos, ver coisas básicas tipo o que as personagens estão buscando, o que muda ao longo da história, pra ter certeza de que eu engatilhei direito no início pra completar no final. Depois começo a reescrever até ficar bom. (Pra constar: essa é uma história curta, tamanho de conto)
Espero que vocês tenham gostado do texto do Greg Pak. Semana que vem eu estou de volta, e espero ter terminado uma ou duas histórias, e ter trabalhado na Rebels AU! Vamos ver o que vai acontecer.
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