1 - AH, ENTÃO VOCÊ É TIPO O CARA DO ‘5O TONS DE CINZA’?
Qualquer pessoa minimamente fetichista que você conhecer se sente absolutamente constrangida pela simples existência do livro e do filme “50 Tons de Cinza”. Apesar de ter levado muitas pessoas a conhecerem e se interessarem pelas reais práticas e o real conhecimento do BDSM, o livro retrata uma relação abusiva e doentia com cenas surreais e completo desrespeito do dominador pela submissa, beirando o crime.
2 - ISSO É COISA DE GENTE DOIDA!
Muito pelo contrário. Segundo estudos dos PhD Andreas Wismeijer e Marcel van Assen realizados em 2013, pessoas que praticam BDSM tem menores graus de ansiedade e maior segurança, calma e conforto em seus relacionamentos do que pessoas que praticam apenas sexo “baunilha”. Segundo a autora Gloria Brame, especialista em sexo, praticantes de fetiches são “São apenas pessoas comuns que por acaso se extravasam dessa forma”.
3 - BDSM É SÓ A GLAMURIZAÇÃO DO ESTUPRO E DO RELACIONAMENTO ABUSIVO!
Isso é mentira. Há diferenças simples e gritantes entre BDSM e relacionamento abusivos. Enquanto no BDSM há acordo, consensualidade, confiança e respeito entre os praticantes, nada disso acontece em um relacionamento abusivo. Num relacionamento abusivo, a pessoa tem medo de seu parceiro, que não se preocupa se a está ferindo física ou emocionalmente. Uma relação ou uma cena de BDSM podem ser encerradas a qualquer momento pelo uso de uma palavra de segurança, enquanto sair de um relacionamento abusivo é algo muito mais complicado e perigoso.
"Você ainda lembra da palavra de segurança?" |
4 - AH, EU NÃO FAÇO ISSO PORQUE O CARA VAI QUERER ME OBRIGAR A FAZER COISAS QUE EU NÃO QUERO...
Antes do início de qualquer ato BDSM entre pessoas que não se conhecem, sempre há muita conversa e há uma pergunta chave: “Quais são os seus limites?”. Isso é o básico. É a hora que a pessoa que estará no papel de submisso diz o que não gostaria de fazer e o que não faria de jeito nenhum. Se o dominador desrespeitar ou tentar forçar qualquer um desses limites, ele não é dominador, é estuprador, e você não está numa cena de BDSM, você está na cena de um crime. Deixe bem claro o que você não gostaria de fazer e você será respeitado. É simples assim. Não precisa ter vergonha. Só vai acontecer o que você deixar que aconteça.
5 - EU NÃO FAÇO PORQUE GOSTO DE CARINHO...
Há espaço - e muito espaço - para carinho em uma relação BDSM. Primeiramente porque nem todas as práticas envolvem dor e humilhação, em segundo lugar porque, geralmente, após uma sessão, há algo chamado “aftercare”, que é um momento em que o dominador acalma o submisso, conversa sobre o que ele achou da sessão e fortalece os laços de confiança entre eles. Existem muitas possibilidades dentro da prática do BDSM e nem todas passam necessariamente pela violência ou tem a violência como protagonista do ato.
6 - EU NÃO TENHO DINHEIRO PARA GASTAR COM ALGEMAS, ROUPAS DE COURO E CHICOTES.
A maioria das pessoas não tem! Mas isso não impede ninguém de praticar BDSM caso realmente queira. Acessórios são apenas um auxílio para realizar o fetiche, mas tudo pode ser improvisado ou substituído. Um bom rolo de fita adesiva resistente pode ser encontrado por menos de 10 reais numa papelaria, pregadores de roupa que você tem em casa também podem ser usados, meias e cadarços podem ganhar novas funções. Se você parar para pensar, é um grande exercício de criatividade! Há, inclusive, muitas pessoas que sentem muito mais prazer em realizar seus fetiches com materiais improvisados, alegando que a sessão fica mais “real”.
7 - NÃO QUERO ME SENTIR “DONO” DE NINGUÉM.
Apesar de ser relativamente comum que praticantes de BDSM levem para suas vidas uma relação de dominador e submisso, muita gente mantém esses fetiches restritos apenas ao momento do sexo. Há, por outro lado, dominadores e submissos que realizam seus fetiches apenas fora do sexo e, durante o ato, costumam agir de maneira “baunilha”. Todas as regras para seu relacionamento serão criadas por você e seu parceiro, e elas podem ser como vocês quiserem.
8 - SER DOMINADOR É COISA DE MACHO! AFEMINADOS SÃO SUBMISSOS!
Vamos desconstruir essa heteronormatividade? Isso tem muita raiz no machismo, se a gente parar para pensar. Aquela ideia de que o cara másculo e viril é o alpha e o afeminado, fraco e magrelo deve se submeter a ele. Há, sim, e não são poucos, dominadores afeminados e submissos másculos. Há, inclusive, dominadores que são exclusivamente passivos, submissos e ativos. Toda a ideia do BDSM é abolir regras do que é certo e errado no sexo, e não criar mais e mais barreiras. Você pode viver seus fetiches da maneira que você se sentir mais confortável e mais feliz.
Pois é, por mais que eu sempre bata na tecla de que é importante a gente se experimentar, quando você resolver praticar BDSM para além de fetiches mais “básicos” é importante você pesquisar, ler e estudar bastante as práticas que você se interessa. O conhecimento vai te deixar mais seguro até mesmo para saber se uma pessoa é confiável ou não para realizar determinado ato com você. Por exemplo: Se você gosta de bater ou chicotear alguém, há áreas mais sensíveis do corpo que você deve evitar (como a região dos rins e a virilha, por exemplo). Até mesmo uma simples corda nas mãos de alguém que nunca tentou fazer bondage pode acabar em uma tragédia. Informação é essencial se você pretende levar fetiches como algo recorrente na sua vida. Uma dica: Procure eventos na sua região, sempre tem muita gente bacana (e algumas não tão bacanas assim, mas você irá reconhecê-las!) para te ensinar muita coisa.
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Sobre a autoria: Renan Wilbert é jornalista e administrador da página “Igreja de Santa Cher na Terra”. Nascido e criado no Rio de Janeiro, procura utilizar sua escrita para tratar de temas como a igualdade, autoestima e sociedade.
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