A questão do suicídio está direta ou indiretamente presente na vida de boa parte das pessoas, mas por ser um assunto um tanto quanto desconfortável nós nos calamos, fingimos que não vemos ou que é algo que só acontece com desconhecidos. Com a campanha do setembro amarelo o tema acaba por se insinuar nas principais mídias sociais, no entanto, isso não faz com que ele seja menos incômodo e é só piscarmos os olhos que o assunto é esquecido.
Ao se falar sobre o tema, uma pergunta se destaca: Por que as pessoas se suicidam? A gente fica tentando achar uma resposta, uma explicação, que realmente deve ou pode existir, mas sinto que a principal pergunta deveria ser: O que eu posso fazer para ajudar?
Como psicóloga, sei da importância de diagnósticos, mas também como psicóloga que segue um viés cognitivo-comportamental entendo o suicídio como um comportamento. Dito isso, haveria aqui a necessidade da solução de um problema, coisa que pode parecer um pouco fria e não empática, mas longe disso: essa busca pela solução do problema enfim permite focar numa questão imediata para posteriormente trabalhar as causas.
As discussões sobre ideação suicida e/ou suicídio, me afetam demais, no entanto, ao invés de me paralisarar, só fomentam a necessidade de fazer alguma coisa. Não digo que não é frustrante, às vezes o fazer alguma coisa é muito limitado, mas realmente acredito que em algum momento ele vai dar resultado. Óbvio que queremos desesperadamente que as pessoas que se veem diante a possibilidade de suicídio se sintam melhor, mas isso é um processo que requer uma rede de apoio. Quando dizemos “você não está sozinho” acho que não temos noção de quanto isso é verdadeiro, não estamos sozinhos mesmo, e apesar de toda a precariedade da saúde pública e mental no Brasil, ainda há pessoas dispostas a ajudar.
De toda forma, reconhecer o suicídio como um comportamento nos possibilita pensar soluções para ele, e isso não quer dizer que concordamos com a ideia de acabar com a própria vida e nem que minimizamos a dor do outro. De modo prático, isso nos coloca pra pensar, uma vez que o pensamento suicida surge por vezes quando a pessoa sente que esgotou as soluções para seus problemas, que é indispensável ou que seu sofrimento só será aplacado com sua morte. Ironicamente, dizer que o suicídio não é a solução pode reforçar que sim, ele é, então o que efetivamente podemos fazer?
Escute
Como uma pessoa prática esse é o passo mais difícil para mim. Quero pensar, discutir, arregaçar as mangas e fazer algo concreto, no entanto, ouvir e tentar compreender a pessoa que se encontra nesse limiar da ideação suicida gera um elo que permite a sensação de pertencimento. Além disso, reconhecer para os outros seus pensamentos suicidas já não é um passo concreto? Uma busca por ajuda? A saúde mental é um caminho de passos, e cada passo é importante.
Não se culpe
Mais uma vez, que alternativa difícil, pois reconhecer que o suicídio é uma responsabilidade nossa como ser social não pode se transformar em uma capa de super herói que vai salvar o mundo. Gosto muito da premissa que diz que se não estamos bem, como vamos ajudar outra pessoa que não está bem? Foi e é um longo caminho não me culpar, mas preciso viver a dor e depois deixa-la ir, com a certeza que fiz todo o que podia naquele momento.
Identifique a dor
Apesar de falar que suicídio é comportamento, ele não tá solto, há toda uma ligação com nossos pensamentos e sentimentos. Identificar e discutir as fontes de dor por trás da ideia suicida torna a busca por solução um pouco mais viável e menos impossível. A própria tentativa de colocar em palavras sentimentos esmagadores direciona nossa mente na busca por racionalidade.
Indique ajuda
Nem sempre as pessoas com pensamentos suicidas se sentem a vontade em falar com conhecidos ou pessoas próximas, e mesmo quando ela consegue, às vezes somos nós que não conseguimos ajudar. Não carregue isso sozinho, indique lugares que possam ajudar. O Centro de Valorização a Vida é um, se mostre solícito para procurar outros lugares ou profissionais, mostre opções.
Se ajude
Suicídio é um tema pesado para todos os envolvidos, procurar ajuda para você enquanto uma pessoa que não está diante dessa ideação é importante para que o sofrimento do outro não se torne seu sofrimento. Em seu livro O demônio do meio-dia – uma anatomia da depressão, Andrew Salomon discute sobre o poder contagioso do suicídio: “O contágio do suicídio é incontestável. Se uma pessoa comete suicídio, um grupo de amigos ou pares com frequência o seguirá. (…) As mesmas localidades são usadas repetidamente, carregando a maldição daqueles que morreram: a ponte Golden Gate, em San Francisco, o monte Mihara, no Japão, trechos especiais de estradas de ferro, o Empire State Building.” Não posso discordar da sua afirmação, há um rastro de dor que se alastra e é preciso identifica-lo, assimila-lo e aprender a conviver com ele.
Não é fácil, para ninguém. Não é algo para se enfrentar sozinho, pode até aparecer uma ou outra pessoa que conseguiu, mas elas não são a regra e sim a exceção. Procure ajuda, normalmente as faculdades tem centros de psicologia que podem dar um auxilio ou encaminhar outros lugares. O CVV é sempre uma opção. Qualquer coisa fale conosco em uma de nossas redes sociais, só não se cale.
Abaixo uns links que podem ajudar:
TAGS:
CCDicas,
CCdiscussão,
CCListas,
CCSexta,
CCSociedade,
centro de valorização da vida,
CVV,
saúde mental,
setembro amarelo,
suicídio,
Taiany Araujo
0 comentários