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Educação? Vinte anos não foram suficiente para grandes mudanças.

2.8.17Colaboradores CC


Esse texto foi escrito há 20 anos por mim e surgiu durante uma aula de OSPB (disciplina de organização social e política brasileira), por uma frustração com o nosso ensino brasileiro. Mas as ideias se aplicam ainda aos dias de hoje.
Antigamente, cabia à escola fornecer instrução ao aluno, dotando-o de certas técnicas essenciais de comunicação (a leitura e a escrita) e algumas habilidades para resolução de problemas numéricos através de conhecimentos relativos à matemática e dando-lhe algumas informações sobre o meio em que vivia, através de estudos sistemáticos de Geografia, História e Ciências. A criança aprendia por "lições passadas", num estudo árido, inteiramente divorciado da vida.

Hoje, a criança ainda aprende as técnicas fundamentais da leitura, escrita e cálculo, mas essa aprendizagem não tem fim em si mesma; é, antes, um recurso que levará o aluno a viver melhor em seu meio social. A criança aprende para a vida, pela vida, participando de experiências que a levem à auto-realização e ao ajustamento social.


É aí que me questiono qual o papel do professor. Acredito que seja proporcionar aos alunos os ambientes e oportunidades para que participem das experiências individuais, sistemáticas ou ocasionais, necessárias ao desenvolvimento integral do aluno.

Mas sei também que o professor não nasce feito. É necessário uma formação cuidadosa para tonar um indivíduo em mestre. Nós sabemos que ninguém está contente com a escola e que os pais estão preocupados e insatisfeitos, no sentido de que seus filhos não conseguem ter vagas nas escolas, e os que conseguem obtêm resultados ruins, às vezes até reprovados.

Os professores se sentem cansados e frustrados, pois não são valorizados e as condições de trabalho são insuficientes, pois as escolas apresentam classes superlotadas, falta de material didático, programas extensos e complicados, entre outros. Já os alunos sentem que a escola não foi feita para eles, pois a mesma não tem nada a ver com suas vidas de todo dia, afinal dentro delas não há espaço para seus problemas e preocupações.


A escola é vista como uma escada que permite à gente "subir na vida", ou seja, esperam que a mesma cumpra bem o seu papel social, que é dar instruções a todos; assim como eles procuraram a escola para que possam subir na vida, buscando um emprego melhor com um salário melhor.

A lei diz que a escola existe para todos; pois a lei assegura que esta deve ser democrática, mas sabemos que isso não ocorre, pois ela (escola) é reservada a uma pequena minoria, aqueles que detém o "capital", já os filhos de operários ou até mesmo de agricultores não tem acesso, sendo assim, essas classes sociais ficam condenadas ao analfabetismo.

A realidade da escola desmente todas as suas promessas, pois foi comprovado que ela não pode servir de escada para que todos consigam melhorar suas vidas.

E aí que surge em minha mente o porquê do fracasso. São as crianças pobres que fracassam; as crianças pobres são, em sua maioria, excluídas da escola sem qualquer qualificação ou diploma, sem ter aprendido nada de útil para sua vida e seu trabalho. Praticamente a única lição que os anos dentro da escola ensinaram é a se considerarem inferiores aos outros, no caso, os que tiveram sucesso.


Será que as pessoas de classes sociais baixas são menos capazes que os ricos? Essa questão nos leva a outra: "Será que o fracasso ou sucesso só depende dos talentos e méritos de cada um?".

Muita gente, sobretudo professores, continua a ver o fracasso escolar como um fato psicológico, como consequência de um problema individual próprio à criança que fracassa. Em suma é fácil dizer que a culpa é dela mesma se, infelizmente, ela não consegue aprender aquilo que a escola ensina tão bem e que os outros aprendem sem dificuldade. Mas isso não era e não é suficiente para acusar uma criança de "fracassada". Dizem que a culpa é da família da criança, pois se a culpa é de ordem econômico-social (pobreza), os professores, assim como a escola, ficam livres de qualquer responsabilidade. Vemos assim que ela não está preocupada em ajudar todos os alunos a aprender coisas realmente úteis e necessárias. Seu objetivo é só promover aquela minoria de alunos que ela considera mais espertos e capazes de aprender. Os outros que se danem.

(Apesar de que hoje em dia os professores lutam constantemente para conseguir educar à todos, mas muitos alunos se mostram sem a menor vontade de aprender e que somente aparecem na escola porque seus pais não permitem que os mesmos fiquem em casa. No meio da bagunça que fica a sala de aula, os professores só tem a atenção dos alunos interessados.)

Cada um procura se virar como pode. Cada aluno só pensa no seu sucesso pessoal, sem se preocupar com o destino dos outros. Então o que é possível fazer desde já para mudar a escola? Acredito que: um prolongamento do tempo de duração da jornada escolar; adaptação do horário e do calendário escolar às necessidades das crianças que trabalham; distribuição gratuita de todo o material escolar. Essas medidas práticas tem efeitos positivos e imediatos.

(Em relação a jornada se prolongar e a distribuição gratuita de todo o material já serem realidade, ainda há muitos problemas em relação ao material, que demora a chegar, fazendo assim que muitos pais tenham que comprar um caderno - rezando - para durar os próximos meses.)

É importante que os professores assumam que podem errar.

Acredito que abaixo possa explicar o fracasso escolar:

A criança da classe dominante encontrando uma linguagem familiar ao entrar na escola, tenderá a ter ótimo desempenho. Aprenderá com facilidade, terá as melhores notas e conquistará no futuro os melhores títulos universitários (principalmente por ser de uma classe dominante). Já a criança de uma classe dominada, ao entrar na entrar na escola primária, irá se confrontar com uma linguagem que lhe é estranha, terá dificuldades em aprender, as suas notas serão baixas até que, um dia, desmotivada, ou não podendo mais, abandonará a escola.

Com este parágrafo tentei desmistificar a ideia muito comum atualmente que atribui à própria criança e família às causas do fracasso na escola. É afirmado constantemente que a criança pobre, mal alimentada, não é inteligente, que a família desintegrada leva a criança a se desinteressar da escola. A criança pobre não se esforça e não gosta do ensino e por isso, através de suas próprias deficiências, não será capaz de "vencer na vida". Com isso, inocenta-se a escola e se culpa o próprio aluno ou sua família pelo fracasso escolar. E a avaliação do progresso do aluno, como fica?


Em consequência a evolução nos conceitos concernentes a evolução de aprender e aos verdadeiros fins da educação na escola, ampliou-se também o antigo conceito do julgamento do aluno. Não é o bastante testar os seus conhecimentos e habilidade. Não é o bastante atribuir os seus valores quantitativos, por meio de boletins e gráficos. É preciso, mais do que tudo, interpretar seus comportamentos e progressos próprios às suas possibilidades e não apenas em função de rígidos padrões pré-estabelecidos.

A avaliação não despreza os processos usuais de atribuição de valores ao trabalho do aluno. Amplia-os e os absorve, na sua complexidade. Assim, para que o professor consiga um retrato fiel do aluno e possa avaliá-lo, é preciso que se estabeleça um programa de avaliação que é importante para o progresso do mesmo, assim podendo aperfeiçoar os professores e o currículo escolar para uma renovação dos métodos de ensino.


Sobre a autora: Eu me chamo Leticia, tenho 46 anos, bem vívidos, taurina, teimosa como se preza. Mãe de dois adolescentes, o menino com 15 e a menina com 11. Pedagoga de formação e dona de casa que gosta muito de escrever de fato e direito. Qual o papel que mais gosto de desempenhar? Sem dúvida nenhuma, ser mãe! Amo o privilégios de poder acompanhar a vida da galerinha bem de perto. E claro, gorda bem resolvida. Aproveito para agradecer ao Conversa Cult pela oportunidade de me fazer perceber que vinte anos depois, pouquíssimas coisas evoluíram, triste, porém é o que tem para hoje. Nada impede que possamos evoluir. #AprendeQueDóiMenos

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