Quem lê qualquer coisa que uma pessoa tenha escrito, provavelmente não faz ideia sobre como foi o processo, até porque isso varia de pessoa para pessoa. No que diz respeito a mim, escrever post de resenha ou indicação é um parto. Eu tenho muito claro meus sentimentos, na verdade, nem isso eu tenho claro. Começar é difícil, terminar é difícil e o meio seria basicamente algo como “confiem em mim, leia\vejam isso que to indicando”. Dito isso, hoje eu vim fazer um post de indicação (RISOS) e divulgar a palavra de Atypical.
Antes de falar da série, quero falar do meu medo, e que se
for o seu eu já desmistifico agora mesmo. Quando fiquei sabendo sobre o
lançamento pela Netflix de uma série que falaria sobre um adolescente dentro do
espectro autista me tremi toda, e não no bom sentido. Sempre tenho receio de
como questões psicológicas vão ser retratadas, e apesar de essa ser uma área em que não
sou muito familiarizada, alguma coisa eu sei e avista do que foi 13 Reasons Why,
eu estava extremamente receosa do próximo desserviço que estava por vir.
Mas a ociosidade nos faz cometer loucuras para o bem ou para
o mal, e dessa vez foi para o bem (tô agradecendo até agora). Assisti Atypical
em um dia, até porque são apenas 8 episódios de meia hora, já to aqui chorosa
querendo mais e fui no twitter cobrar isso da netflix.
Agora sim, que cargas de série é essa?
Atypical é uma série sobre um garoto de 18 anos que está no
espectro autista (já falo sobre) ou ainda sobre uma família no qual um dos seus
integrantes é neuroatípico, isso porque apesar do Sam (o garoto de 18 anos) ser
o protagonista, a história acompanha toda a família, e nós vamos sendo
inseridos nas suas pequenas tramas paralelas.
Em relação à termologia espectro autista, bom, se você for
atrás de sinopse da série provavelmente vai ver a palavra autista sendo
referida ao Sam, e realmente essa era uma termologia usada, mas a partir de
2014 com a reformulação do Manual diagnóstico e estatístico de transtornos
mentais, transtornos antes chamados de autismo de alto funcionamento, autismo
global, transtorno de Asperger e etc, foram englobados dentro do quadro que
hoje denominamos transtorno do espectro autista. O termo espectro vem pelo fato
das manifestações da condição autista variar muito dependendo da gravidade, do
nível de desenvolvimento e da idade da pessoa.
Apesar de parecer que os criadores da série pegaram as
diferentes características do transtorno e ampliaram e generalizaram, a forma
com que foi desenvolvida a história ainda foi muito sensível. As situações
cômicas não estão ali com a intenção de ridicularizar, e há uma preocupação em
mostrar a família como outra família qualquer, o que não deixa de ser, apesar
do que possa parecer.
Tudo começa quando Sam comenta com sua
psicóloga Julia que gostaria de ser uma pessoa normal que pode
fazer n coisas, inclusive ter uma namorada. Bom, a psicóloga diz que sim,
porque ele não poderia? E é nessa jornada do Sam em arrumar uma namorada que
vamos adentrando na trama e na vida dessa família composta pela mãe, Elsa; o pai, Doug e a irmã, a também
adolescente Casey.
Agora algumas coisas que eu queria comentar:
O ep 6 que pra mim foi o MELHOR EPISODIO. SÉRIO, QUE COISA
LINDA. Sem dar spoilers nem nada, há um discurso, ou melhor, uma proposta tão
simples para inclusão. Me emocionei. Prova de que com um pouco de boa vontade e
disposição a gente muda o mundo. Claro que há gente pra tentar jogar água fria,
mas quem liga para essas pessoas sem amor né não?
A mãe. Que real! Você a entende, fica com raiva dela, torce,
espera que mude, se solidariza, sente empatia, quer dar uns tapas. Essa mulher
existe. É a mulher que se perde como mulher, que é mãe, que é tudo para os
outros, mas nem sabe quem é. Não, não é minha personagem preferida, mas não tenho
como crucifica-la, não consigo.
Obrigada deus por nenhum psicanalista ter dado pitaco nessa
história. As teorias deles com relação ao autismo. ECA
Casey eu escolhi te amar!!!!!
Não entendi a história do retrato lá, porque parecia que
aconteceu com as crianças numa idade de 6 anos talvez e depois eles falam como
se tivesse acontecido quando a Casey era bebê. (?) Fiquei perdida.
Paige é uma grande incógnita, mas gostei tanto dela que
dane-se.
Evan surgiu tão rápido que levei um susto, torcendo para ele
ser melhor desenvolvido, e a irmã também.
Uma coisa que fiquei bem feliz ao assistir a série foi a não
romantização do autismo. Me parece que houve um bum de livros/séries/filmes
sobre questões psicológicas e/ou psiquiátricas, incluo aqui quadros neurológicos
também, e isso é ótimo, quanto mais falamos sobre um assunto, mas o trazemos
para a luz, o problema é que muitas vezes esses assuntos são apresentados de
forma leviana, ao invés de alertar e “educar”, eles embelezam e tornam algo
sério em algo que todo mundo quer ter. Quem não ia querer passar uma semana num hospital psiquiátrico, se divertir, não ter preocupações e ainda sair com uma
namorada? Mas a realidade não é bem essa. É bem longo disso pra falar a
verdade.
Outra coisa que acho, tornou essa série tão especial e legal
pra mim é que apesar do sentimento de empatia que ela gera, você não sai
destruído. Eles conseguem dosar bem o apelo emocional. Pode-se dizer que
Atypical é uma dramédia(?) que vai te deixar querendo mais, não só mais
episódios como mais compreensão sobre o tema.
Eu preciso de um parágrafo para falar sobre a Casey, não dá,
tô apaixonada. Uma das primeiras cenas dela é com ela defendendo uma menina que
tava sofrendo bullying. Sabe aquela história padrão do irmão que é esquecido
por causa de outro que necessita de mais atenção? Essa é a história da irmã
mais nova do Sam, só que longe de ser um personagem meio esquecido, ela ganha
nuances que vai nos cativando e entendo qual o seu papel na trama e na família.
Adorei a relação dele com o irmão, e adorei como a série abordou a tomada de
decisão dela. Porque isso é algo que devo falar sobre a série, cada personagem
se vê em determinado momento tendo que fazer escolhas, e arcar com as
consequências delas. E apesar de meio óbvios quais os caminhos seguidos, a
possibilidade de observar as consequências numa segunda temporada tá me
deixando ansiosa.
Não digo que Atypical é perfeita, mas depois do livro O que me faz pular, escrito por Naoki Higashida, um adolescente dentro do espectro
autista, essa foi à representação mais legal que vi sobre o tema. E caso vocês
se sintam interessados, esse livro que citei é um ÓTIMO caminho para começar.
"Eu sou um estranho, é o que todos dizem."
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Taiany Araujo
2 comentários
Taiany,
ResponderExcluirEu comecei a assistir essa série ontem e foi muito legal! Também gostei, tem o humor na dose certa! E alerta sobre alguns aspectos do autismos que nem sempre a gente conhece!
Abração e parabéns pelo post!
Drica.
Obrigada por seu comentário Drica,e acho que esse é o encanto da série, usar o humor, mas sem perder a seriedade.
ExcluirAbraços