Atypical autismo

Atypical, ainda bem que meu medo foi infundado.

17.8.17Taiany Araujo


Quem lê qualquer coisa que uma pessoa tenha escrito, provavelmente não faz ideia sobre como foi o processo, até porque isso varia de pessoa para pessoa. No que diz respeito a mim, escrever post de resenha ou indicação é um parto. Eu tenho muito claro meus sentimentos, na verdade, nem isso eu tenho claro. Começar é difícil, terminar é difícil e o meio seria basicamente algo como “confiem em mim, leia\vejam isso que to indicando”. Dito isso, hoje eu vim fazer um post de indicação (RISOS) e divulgar a palavra de Atypical.

Antes de falar da série, quero falar do meu medo, e que se for o seu eu já desmistifico agora mesmo. Quando fiquei sabendo sobre o lançamento pela Netflix de uma série que falaria sobre um adolescente dentro do espectro autista me tremi toda, e não no bom sentido. Sempre tenho receio de como questões psicológicas vão ser retratadas, e apesar de essa ser uma área em que não sou muito familiarizada, alguma coisa eu sei e avista do que foi 13 Reasons Why, eu estava extremamente receosa do próximo desserviço que estava por vir.

Mas a ociosidade nos faz cometer loucuras para o bem ou para o mal, e dessa vez foi para o bem (tô agradecendo até agora). Assisti Atypical em um dia, até porque são apenas 8 episódios de meia hora, já to aqui chorosa querendo mais e fui no twitter cobrar isso da netflix.

Agora sim, que cargas de série é essa?

Atypical é uma série sobre um garoto de 18 anos que está no espectro autista (já falo sobre) ou ainda sobre uma família no qual um dos seus integrantes é neuroatípico, isso porque apesar do Sam (o garoto de 18 anos) ser o protagonista, a história acompanha toda a família, e nós vamos sendo inseridos nas suas pequenas tramas paralelas.


Em relação à termologia espectro autista, bom, se você for atrás de sinopse da série provavelmente vai ver a palavra autista sendo referida ao Sam, e realmente essa era uma termologia usada, mas a partir de 2014 com a reformulação do Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais, transtornos antes chamados de autismo de alto funcionamento, autismo global, transtorno de Asperger e etc, foram englobados dentro do quadro que hoje denominamos transtorno do espectro autista. O termo espectro vem pelo fato das manifestações da condição autista variar muito dependendo da gravidade, do nível de desenvolvimento e da idade da pessoa.

Apesar de parecer que os criadores da série pegaram as diferentes características do transtorno e ampliaram e generalizaram, a forma com que foi desenvolvida a história ainda foi muito sensível. As situações cômicas não estão ali com a intenção de ridicularizar, e há uma preocupação em mostrar a família como outra família qualquer, o que não deixa de ser, apesar do que possa parecer.

Tudo começa quando Sam comenta com sua psicóloga Julia que gostaria de ser uma pessoa normal que pode fazer n coisas, inclusive ter uma namorada. Bom, a psicóloga diz que sim, porque ele não poderia? E é nessa jornada do Sam em arrumar uma namorada que vamos adentrando na trama e na vida dessa família composta pela mãe, Elsa; o pai, Doug  e a irmã, a também adolescente Casey.


Agora algumas coisas que eu queria comentar:

O ep 6 que pra mim foi o MELHOR EPISODIO. SÉRIO, QUE COISA LINDA. Sem dar spoilers nem nada, há um discurso, ou melhor, uma proposta tão simples para inclusão. Me emocionei. Prova de que com um pouco de boa vontade e disposição a gente muda o mundo. Claro que há gente pra tentar jogar água fria, mas quem liga para essas pessoas sem amor né não?

A mãe. Que real! Você a entende, fica com raiva dela, torce, espera que mude, se solidariza, sente empatia, quer dar uns tapas. Essa mulher existe. É a mulher que se perde como mulher, que é mãe, que é tudo para os outros, mas nem sabe quem é. Não, não é minha personagem preferida, mas não tenho como crucifica-la, não consigo.

Obrigada deus por nenhum psicanalista ter dado pitaco nessa história. As teorias deles com relação ao autismo. ECA

Casey eu escolhi te amar!!!!!

Não entendi a história do retrato lá, porque parecia que aconteceu com as crianças numa idade de 6 anos talvez e depois eles falam como se tivesse acontecido quando a Casey era bebê. (?) Fiquei perdida.

Paige é uma grande incógnita, mas gostei tanto dela que dane-se.

Evan surgiu tão rápido que levei um susto, torcendo para ele ser melhor desenvolvido, e a irmã também.

E por fim, Zahid, o romântico.


Casey, a irmã. 

Uma coisa que fiquei bem feliz ao assistir a série foi a não romantização do autismo. Me parece que houve um bum de livros/séries/filmes sobre questões psicológicas e/ou psiquiátricas, incluo aqui quadros neurológicos também, e isso é ótimo, quanto mais falamos sobre um assunto, mas o trazemos para a luz, o problema é que muitas vezes esses assuntos são apresentados de forma leviana, ao invés de alertar e “educar”, eles embelezam e tornam algo sério em algo que todo mundo quer ter. Quem não ia querer passar uma semana num hospital psiquiátrico, se divertir, não ter preocupações e ainda sair com uma namorada? Mas a realidade não é bem essa. É bem longo disso pra falar a verdade.

Outra coisa que acho, tornou essa série tão especial e legal pra mim é que apesar do sentimento de empatia que ela gera, você não sai destruído. Eles conseguem dosar bem o apelo emocional. Pode-se dizer que Atypical é uma dramédia(?) que vai te deixar querendo mais, não só mais episódios como mais compreensão sobre o tema.

Eu preciso de um parágrafo para falar sobre a Casey, não dá, tô apaixonada. Uma das primeiras cenas dela é com ela defendendo uma menina que tava sofrendo bullying. Sabe aquela história padrão do irmão que é esquecido por causa de outro que necessita de mais atenção? Essa é a história da irmã mais nova do Sam, só que longe de ser um personagem meio esquecido, ela ganha nuances que vai nos cativando e entendo qual o seu papel na trama e na família. Adorei a relação dele com o irmão, e adorei como a série abordou a tomada de decisão dela. Porque isso é algo que devo falar sobre a série, cada personagem se vê em determinado momento tendo que fazer escolhas, e arcar com as consequências delas. E apesar de meio óbvios quais os caminhos seguidos, a possibilidade de observar as consequências numa segunda temporada tá me deixando ansiosa.


Não digo que Atypical é perfeita, mas depois do livro O que me faz pular, escrito por Naoki Higashida, um adolescente dentro do espectro autista, essa foi à representação mais legal que vi sobre o tema. E caso vocês se sintam interessados, esse livro que citei é um ÓTIMO caminho para começar.

"Eu sou um estranho, é o que todos dizem."






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2 comentários

  1. Taiany,
    Eu comecei a assistir essa série ontem e foi muito legal! Também gostei, tem o humor na dose certa! E alerta sobre alguns aspectos do autismos que nem sempre a gente conhece!
    Abração e parabéns pelo post!
    Drica.

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    Respostas
    1. Obrigada por seu comentário Drica,e acho que esse é o encanto da série, usar o humor, mas sem perder a seriedade.

      Abraços

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