Em 1997, Kevin Smith tinha lançado alguns filmes de comédia como O Balconista e Barrados No Shopping. Os dois se passavam num mesmo universo - o View Askewniverse - e eram caracteristicamente engraçados e descontraídos, mas também jovens.
Eis que ele lança Procura-se Amy, e quem esperava uma comédia nos mesmos moldes de seus filmes anteriores ficaria muito surpreso - ou até mesmo decepcionado.
O filme, que completou 20 anos de lançamento no dia 4 de abril, conta a história de dois autores de quadrinhos - Holden (Ben Affleck) e Alyssa (Joey Lauren Adams) - e seu relacionamento complexo. Usei o termo "relacionamento" aqui de forma bem ampla, porque Holden se apaixona por Alyssa mesmo sabendo que ela é lésbica.
Talvez o mais interessante do filme seja a maneira como ele explorou, lá em 1997, as questões de sexualidade. Se atualmente falamos muito que a sexualidade é uma coisa cinza que pode mudar e ser explorada, que rótulos não são muito adequados, na época era ainda mais tabu.
Smith consegue, com uma maestria incrível, falar sobre a confusão de sentimentos que é o ser humano. Entre comentários homofóbicos de Holden e uma cena em que Alyssa grita que ela é lésbica e a paixonite dele não vai mudar isso, o filme trata bastante das expectativas que os homens heterossexuais têm com relação à sexualidade - seja a deles próprios ou a de outras pessoas.
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Outra questão abordada no filme é o sexismo existente na indústria nerd - e, acima de tudo, na indústria dos quadrinhos.
Os diálogos dos personagens são muito sinceros e profundos, e até aqueles que não costumam falar no Askewniverse dão conselhos incríveis que, não nego, me fazem chorar todas as vezes que vejo esse filme.
Procura-se Amy faz um trabalho ótimo de mostrar como é difícil, às vezes, definir a sua orientação sexual, e como às vezes a questão romântica complica tudo. Para mim, um ponto que gosto muito no filme é o Banky (interpretado pelo Jason Lee), que começa sendo um babaca homofóbico cheio de opiniões, e termina o filme de uma forma que eu jamais poderia imaginar.
Ok, mas nunca vi esse filme
Se meu textão não estiver sendo o suficiente para te convencer a parar tudo e ir assistir esse filme, confie quando eu digo que ele é extremamente atual. Os discursos, as questões, são tão humanas e tão pessoais que é praticamente impossível ele se tornar um filme datado.
Nós, humanos, somos tão complexos e tão complicados! E Kevin Smith fala disso de uma forma tão gostosa e tão maravilhosa que eu sinto vontade de mostrar esse filme para todo mundo que conheço.
É possível que você se identifique com uma ou outra cena - ou várias - do filme, ou passe a repensar alguns conceitos. Tudo bem. Procura-se Amy está aí há 20 anos sendo relevante justamente por isso.
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