Pra variar, fui escrever uma resenha e escrevi 50 posts. Esse aqui é sobre a minha parte preferida do filme: os Rangers. Mas também acho que nem é a minha parte preferida, eu acho que eles literalmente buscaram fazer um filme sobre isso e, se você entender essa parte, vai aproveitar o filme pelo que ele é. Vamos lá.
Cheguei lá, cinema meio vazio no dia da estreia, ok.
E aí...........
Aí........
O filme começa com uns efeito muito tronxo.
Começa com mulher morrendo.
Começa com piada gay.
Começa focado no garoto branco popular fazendo merda porque pode (aka. Jason) (aka. Ranger Vermelho).
Eu já tava meio assim:
Aí aparece a Kim (Ranger Rosa) e ela já chega sob o olhar do Jason (aka. romance f/m desenvolvido em 3 segundos de filme).
E a Kim é a Garota Popular que começa a história com umas garotas bem Meninas Malvadas sacaneando ela. Yeeeeeey. Adoro ver rivalidade entre garotas em filme, é disso que a gente precisa!!!111!!! (isso é sarcasmo)
Então aparece o Billy.
Billy.
Ele tem autismo no filme, mas a parte principal é que o ator RJ Cyler e o personagem são muito bons. Billy salvou totalmente a primeira parte do filme de Power Rangers.
Não vou contar o que acontece, mas ele é que acaba envolvendo o Jason na trama de virar Power Ranger.
Uma coisa interessante é que o Billy, o jeito dele diferente por causa do autismo, não é usado pra piada desnecessariamente. A gente ri, mas não ri DELE. O filme não usa o fato dele ser autista como algo que o desvaloriza, mas como algo que o empodera. O Billy também não tá ali só pra servir ao Jason. (eu não sou autista e não posso falar por representatividade de autismo, muito menos de garotos negros, então se você vê problema, sinta-se livre para falar)
Eu só sei que eu fico lembrando da Holtzmann de Caça-Fantasmas, que muita gente faz headcanon dela tendo autismo, mas aqui não é só subtexto, não. Ele fala com todas as palavras. É uma representatividade com intenção de ser representatividade.
Aliás, foi isso que começou a me chamar atenção no filme
Billy, Kim, Zack, Jason e Trini |
Power Rangers não usa representatividade como token. Eu acho que até o fato de que eles colocaram o garoto negro sendo o Ranger Azul em vez do Ranger Preto mostra que eles pararam pra pensar antes. E posso falar que a vilã do filme ainda é uma mulher? Eles fizeram de primeira o que a Marvel vai fazer, sei lá, em 2020. Não soa como gente colocando coisa ali só pra colocar, soa como gente que entende os padrões tóxicos e falou "não, eu quero fazer diferente" e em cada detalhe trabalha pra fazer diferente. Power Rangers é o que X-Men deveria ser, mas nunca foi.
Mas vamos continuar.
Antes do filme e por uma boa parte do filme, eu achei que essa seria mais uma história centrada no Jason com os outros como auxiliares (tipo acontece em Guardiões da Galáxia). Não dá pra explicar isso rápido se você não entende, mas a questão é que normalmente as histórias são montadas pra beneficiar e celebrar o protagonista homem branco. Tudo o que acontece é por causa dele, pra mover a história DELE e os outros personagens por mais que tenham o momento da fama, ainda são secundários. Só que Power Rangers não. Mesmo com Jason ainda sendo o "líder" e principal, eles não rebaixam nem deixam os outros personagens impotentes pra ele salvar o dia. Essa é a parte mais poderosa de Power Rangers.
Tipo, a primeira parte do filme é centrada no Jason e na Kim - só que também no Billy. Eu fiquei esperando o momento que ele ia ser inferior, que ia ficar pra trás, mas não chegou. Você sente o Billy como protagonista da história e, graças ao personagem, é o mais interessante ali.
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UMA PAUSA AQUI COM SPOILERS NÃO LEIA ISSO SE VOCÊ NÃO ASSISTIU O FILME. SÉRIO.
Agora, tem algo que a gente tem que tomar cuidado. Existe uma outra razão pela qual o Billy pode ter ganhado tanto espaço - que é o que acontece com ele perto do final. Eu escrevi ano passado aqui "Personagens negros morrem mais?" e esse é um problema que afeta todas minorias, inclusive um dos medos que eu tive do filme é de que, fazendo a personagem Amarelo questionar a própria sexualidade, eles iam fazer o trope Bury Your Gays (aka. ela ia morrer). E sempre que vão matar um personagem, eles dão espaço pra ele ser adorado pra gente poder ficar triste. Ou seja, pode ser que todo o espaço que deram pra o Billy tenha sido construção da morte emocionante dele. Mas eles reverteram o trope. Não só isso, mas em um momento poderoso de "eu morreria por você" e um homem branco dando a própria vida por ele. Isso é importante - mostrar todo mundo se importando com a vida de um garoto negro? Dando a vida pra ele sobreviver? Importante. Ou seja, 50/50, só vendo o próximo filme pra saber.
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Mas e a Trini (Ranger Amarelo) e o Zack (Ranger Preto)? Eles quase não aparecem na primeira parte, então eu pensei "ok, é só sobre os 3 e esses 2 vão ficar de fora".
Power Rangers pra mim:
Na segunda parte do filme eles não só são desenvolvidos, como eles protagonizam trechos próprios.
Tem um negócio chamado "Síndrome Trinity" em filmes, onde você tem mulheres fodas pra dizer que são fodas que não chegam a fazer algo de fato, mas em Power Rangers a Trini faz (e apesar da Síndrome Trinity ser sobre mulher, o Zack sendo chinês também sofre com isso). Pra completar, ainda acontecem umas coisas que tornam a Kim e o Jason personagens de fato interessantes, quebrando aquela ideia inicial que eu tive.
Ah. E o romance? Eles cortaram. No primeiro trailer tinha uma cena da Kim e o Jason se beijando que não está no filme. Eles perceberam que era melhor dar o tempo pra desenvolver outras coisas, eles decidiram ir devagar. Pra mim, isso é outra prova de como o criadores do filme têm consciência da prioridade, que é desenvolver cada Ranger como indivíduo, em vez de se render a pressões do "que tem que ter". Até tipo os últimos filmes do Capitão América, que ele não tem romance, eles fazem questão de enfiar um beijo em uma mulher sobre pra afirmar a Heterossexualidade™. Power Rangers tá tipo "foda-se. ah, e olha essa aqui que realmente tá questionando a própria sexualidade."
Então no fim ainda tem uma hierarquia de protagonismo, mas todo Ranger tem sua história desenvolvida, tem relevância e você sente que todos são super-heróis de verdade.
É tipo Vingadores, mas em vez de nenhuma mulher relevante entre os 4 principais, você tem 2. E elas são tão poderosas quanto os outros.
O filme se esforça pra mostrar isso, ele até mesmo se esforça pra mostrar a Trini e a Kim como amigas, passando tempo juntas e se unindo. Até mesmo no início quando elas nem se conhecem, mas acontece uma merda, elas correm juntas enquanto todo mundo se separa e, mesmo sendo um detalhe pequeno, pra mim foi importante.
Então acho que o que torna esse Power Rangers especial, é como eles tratam os personagens, o tempo que o filme dedica pra desenvolver cada um e mostrá-los como pessoas. Eles tendo que passar tempo junto e interagir. É diferente do que eu tenho visto até aqui. Por exemplo, Esquadrão Suicida é um filme que perde um tempão no início apresentando personagem, mas é tipo FULANO - ELE MATA GENTE ASSIM. Efeitos legais, cara, mas ainda não me importo com esse personagem. Ou Rogue One, que o grupo se une muito mais por função narrativa e a gente até vê eles interagindo, mas no meio do correria. Essa foi uma das coisas que eu comentei sobre o filme, aliás, como eu queria ter tido mais tempo pra ver esse grupo existindo como pessoas. Em Vingadores, isso não acontece tanto porque a gente já tem 92382398 filmes de cada super-herói e sabe quem eles são, mas o resultado é que ainda acaba sendo um filme sobre SUPER-HERÓIS EM UMA MISSÃO e não muito eles existindo.
Até mesmo o último Ghostbusters, que foi bem legal, mas ainda é centrado no mistério e a caracterização de personagens como a Holtzmann e a Patty é mais uma cena engraçada no fundo ou um momento de ação. Quem elas são? O que é importante pra elas como pessoas? Qual é o desenvolvimento real?
Não tô dizendo que Power Rangers é melhor do que todos esses filmes, mas que ele me deu algo que eu queria e ninguém tinha me dado: personagens. Uma história centrada neles. Uma história onde a gente pode vê-los sendo amigos, tendo momentos e onde o fato de ser Power Ranger tem um impacto diferente na narrativa de cada um. Esse tipo de desenvolvimento de personagem é algo que a gente raramente vê em filme, sendo mais comum de série, porque filme é tipo CHEGAMOS. ESSA É AÇÃO. ESSE É O PLANO. SALVA O DIA. CORRE. CORRE. MATA O VILÃO. NÃO MATA. PRECISA CORRER. SEM TEMPO PRA PENSAR. PRA SER ALGUÉM. FAZ UMA PIADA. ISSO. AGORA VAAAAAAAAAAI.
Aliás, acho que essa é uma das coisas que favoreceu Logan também - o filme trabalhou muito mais o aspecto humano do Wolverine, do professor Xavier e até da garotinha que passa metade do filme sem falar e ainda assim é o destaque de toda cena. Aquela cena deles na casa de uma família, por exemplo, tá ali pra eles experimentarem o que é ter uma vida normal. [clique aqui e veja meus textos sobre Logan] Acho que eu tenho sentido muita falta disso nesse espaço saturado de histórias de super-heróis e grupos de amigos.
o filme de Legados de Lorien (que presta) que eu nunca tive |
E Power Rangers me deu.
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3 comentários
De longe parece um filme trash horrível, mas acabei de decidir que QUERO. Obrigado :)
ResponderExcluir[2]
ExcluirAHGUFDHGIUDFHGIDFHGIHFDIGHD
Quando eu vi o trailer no cinema fiquei tipo "porra, de novo aquele lance de "poder sem limites"? chegaaa" e aí eu vi que era POWER RANGERS, foi chocante. Mas ainda não queria ver.
AGORA EU QUERO
Eu adorava Power Rangers quando criança, tinha pijama, aqueles bonequinhos que viravam a cabeça ora a pessoa comum ora um ranger, eu SEMPRE era a ranger rosa nas brincadeiras...não posso falar que acompanhei a série toda pq via na tv aberta e era ela quem decidia, de toda forma, eu adorava esse universo. Ai eu cresci e isso meio que passou, e quando surgiu que ia ter filme eu nem dei muita bola. Depois de ler esse post, QUEROOOOOOOOO QUE SAUDADE, MEU DEUS, SERÁ QUE EU LEMBRO AINDA DAS COISAS?
ResponderExcluirObrigada por esse post, e por ter me trago de volta o sonho de acordar e descobri que eu sou a nova ranger rosa e eu preciso fazer as coisas que eu preciso fazer.