Enquanto seus pais e irmã são impiedosamente assassinados por um misterioso homem chamado Jack, um bebê consegue escapar de seu berço e se aventurar pelo mundo. Uma série de coincidências, aliada a uma grande dose de sorte, salva o pequeno de ter um destino tão trágico quanto o de sua família. (...) Com um começo sombrio e violento, diferente do seu habitual, o escritor inglês provoca arrepios no leitor. A história do bebê sortudo e fujão começa quando ele chega à rua e sobe a colina em direção ao velho cemitério. Ele é perseguido pelo assassino de seus familiares, o homem chamado Jack. Já dentro do cemitério o neném conhece os habitantes do local. Fantasmas de outras épocas que vivem em suas covas e mausoléus e que por circunstâncias do destino são forçados a adotar e batizar o bebê, agora chamado de Ninguém Owens, o Nin, para salvá-lo do seu perseguidor.
Primeiramente devo dizer que adorei o nome Ninguém Owens para o garoto e até gostaria de colocar esse nome se tivesse um filho homem, mas acho que ele não entenderia se eu fizesse isso, então é melhor escolher um nome mais comum.
A descrição ou sinopse ou como se chame aquilo que vem escrito na orelha do livro é tão perfeita como só o Neil Gaiman consegue fazer, deixando o espectador ansioso e causando arrepios ao mesmo tempo. E apesar do aparente clima mórbido do livro, que pode afastar algumas pessoas uma vez que ele é infanto-junevil, é preciso dizer que Gaiman ultrapassa essa definição de categorias, suas histórias possuem a incrível capacidade de nos atingir no mais profundo de nós mesmos. Ou seja, muito além de suas ambientações, essas histórias sintetizam aprendizados importantes para todas as idades.
“Você
é sempre você, isso não muda, mas estamos sempre mudando e não há nada que se
possa fazer a respeito disso.”
Ao
longo desse livro você cresce junto com o bebezinho que escapa por um triz da morte,
e descobre que a morte é uma bela Dama de Cinza, que os mortos também têm
sonhos, tristezas e coisas pra contar, e principalmente, tirando uma citação do
próprio livro, você descobre que “a aventura mais perigosa (...) é sobreviver”.
Nós por vezes só estamos aqui, mas Neil Gaiman vai nos mostrar que existir traz consequências e responsabilidades, até mesmo viver nas sombras terá um preço, então
é bom estar ciente de como nós estamos afetando o mundo, mesmo esse pequeno
mundo que nos cerca.
“Você
está vivo, Nin. Isso quer dizer que tem potencial infinito. Pode fazer qualquer
coisa, construir qualquer coisa, sonhar qualquer coisa. Se muda o mundo, o
mundo mudará. Potencial. Depois que estiver morto, acabou-se. Foi-se. Você fez
o que fez, sonhou seus sonhos, escreveu seu nome. Pode ser enterrado aqui, pode
até andar. Mas o potencial foi encerrado."
O
livro começa de uma maneira sombria que pode desagradar algumas pessoas, no entanto,
ao lê-lo o que nos salta aos olhos é seu tom melancólico e inocente de criança,
cuja sobriedade não consegue alcançar. Ele nos conta a história de Ninguém Owens
ou Nin ou Nimini para uma única pessoa, se é que se pode chamar assim um Sabujo
de Deus, um menino que cresceu num cemitério criado pelos fantasmas dos mortos
lá enterrados e protegido por um guardião, que longe de deixar o enredo
irrealista demais, nos apresenta uma humanidade em cada morto e tom de cinza
presentes no livro. Pode-se dizer que a grande ironia dessa obra é o fato da
vida geralmente terminar num cemitério, mas aqui, ele é o ponto de partida, o
lugar onde de fato a vida de Nin começa.
Uma
coisa que acho muito legal na história é o fato dela enfatizar que nós somos
tudo aquilo que aprendemos, as pessoas que conhecemos e as que ainda vamos
conhecer. Um lugar não diz respeito a nós, mas que nós mesmos. Não existe para
onde correr a não ser encarar as coisas que precisam ser encaradas.
“É como as pessoas que acreditam que serão mais felizes se elas se mudarem para outro lugar, mas logo percebem que não é bem assim que funciona, para onde quer que você vá, leva a si mesmo.”
Há
também um presentinho à parte para os leitores, além das ilustrações primorosas
de Dave McKean, os epitáfios citados de algumas lápides nos fazem refletir
sobre morte e vida de uma forma totalmente nova. E se isso não fosse o
suficiente, Gaiman ainda faz umas referencias bem legais que você precisa pegar
nas entrelinhas, como por exemplo, o homem chamado Jack.
Por fim,
devo dizer que pra quem nunca foi muito chegada em cemitérios e nunca entrou em
um, se sentir em casa no cemitério da Cidade Velha é surpreendente.
NOTA:
Por que esse livro é MARAVILHOSO |
FICHA TÉCNICA
Meus mais sinceros agradecimento a Rocco por ter publicado esse livro incrível e ainda ter cedido para nós <<<3
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O livro do cemitério,
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Taiany Araujo
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