Sabe, eu sou mulher, e eu não sofri violência doméstica
Eu sou mulher e quando fui escrever o post sobre a série Sweet/Vicious, eu não me sentia confortável pra falar se é um bom relato de estupro, porque eu nunca fui estuprada
Eu sou mulher e eu não sou negra
Eu sou mulher e eu não sou assexual
Eu sou mulher e não sou extrovertida
Eu sou mulher e eu não sou trans
Eu sou mulher e por muito tempo não menstruei também
Eu sou mulher e não sou magra
Eu sou mulher e nunca entrei pra o exército
Eu sou mulher e acho que nunca fui vista como puta
Eu sou mulher e nunca fui casada
Eu sou mulher e nunca fui delicada
Eu sou mulher e não me interesso por ciência/biologia (pelo menos não detalhadamente, não como uma carreira, não pela ideia de ser uma médica e ter que cuidar dos outros!!!)
Eu sou mulher e não sei nada de maquiagem
Eu sou mulher e não quero ficar grávida de jeito nenhum (apesar da ideia de ter filhos ser ok)
Eu sou mulher e eu não sou um monte de coisas que outras mulheres são
E nós somos todas mulheres da nossa própria forma.
Se eu vou deixar alguma coisinha aqui nesse 8 de março, é um lembrete de que mesmo sendo mulher e tendo a minha experiência como mulher, ainda existem muitas mulheres que não são eu, com experiências e necessidades de vida relacionadas ao fato de ser mulher, que são diferentes da minha versão de ser mulher.
Nós somos unidas por semelhanças, nós devemos trabalhar na irmandade, mas também criar um ambiente onde todas as nossas diferenças sejam respeitadas e necessidades específicas consideradas.
Talvez celebrar não todas as mulheres, mas cada uma delas.
Eu não digo isso porque "ah, eu não sou como as outras mulheres", no estilo A Garota Diferentona e reduzindo as outras mulheres, plmdds, mas como "nem todas as mulheres não são como eu".
Eu digo isso porque mais de uma vez nos últimos tempos, eu tive oportunidade de falar como mulher sobre um "assunto de mulher", só que na verdade eram experiências das quais eu nem vivi. Ainda como mulher eu tenho mais propriedade pra falar, mas eu não posso falar por todas nós e eu não posso falar por experiências que não são minhas, mesmo que sejam de outras mulheres.
Eu digo isso porque uma vez saiu uma reportagem sobre o "corpo de homem" da Ronda Rousey - e não, corpo musculoso é corpo de mulher. O que faz um corpo ser de mulher é uma mulher ter esse corpo.
Eu digo isso porque o feminismo branco está aqui - tire esse dia pra ler sobre o assunto.
Eu digo isso porque é importante lembrar, inclusive pra mim mesma, que minha noção do que é ser mulher (e as minhas necessidades) não representa todas as mulheres e quando eu falo como mulher por todas as mulheres, eu estou passando por cima e desvalidando a vida de outras mulheres.
Eu digo isso porque eu quero aprender a celebrar outras mulheres que não sou eu.
Termino com as palavras da Viola Davis:
"Não viva a vida de outra pessoa e nem a ideia de outra pessoa do que é ser mulher."
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