anos 80
Begin Again
[Resenha] Sing Street, um filme sobre formar uma banda nos anos 80
4.1.17Dana Martins
Um filme sobre um garoto que por causa da crise no país e até dentro de família é obrigado a mudar para uma escola cristã que o lema é "seja homem de verdade". Ou seja, um bando de garotos exercendo a masculinidade tóxica ao máximo e com regras que devem seguir a risca, tipo usar tênis preto mesmo que o garoto não tenha dinheiro pra comprar um novo.
No meio disso, ele vê uma garota que sempre fica parada na rua e que não fala com nenhum dos garotos da idade dele, então ele decide ir até lá pra ser o diferentão. Ele consegue a atenção da garota com um convite para ela atuar no clipe da banda dele. O problema: ele não tem uma banda.
tem no netflix |
Acho que no geral, o que você precisa saber pra assistir esse filme é que Sing Street é do mesmo criador de Once e Begin Again (Mesmo Se Nada Der Certo). Se você gosta desses filmes, já vai assistir Sing Street em paz que não precisa de mais nada* (tem um trigger warning pra o filme mais abaixo). Se você nem conhece esses filmes, faça um favor a si mesmo e vá assistir Begin Again, depois Once e aí volte aqui. Ou... comece direto por aqui, você que sabe.
Em uma entrevista com o diretor, eu encontrei um quote que resume esses filmes:
"[eles são diferentes] mas todos os três filmes lidam com um tema similar: o poder que a música tem de comunicar emoção, e até de entrar no lugar de conversas. Em todos os três filmes, os personagens compartilham músicas para comunicar coisas que eles não podem dizer, ou sabem que não deveriam."
Eu gosto muito desses filmes justamente pela música, como ela faz parte da vida dos personagens e toda a parte sobre criação me atrai. Amo/sou Begin Again e ver os personagens fazer música em Sing Street me lembrou de quando eu sentava com meu primo pra fazer música também, era igualzinho!!! Eu sinto falta dessas coisas.
Além disso, Sing Street se diferencia dos outros por ser mais voltado pra década de 80, então também é uma jornada pelas bandas da época conforme o protagonista aprende sobre elas pra encontrar o próprio estilo. Até mesmo as roupas do personagem, da banda, vai mudando a cada artista que eles encontram e isso é beeem legal.
Também tem alguns quotes que eu adorei:
"O Sex Pistols sabia como tocar? Você não precisa saber como tocar. Quem você é, o Steely Dan? Você precisa aprender a como NÃO tocar, Conor. Esse é o truque. Isso é rock and roll. E pra ISSO... você precisa de prática."
"Rock and roll é risco. Você arrisca ser ridicularizado."
Uma coisa meio aleatória, mas que eu gostei em Sing Street, é que foca mais nas bandas de rock da época. E daí? E daí que a gente tá tendo muito revival de coisa dos anos 80 (pensa em San Junipero, por exemplo), só que até agora tudo o que eu vi foi mais voltado para o pop. Eu nem sabia que tinha tanta diferença assim. HUAHUAH Mas de qualquer forma, é uma partezinha dos anos 80 legal de ver.
Pra completar, o filme também esbarra por essa questão da masculinidade - sério, desde o início isso é focado. O tempo inteiro tão usando "gay" como xingamento na história, a banda deles é chamada de "queer" e tem até uma cena de abuso pela forma como o garoto se veste (aliás, Trigger Warning aqui). Tipo, uma coisa que não dá pra negar é que o filme é cruelmente da perspectiva do homem hétero cis. Acho que é libertador, na questão da masculinidade.
O protagonista usa maquiagem e em um momento canta:
"Você acha que é homem o bastante
Pra tirar a maquiagem do meu rosto agora?"
Ou seja, é um filme que busca se revoltar contra os padrões de masculinidade, o que tem até a ver com a música da época.
Mas por outro, só é bom pra homem mesmo. A homofobia e até transfobia é apresentada amplamente sem ser abordada.
E praticamente a única garota do filme é só um objeto brilhante, uma musa, um troféu ou a justificativa pra ter alguma história.
Aliás, até lembrei que quando eu abri no Netflix pra ver Sing Street, até precisei de um momento pra recuperar com a foto que abriu mostrando tanto garoto. Uns 6? Acho que o filme só tem umas 3 ou 4 mulheres, a maioria meio miserável por causa de homem e essa garota principal aparentemente precisa de um homem chegar pra realizar os sonhos dela. Mas ela ainda é uma das melhores, se não a melhor, personagem do filme.
E a garota que faz parece tanto a vocalista do Echosmith que fiquei até assustada. HAUHAUHAUHAUH
Tem um garoto negro no filme que o único papel dele é ficar no fundo da banda, provavelmente pra, como os próprios garotos dizem, "vamos colocar um garoto negro aqui que vai ser o nosso diferencial".
Fora isso, vale comentar que todas as letras do Sing Street (que também é o nome da banda), foram escritas pelo Gary Clark Jr.
Bem, isso é o que eu tenho pra falar. Foi um filme rápido e legal de assistir, pra quem gosta de música e procura algo inspirador. Se você esquecer que qualquer pessoa além de homem branco hétero existe, dá pra assistir na boa. ha ha
--------------------
Aproveitando pra indicar o Batdrama, que é a newsletter semanal que eu escrevo, é só clicar nesse link pra se inscrever. Lá eu compartilho as minhas descobertas da semana, links tipo esse e comentários menores que não cabem em um post. É sobre cultura pop, representatividade, escrita e a vida.
TAGS:
anos 80,
Begin Again,
CCFilmes,
CCResenhas,
Dana Martins,
Música,
once,
resenha,
resumo,
rock,
Sing Street
2 comentários
Não sei se é alguma novidade pra vc, mas tente ouvir o podcast @LETRACAST do Flavio! Se gosta de musica, historias de musica, criação, etc... vc vai viciar!
ResponderExcluirNossa adorei sua resenha, falou tudo que pensei sobre a questão do único negro de enfeite lá, da garota principal super musificada (apesar de ter alguma atitude), e da questão bad vibes daqueles padres. Mas eu amei muito eles fazendo as músicas também.
ResponderExcluir