Quero que saiba que estou torcendo por
você.
Eu quase nunca entro no email do blog.
Eis que entrei e vi que tínhamos um email da Companhia das letras com os livros
que podíamos pedir de parceria. Resolvi dá uma olhada e li a sinopse de um
chamado Juntando os pedaços. EU QUERIA ESSE LIVRO, EU VI O FILME DA MINHA VIDA
PASSADO COM A SINOPSE DESSE LIVRO. Corri lá no grupo pra falar que queria o
livro, a Bells já tinha pedido ai à gente entrou num consenso e o livro ia
ficar pra mim mesmo, ok.
Tempos depois chega o correio na minha
casa com um livro que eu não fazia ideia de quem tinha pedido (já havia
esquecido que EU queria um livro da Cia), mas ao abrir e ler a sinopse fiquei
pulando loucamente porque era meu, só meu, todo meu.
quando eu percebo que o livro é pra mim |
Até esse momento ainda não tinha me
ligado no autor do dito livro, então imaginem meu medo quando descobri que esse
era o mais novo livro da Jennifer Niven. Essa mulher me destruiu com Por Lugares Incríveis e apesar de ter amado a história, eu não sabia se estava
pronta para mais uma montanha-russa de emoções, choro, esperança e desesperança
e mais todos os outros sentimentos que ler uma história contada por ela me
gerou.
Segundo a autora, ela escreveu
Juntando os Pedaços como uma resposta a todos que escreveram para a ela depois
de Por Lugares Incríveis, como uma forma de dizer o quanto cada um de nós é
importante, querido e amado. Ela havia respondido a cada pedido, havia repetido
tantas vezes o quão aquelas pessoas eram especiais. Então ela resolveu escrever
sobre isso. Uma história que falasse de pessoas com problemas, que lutam com
suas questões, que enfrentam coisas duras. A própria Niven estava lutando com o
luto pela morte da mãe, com fato de esse ser o primeiro livro que a mãe não leria dela.
Cada um de nós enfrenta coisas difíceis na vida, com esse livro ela veio nos
apresentar duas pessoas e como elas lidaram com essas coisas difíceis.
Junte um pedaço de amizade com outro
de autoaceitação, mais outro de amor e ainda um de esperança — todos juntos
compõem a história de Libby e Jack.
Eles são tão a Libby e o Jack, e essas duas imagens então <3 |
O livro segue a história de dois adolescentes de dois mundos diferentes. De um lado temos Libby Strout que finalmente encontrou a coragem de voltar para a escola depois de ter sido educada em casa por quatros anos por causa de seu problema de peso causado pelo estresse pós-morte da sua mãe. Comer tornou-se seu mecanismo de defesa, uma maneira de controlar a dor pela perda da mãe, o problema é que isso não só fez com que ela fosse reconhecida como a garota mais gorda dos EUA, como também que ela ficasse presa dentro de casa e precisasse ser retirada com a ajuda de um guindaste. Depois desse fato, a Libby e o pai perceberam que precisavam de ajuda, médica e psicológica. Agora, ela está bem, emagreceu, e apesar de ainda precisar perder 90 quilos, tá super de boas com seu corpo e pronta para voltar a viver.
Do outro lado temos o Jack Masselin,
um garoto super popular que aparentemente tem a vida perfeita, mas que sofre em
segredo de uma doença chamada prosopagnosia, conhecida como cegueira facial,
que é a incapacidade de reconhecer rostos de outras pessoas, mesmo da sua família.
Ele desenvolveu o truque de olhar para identificadores para que ele consiga
distinguir quem é quem ao redor dele, entretanto isso tá se torando cada vez mais
difícil e deixando ele em situações complicadas. Além disso, Jack descobriu
que o pai estava tendo um caso logo depois de o mesmo ser diagnosticado com
câncer, e apesar de o pai ter passado pelo tratamento e estar bem agora, o fato
de ele ter uma amante não deixa de revoltar o filho mais velho.
– Você nunca fez nada maldoso ou
idiota sem pensar? Alguma coisa de que se arrependeu imediatamente? – Ela não
responde, então continuo: – Às vezes as pessoas simplesmente fazem merda. – Às
vezes porque estão com medo. Às vezes elas escolhem fazer merda com os outros
antes que possam fazer merda com elas. É uma forma de auto-defesa de merda.
Cada um a seu modo, os dois tentam
juntar os pedaços de quem são. Quem é a pessoa que eles veem no espelho, quem é
a pessoa que eles acreditam que os outros veem, quem é pessoa que eles
gostariam de ser, e a pessoa que foram, quem está por trás de todas as coisas
que nos faz ser como somos. E é durante
essa tentativa de juntar os pedaços que o universo desses dois irá se juntar
quando uma brincadeira de mau gosto inventada pelos amigos de Jack - o Rodeio
das Gordas - faz com que Libby seja humilhada na frente da escola toda. Esse é
o primeiro passo, não só para que nós comecemos a juntar os pedaços sobre quem
são Libby e Jack como também para eles possam descobrir isso por si mesmos.
Eu fique super empolgada para ler
sobre como o personagem ia lidar com a prosopagnosia, uma doença muito mais
comum do que se imagina. Acredita-se que pelo menos 2% da população sofra desse
mal. E talvez ela nem saiba que não reconhecer rosto não é algo comum, assim
como o Jack não sabia. Além disso, a maneira como Jennifer Niven tratou a
gordofobia foi tão real. A Libby já sofria bullying quando criança por causa do
seu peso, e a maneira como ela lidou com a morte da mãe só fez com que as
pessoas achassem que podiam dizer o que queriam, que sabiam o que acontecia com
a Libby e o pai, que sabiam o que era melhor para uma garota que só queria que
alguém dissesse que tudo ia ficar bem.
A autora conseguiu mostrar o que
acontece quando a gente tá bem, quando a gente se reconhece como alguém
especial que merece ser amado como qualquer pessoa, mas que enfrenta o
julgamento dos outros todos os dias, os olhares enviesados e reprovadores, de
cobrança e repulsa para com o corpo gordo. A Libby só quer ser aceita, só quer
dançar e participar das atividades escolares como qualquer um, mas tudo o que
recebe é hostilidade. Ela é gentil, inteligente, alto astral , compreensiva e
tantas outras qualidades que são deixadas de lado pelas pessoas por não estar
dentro dos padrões de beleza atual. Pior, ela é humilhada e ridicularizada por
isso. É tão triste saber que essa muitas vezes é a realidade das pessoas
gordas. O bullyling acontece de forma direta ou na base da brincadeira. Machuca
todas às vezes.
Sei o que está pensando: Se você odeia
tanto isso, se é um fardo tão grande, emagreça, e seu problema estará
resolvido. Mas estou confortável assim. Talvez eu perca mais peso. Talvez não.
Mas o que as outras pessoas têm a ver com isso? Quer dizer, desde que eu não
sente em cima delas, quem se importa?
Sinceramente, eu amei a Libby e o Jack
juntos, a forma como eles vão se aproximando e se permitindo. Mesmo dentro de
seus defeitos e traumas, eles realmente conseguem se enxergar como são. Libby a
fortaleza que se ergueu sozinha e por isso mesmo tem rachaduras que parece só o
Jack consegue ver. E o Jack, um menino que parece ter tudo que todos sonham, mas
que é inseguro e na verdade está fingindo e ferindo outros primeiro para não ser
ferido por eles.
Melhor ser o caçador do que a caça.
Mesmo que a caça seja você mesma.
Uma coisa que me deixou chocada foi
saber o bafafá que esse livro teve antes mesmo do seu lançamento, existe uma
espécie de classificação de sinopse e ele ficou com uma ou duas estrelas por dois
motivos: o Jack ter descrito o cérebro dele como quebrado e a Jennifer ter
falado de uma menina gorda sendo que ela mesma não é gorda. Mas vamos tentar
refletir sobre esses dois pontos.
Primeiramente, uma pessoa pode se
referir a si mesma como quiser, naquele momento a autora dava voz ao Jack, ele
dizer que considerava o cérebro dele quebrado não significa que as pessoas com prosopagnosia
ou qualquer outra doença neurológica, psicológica, entre outras, sejam pessoas
quebradas. Acredito que tenha faltado um pouco de interpretação e analise da
situação, e até boa vontade de quem leu a sinopse e já foi julgando-a. A
aceitação não acontece fácil, se ver diante de doenças, principalmente doenças
sem cura, faz com que muitas vezes nos enxerguemos com alguém falho e
defeituoso, mesmo que isso esteja muito longe da verdade. Para mim, a autora só
estava ilustrando como o Jack se sentia com ele mesmo, ela não estava falando
que as pessoas com prosopagnosia tem cérebro quebrado.
E sobre o fato dela ser uma mulher
magra falando sobre uma garota gorda, bom, eu sou uma garota gorda e acho que
ela falou muito bem sobre a minha realidade. Além disso, para quem não sabe a
própria Niven foi uma garota gorda na infância/adolescência e sofreu bullying
por isso. Ela mesma diz que o livro tem muito da experiência que ela passou. É
claro que ficamos com raiva quando alguém rouba nossa voz, quando alguém fala
de uma realidade que não é dela, quando alguém ao invés de apoiar, se apropria
da luta do outro, mas é preciso parar um minuto para ver se isso está mesmo
acontecendo ou se a gente está vendo apenas a superfície. O fato de a Jennifer
estar magra hoje não apaga as vivências dela, e não faz com que ela tenha
menos direito que eu de falar sobre esse tema, assim como o fato de eu ter 90
quilos e não 120 não diminua meu direito também.
Em Juntando os Pedaços, a Jennifer usa
um primo que tem prosopagnosia, sua relação com o bullying e o luto pela morte
da mãe para nos dizer que não estamos sozinhos, que não podemos desistir, e que
a vida é bela apesar de tudo.
Querido amigo,
Você não é uma aberração Alguém gosta
de você. Alguém precisa de você. Você é único. Não tenha medo de deixar o
castelo. Tem um mundo enorme e maravilhoso lá fora.
Nota interessante/curiosa: O Brad Pitt tem prosopagnosia
Ps: Mesmo essa sendo a capa lá de
fora, eu achei ela tão sem graça, se tivesse só visto a capa com certeza não ia
ter dado uma chance ao livro.
Nota:
amei |
Ficha Técnica
- Autora: Jennifer Niven
- Editora: Seguinte
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Taiany Araujo
5 comentários
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAmei a resenha! Também me identifiquei com a história e achei muito injusto o que fizeram com a autora. Já é tão difícil encontrar escritores corajosos o suficiente para abordar a gordofobia e colocar uma protagonista gorda.
ResponderExcluirNão sou mais adolescente mas durante a leitura só conseguia pensar em quanto precisei ler um livro assim durante minha adolescência. Como precisei me sentir representada naquela época e infelizmente não encontrei essa representação.
É um livro muito importante, não apenas para aqueles que se identificam ou passaram por situações semelhantes, mas para todos.
Diana, acho que esse foi o primeiro livro que leio onde a gordofobia foi realmente discutida. Fiquei mega feliz como a autora desenvolveu tudo. Que venham mais livros assim.
ExcluirEu tinha ouvido falar de um bafafa com o livro, mas não sabia o que era. Não posso comentar pq nem li nem fiz parte disso tudo.
ResponderExcluirSó queria acrescentar que mesmo que seja o garoto se vendo como defeituoso, o que acontece, ainda é ruim porque livros não são uma representação só dá realidade, eles reforçam uma perspectiva sobre a realidade e quando as pessoas sempre repetem a mesma perspectiva, mesmo que em alguns casos seja verdade, pode virar opressão, que é o que acontece na repetição de se ver como cerebro defeituoso em situações assim. Ou seja, ser a realidade e a visão do personagem não desfaz as consequências de repetir o padrão tóxico.
Mas enfim, acho tbm que criticar já pela sinopse é sacanagem. Ainda mais que não dá pra saber como vai ser construído. A idéia mesmo de ser defeituoso podia ser subvertida. Não sei nada do livro e daqui pode ser uma merda ruim msm ou mt bom. Ou seja, não dá pra criticar HAHAUA
Dana, eu até entendo seu ponto de como uma repetição pode reforçar uma perspectiva da realidade, mas realmente sente que nesse caso em especifico não é isso que ocorre. O personagem sabe nada da doença, na verdade, ele meio q se auto diagnosticou pela internet. Seria muito difícil ele não ter uma idealização negativada dele mesmo, mas ao logo do livro tanto ele como nós mesmo vamos aprendendo mas sobre e entendo.
Excluiré claro que ela poderia não ter posto o "cérebro defeituoso" na sinopse, já que as pessoas não sabiam como as coisas se desenvolveriam e poderia receber isso de forma negativa (como receberam)? poderia. Mas como você mesma falou criticar já pela sinopse é sacanagem, é desconsiderar muita coisa.