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Você é importante

14.9.16Taiany Araujo


Eu nunca tentei o suicídio, mas tenho amigos que já tentaram ou ao menos cogitaram tentar, e apesar de hoje estar formada em psicologia e de tudo que já estudei sobre pessoas, suicídio é algo que me abala. Quando o ConversaCult se propôs a escrever posts sobre o tema para o Setembro Amarelo eu quis muito participar, mas fiquei com medo de talvez esta roubando a voz daqueles para qual esse tema faz ou já fez parte da realidade. Mas, de outra maneira, esse também é um assunto real para mim.

A primeira vez que um amigo me falou ter se machucado eu acho que não percebi a gravidade do problema, era como se ele tivesse me dito que caiu na rua, mas que já estava bem. Só que a primeira vez deu margem para outras vezes, e eu falava, falava, falava e não sabia mais o que fazer, lembro que teve uma vez em particular que eu estava sentindo uma pressão grande no peito achando que realmente esse amigo fosse cometer uma loucura, eu achei que ele poderia se deixar ser atropelado, e eu estava tão longe dele, eu não podia fazer nada. 

Foram no mínimo uma hora de tensão em casa, enquanto meu amigo estava na rua se sentindo mal, desesperado e desiludido. E eu comecei a me sentir culpada, como se não estivesse ajudando aquele amigo que estava precisando de mim mas não só isso, eu também estava me sentindo saturada e isso gerava mais culpa. Parecia que tinha um mundo nas minhas costas, mas o que eu poderia fazer? Eu já tinha dado conselhos, ombro amigo, indicado lugares para procurar ajuda, eu comecei a ficar tão mal que comecei a precisar de ajuda, eram um misto de frustração, desespero e impotência que eu realmente não sabia mais o que fazer.

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Se eu me sentia assim, só posso imaginar como meus amigos se sentiam, como deve ser tão aterradora a sensação de que não há mais saída, que nada mais importa e que vai ser melhor para o mundo se você tirar a própria vida, ou ainda, como as coisas devem doer tanto que se ferir é uma dor melhor. Eu nunca estive tão desesperada assim, e não sei se qualquer palavra que eu diga possa ajudar nesse momento, mas eu sempre quis que eles soubessem que eu estava ali. Em alguns casos eu estava longe fisicamente, mas meu coração e pensamento estavam com eles, que a dor deles era minha, que eu também estava sofrendo, que eu estava desesperada pensando o pior, que eu não conseguia ajudá-los mais porque eles eram tão importantes para mim que todo o olhar racional e pragmático ia por terra. Que eu me sentia egoísta por querer que eles não desistissem por mim e que por mais longe que eu pudesse parecer, por mais que eu me calasse, era porque não conseguia fazer mais do que eu fazia e isso me deixava tão mal que eu não queria que eles me vissem desmoronar. 

Quando li os livros Os 13 Porquês e O Último Adeus fiquei em frangalhos porque cada um à sua maneira pareciam ser sobre como eu me sinto, sobre o outro lado, o lado que se vê de mãos amarradas, o lado que quer ajudar, que quer fazer das tripas o coração, quer dar o ombro amigo e sente como se não tivesse feito nada, o lado que se culpa, e que por vezes culpa o outro, como se ele já não estivesse dilacerado o suficiente. O que me dói é esse sentimento de que eu não to fazendo nada para ajudar ou aliviar a dor daquela pessoa, parece que se eu estivesse mais presente ou dissesse mais o quanto ela é importante para mim nada dessas coisas aconteceriam. Mas não é bem assim né?


Eu só desejo que meus amigos que já pensaram em suicídio saibam que eles não estão sozinhos, que há pessoas pensando neles e torcendo por eles, pessoas que acreditam que eles são muito fortes, muito mais do que imaginam e que se eles se sentirem cansados demais, eu ando por eles. Eu desejo que qualquer outra pessoa que já pensou em suicídio, que ela olhe para o lado, você não tá sozinha. E eu quero dizer para vocês gritarem, procurarem ajuda, chorarem a plenos pulmões mesmo que isso possa parecer constrangedor demais. Não se calem, porque só quando colocar sua dor para fora o outro vai saber o que você tá sentindo.

E quero dizer que apesar de tudo estar parecendo uma merda ultimamente, você é uma pessoa foda demais e que se você aguentou até esse momento, cara, você não tem ideia do quanto é forte. Mas eu também queria dizer que eu me importo, me importo muito, desculpa por às vezes não demonstrar, desculpe seus amigos, sua família, a gente não tem ideia da sua dor e do como deve ser difícil levantar da cama todos os dias, mas a gente percebe o quão incrível você. Só continue tentando mais um pouco, por favor.

Caso você queira conversar com alguém, mesmo achando que não é nada demais visite o Centro de Valorização da Vida, além de sigiloso e anônimo, as pessoas ali estão habilitadas para te ajudar sem nenhum julgamento. Não deixe para lá, você é importante.


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