Dentre as coisas que fazem eu ser eu, certezas absolutas e indecisões são dicotomias que me completam. Essas duas características dificultam uma descrição da minha personalidade e gostos, mas há algo que sempre foi estável para mim, mesmo antes de eu tomar conhecimento disso.
Por volta dos meus 11 ou 12 anos, eu estava andando pela Penha (bairro do Rio de Janeiro) com a minha mãe quando passei por um vendedor ambulante que estava escutando a Rádio Cidade no seu radinho de pilha, ouvi um pedacinho de uma música e senti que minha vida nunca mais seria a mesma. Talvez eu pudesse definir minha vida como antes e depois daquele dia em que ouvi uma estrofe de Eduardo e Mônica, é uma memória tão viva, tão emocional.
Lembro que assim que cheguei em casa corri para o meu walkman e fiz uma marca com esmalte vermelho em cima da numeração que indicava a Rádio Cidade, eu não podia correr o risco de tirar da rádio e depois demorar horas para achar. Foram dias ouvindo a rádio direto esperando que tocasse aquela música - eram tempos difíceis sem internet, achar uma música não era tão fácil. Mas eis que eu estava ali obstinada em encontrar a famigerada música quando toca Pais e filhos, e eu sabia com toda a minha certeza de fã (eu só não tinha ideia ainda) que era aquela música, aquele cantor.
Lembro que assim que cheguei em casa corri para o meu walkman e fiz uma marca com esmalte vermelho em cima da numeração que indicava a Rádio Cidade, eu não podia correr o risco de tirar da rádio e depois demorar horas para achar. Foram dias ouvindo a rádio direto esperando que tocasse aquela música - eram tempos difíceis sem internet, achar uma música não era tão fácil. Mas eis que eu estava ali obstinada em encontrar a famigerada música quando toca Pais e filhos, e eu sabia com toda a minha certeza de fã (eu só não tinha ideia ainda) que era aquela música, aquele cantor.
Alguns dos meus bebês, são modestos, mas são meus |
Logo depois de ouvir aquelas duas músicas da banda eu não parei até ouvir outras, ter os CDs e saber tudo que podia sobre aquele cara (Renato Manfredini Júnior) e se você tem mais de vinte anos sabe como era complicado conseguir informações na época, tudo era na base da revista e do boca a boca, e putz, CD era caro, pelo menos para a minha família. E foi nessa loucura toda que descobri que meu pai era um fã apaixonado, com direito a choro de desespero quando o Renato morreu, que ia aos shows e tinha vários cds da banda (ele não me deu os dele </3). Eu não estava apenas descobrindo uma banda, um cantor...eu estava me descobrindo. Durante essa época eu ouvia meu único cd da banda (Mais do mesmo) uma vez ao dia, todos os dias e minha mãe, que até então também gostava, já estava ficando de saco cheio. Meus pedidos para presente de aniversário era os CDs e eu estava ficando com um estoque considerável de camisas com estampas desses moços.
Meus pais se separaram quando eu tinha uns 3 anos, e meu pai é uma pessoa completamente fechada e não falante. É por esse motivo e outros da personalidade dele que apesar de ele ter estado presente fisicamente na minha vida até hoje, nunca tivemos uma relação de pai e filha propriamente dita. Nossas conversas se resumem a eu atualizando minha vida e do meu irmão durante uns cinco minutos e acabou, mas quando colocamos qualquer música da Legião Urbana e começamos a cantar baixinho (ou alto mesmo) sinto que esse é um momento onde finalmente nos conectamos.
Foque na blusinha (bienal 2010) |
Hoje, mais ou menos 12 anos depois do contato que me marcou, meu encantamento não diminuiu e posso dizer que na verdade só aumentou. Aos poucos fui percebendo o quanto minha vida está cercada pelo grupo, como momentos importantes da minha história foram marcadas por alguma música deles, o quanto eu procuro ouvi-los seja quando estou feliz, seja quando estou desesperadamente deprimida, cada CD, cada música gera em mim sentimentos tão intensos que hoje não sei quem mais é a Taiany sem a Legião.
Legião Urbana nunca foi só uma banda para mim (pelo menos não desde dos meus 12 anos), é uma forma de me expressar, me comunicar com o mundo, de aliviar minhas dúvidas e angústias, de dançar e sorrir loucamente sem nenhum motivo aparente.
*eu estava escrevendo ouvindo o CD Acústico e tive que parar de escrever porque meu peito começou a ficar apertado e eu comecei a chorar
Não sei se é fácil de compreender minha relação com essa banda e com o Renato em especial, pode parecer apenas uma relação de fã para com ídolos, mas para mim é muito mais que isso, muito mais transcendental e muito mais intensa. Me dói o peito quando ouço, mesmo estando alegre, parece que todas as emoções vão se agrupando ali e então explodem. Acho que é por isso que eu me sinto enciumada com qualquer coisa que diga respeito à banda, podem falar o que quiser de mim, mas questionar o que eu sinto ao ouvir aquelas músicas é me ferir verdadeiramente. Sei que falar essas coisas parece muito dramático, e eu não sou uma pessoa dramática, nem passional, por vezes sou até pragmática demais, então a voz do Renato ressoa e eu viro todos os clichês do mundo.
Eu dancei Tempo Perdido como se não houvesse amanhã numa rua perto da minha casa, eu cantei Hoje a noite não tem luar durante uma aula na faculdade, eu arrastei uma amiga para tirar foto em frente ao antigo apartamento do Renato em Ipanema, eu sai correndo desesperada enquanto meus amigos também desesperados tentavam ver se eu estava chegando quando tocou Eduardo e Mônica na minha formatura da faculdade, eu fiz um blog chamado Sereníssima, na verdade, quase todos os meus perfis na internet se chamam assim, eu fiz um site voltado para a banda, eu passei um dia inteiro com febre ouvindo o CD A Tempestade, eu pedi pra uma amiga escrever a legenda “é tão estranho os bons morrem jovens” na legenda de uma foto e as pessoas começaram a perguntar se eu tinha morrido, eu cantei Que pais é esse? em um karaokê no meio de um restaurante, eu vivo intensamente essa banda seja pagando altos micos seja apenas quietinha da escuridão do meu quarto.
Dia de muitas emoções, até o porteiro ficou com pena de mim. |
*esse era pra ser um texto descontraído e agora eu to pensando que quando eu morrer gostaria que as pessoas se lembrassem de mim como aquela que amava Legião Urbana.
Desde que entrei no ConversaCult quis escrever sobre a minha banda, até porque meus textos aqui são mais sobre mim do que qualquer outra coisa, são minhas experiências, meus descobrimentos, minhas revoltas, minhas paixões... só que como eu falaria sobre Legião? Como eu falaria da importância do Renato na minha vida? Eu falaria dos livros ou dos CDs? Eu falaria sobre as músicas? Eu não sabia sobre o que falar, e esperei para o dia em que soubesse. Eu ainda não sei, mas mesmo assim acabei falando sobre como esses moços entraram na minha vida. Talvez eu nunca saiba sobre o que falar, e espero que vá falando mesmo assim.
"O Brasil é uma
República Federativa
cheio de árvores
e gente dizendo adeus"
Oswald de Andrade
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Taiany Araujo
3 comentários
Acredite em mim, eu te entendo! Amo demais essa banda também, mas o meu amor fica um pouco mais nas músicas e nos versos (eu não sinto tanta necessidade de ler sobre artistas e a vida deles, gosto de saber sobre o Renato, mas eu acho que conheço ele muito mais pelas músicas do que pelos fatos da vida). Enfim, essa banda é maravilhosa <3
ResponderExcluirMinha história começou com o CD Mais do Mesmo, que era do meu irmão, e a gente ouvia o dia todo, todos os dias. Depois a gente foi comprando mais e mais, e de todas as músicas que conheço, as músicas do Legião são as únicas que escuto desde sempre. Não importa se estou triste ou feliz, se vou escutar música, vou escutar Legião. E se quiser fazer eu gostar de alguém, é só pedir pra pessoa citar Legião Urbana que já tem um lugar no meu coração.
O nome dos meus Tumblrs costumavam ser trechos das músicas também, lembro que um deles chamava 29 Anjos (da música 29). E as frases de status de qualquer rede social geralmente são músicas da Legião. Impossível não amar né <3
"Minha história começou com o CD Mais do Mesmo, que era do meu irmão, e a gente ouvia o dia todo, todos os dias. Depois a gente foi comprando mais e mais, e de todas as músicas que conheço, as músicas do Legião são as únicas que escuto desde sempre. Não importa se estou triste ou feliz, se vou escutar música, vou escutar Legião. E se quiser fazer eu gostar de alguém, é só pedir pra pessoa citar Legião Urbana que já tem um lugar no meu coração. "
ResponderExcluirMarina desconfio que eu tenha escrito essa estrofe hahahaahahahah Mais do mesmo foi meu primeiro cd e depois não teve mais volta.
Eu também não sou de procurar informações sobre artistas/bandas, mas com o Renato foi acontecendo. Realmente parece que a gente conhece mais ele pelas músicas e versos do que qualquer coisa coisa, mas acabo fazendo paralelos do que descobri e o que ele próprio me contou atras das letras e é incrível, como um quebra-cabeça que a gente nunca vai conseguir montar, mas que não querer parar de tentar.
Obrigada pelo seu comentário, adorei!!!!
Tbm sou apaixonada por essa banda e por esse cantor. Nem tenho oq escrever aqui sobre, apenas que nesse exato momento estou ouvindo Ainda é Cedo hahaha. Quando eu ouço as músicas é como se eu estivesse realizada na vida, plena e me traz uma paz interior muito grande!
ResponderExcluirUma coisa que parece q fez eu me conectar mais com a banda e com ele é q o Renato morreu exatamente no mesmo dia em que eu nasci (11/10/1996) e eu na vdd n sei mto bem como me sentir em relação a isso.
Adorei seu texto!! Bjss!!!