Tava lendo o post maravilhoso da Bells "vamos /vaiar/ torcer mais que tá pouco" e eu quero falar também porque sou intrometida. Mentira, porque eu tava pensando sobre isso, né. Essa semana acabei fazendo vários rants sobre xenofobia e ultimamente tenho pensado bastante sobre isso, aí quando chegou esse negócio de vaiar e torcida BR...
A questão é que o pessoal já vê brasileiro como o "selvagem", aí qualquer coisinha é usada pra representar o país inteiro. Ou seja, quando a gente faz, é visto como pior. Quando eles fazem, é perdoado.
Outra coisa que eu vi é um texto sobre Imperialismo Cultural. Tu pensa que a colonização acabou? Não na cultura. Não precisa ser nenhum gênio pra ver o tamanho da influência que os EUA tem aqui no Brasil. Pelo amor de deus, eu estou ouvindo música estrangeira nesse instante. E por mais que isso seja comum (NINGUÉM VAI ME TIRAR MINHAS SÉRIES!!!!), é ao mesmo tempo... não ok.
Eles apagam as nossas culturas. Quem nós somos. O que nós vemos como certo.
Brasileiro adora uma alegria e uma festa, mas chega gringo por perto e a gente quer ser fazer de comportado por Educação™. Educação onde? Pra os valores de quem? Não os nossos.
E o fato de que a gente considera esses valores como o "adequado", mesmo sendo diferente de quem a gente é, é um reflexo dessa imposição dos valores estrangeiros sobre os nossos.
A voz deles é mais poderosa que a nossa.
É algo meio parecido com a questão do feminismo e diferenças entre homens e mulheres. Tipo:
Mesmo fazendo mais ou sendo melhor, você é considerado com o mesmo valor.
Isso significa que o que os gringos consideram certo é colocado acima do que é considerado certo aqui pra gente.
Nadadores falam que foram assaltados no Brasil: MATÉRIA DE CAPA, PAÍS VIOLENTO CUIDADO
Nadadores estavam mentindo: Entenda, essas crianças de 30 anos, tavam só...
Na hora de meter o pau no Brasil, ninguém segura a mão na hora de falar e aceita a ideia negativa sem pensar 2 vezes. Agora na hora de falar deles...
Então vamos ao terceiro ponto, que é o que a Bells disse que a torcida brasileira é o 12º jogador. É uma característica do brasileiro participar.
Isso não é só no esporte, não. Em show a gente vai, prepara surpresa para os artistas (tipo levantar bola na música X) e CANTA DESTRUIDORAMENTE.
A gente não vai pra sentar e ver, a gente vai pra viver um momento junto com eles. A gente vai retribuir o trabalho deles demonstrando o nosso amor. Se você pensar, o brasileiro tá ali e calorosamente quer dizer "você é importante" com toda a animação.
Até escritor que aparece pra dar autógrafo, a gente leva a lojas americanas inteira de presente.
Não sei de onde vem essa cultura, mas ela é bonita pra caralho. Ela vai contra a impassividade. Ela não tem medo de mostrar sentimentos e amor. Ela não tem medo de ser feliz.
E aí eu fiquei pensando, de onde vem as vaias nisso?
E minha conclusão é que você tá lá, você quer participar, mas como diabos tu vai participar em esportes que cada um joga uma vez? Tu vai ficar gritando de emoção quando o adversário tá jogando, nadando, atirando, sei lá o quê? Então isso é canalizado na linguagem universal de "SAI DAQUI, DESGRAÇA. NÃO TÔ TORCENDO PRA VOCÊ":
OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOH
Tipo, a gente lintamente TÁ GRITANDO E TORCENDO O TEMPO INTEIRO NO JOGO. A gente não tá sentado e quando acontece algo solta o "uhul", a gente é barulho sem parar. Então é praticamente lógico que esse barulho vai refletir as emoções.
E tem mais, a gente não para aí. A prova de que a gente quer participar de tudo é que:
A gente torceu pelo juiz.
A gente torceu pelo Equador.
A gente torceu pela China.
A gente até torceu CONTRA o Brasil.
Leia:
20 histórias olímpicas
gringos tentando entender os hábitos de torcida brasileiros
Leia:
20 histórias olímpicas
gringos tentando entender os hábitos de torcida brasileiros
Sinceramente, acho que só tem rivalidade entre países porque a base desses esportes é um competir contra o outro. Se não tivesse isso brasileiro ia lá, e ia gritar, e ia arranjar alguma razão pra torcer pra qualquer um, porque a motivação principal não é ACABAR COM O OUTRO!!!! é participar do momento.
Aí tem, é claro, aquelas perguntas.
Ok, mas quando você tem culturas diferentes, como você decide o "certo"?
As duas (três, quatro, 9238329823) são certas. Elas só são diferentes. Cada uma tem sua vantagem. Enquanto alguns esportes que exigem alta concentração vão se beneficiar do silêncio, o barulho pode servir pra empoderar os competidores. E aí?
Acho que as Olimpíadas busca seguir as regras da casa - se tá no país, segue a cultura legal, que nada a ver esperar que o público aqui seja igual ao da Rússia, sei lá. Agora, lá na França, a gente segue o jeito deles.
E como a própria Bells disse, até alguns esportes que têm "etiqueta" própria que o povo não conhecia, foi aprendendo depois.
(e ainda assim....... até que ponto é ok mudar por causa disso.)
Pessoalmente, preferia que a gente evitasse vaia e arranjasse outra coisa pra fazer, mas... por que é que a gente é que tem que mudar? por que é que a gente que tem que se virar nos 30 pra se adaptar a cultura deles?
Leia:
"Impedir barulho de vaia é imperialismo cultural"
TAGS:
Brasileiro,
Dana Martins,
imperialismo cultural,
olimpíadas,
Olimpíadas 2016,
Rio 2016,
torce pra juiz,
vaia
0 comentários