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Esquadrão Suicida é o suicídio da DC?

9.8.16João Pedro Gomes



A DC tentando fazer um filme que agradasse todo mundo acabou virando uma missão tão perigosa quando a que o seu time de anti-heróis enfrenta. Talvez ela tenha algum sucesso financeiro, mas em termos de qualidade em si… Não rolou.

Em poucas palavras: esse filme seria ótimo se não tivessem tentado fazê-lo algo mais “popular” no meio do caminho. Da mesma forma que Quarteto Fantástico, parece que uma mão externa mexeu no que já tava encaminhado e tentou forçar um novo rumo na produção. Um rumo mais simples, acessível, mas bastante genérico e provavelmente conflitante com a visão inicial pro filme. 

Ainda que ele não tenha sofrido uma transição tão violenta quanto o Quarteto, o resultado foi um filme que não sabe se foca no drama entre os personagens ou na fórmula de blockbuster genérico. Um filme de roteiro falho e cheio de furos, que quase não permite que seus bons momentos brilhem. 

"Nós somos os vilões, é o que nós fazemos"
Desculpa não aceita
O pior de tudo foi que não precisava ter sido assim. Desde o primeiro trailer, aquele de qualidade ruinzinha que vazaram da Comic Con do ano passado, o esquadrão já tava com um hype ENORME. Seria um filme da DC que, com suas escolhas originais de música e elenco de vilões e atores, faria as pessoas adorarem. Porque não, não foi por ser “sombrio” que as pessoas não gostaram de Batman v Superman: foi por ser um filme mal feito mesmo. Ainda que no mesmo estilo, uma boa história podia dar certo ali dentro. 

E ver que a solução foi transformar um drama possivelmente incrível no show de vilão espetaculoso, destruição do mundo e piadas que nem sempre funcionam, ver que arrancaram sem dó a carne do filme (diálogos, construção de personagem) pra encher de farofa (cenas de ação desinspiradas)… Dói um pouquinho só de saber o quão bom poderia ter sido.

Isso posto, Esquadrão Suicida não é um filme de se jogar fora. Acho que, ao contrário de coisas pra se odiar ardentemente como foi com BvS, o mais provável a acontecer é a indiferença ou revirar de olhos em relação à certos elementos e personagens. Coringa mesmo, que foi vendido como um dos principais e estampava quase todo o material promocional, mal causa alguma impressão. E nem tô falando de importância pra trama, que é quase nula: falo de impacto mesmo. Numa escala entre todos os personagens, ele seria o sexto ou sétimo na lista de quem eu gostaria de conhecer melhor.

Em parte porque foram burros e tiraram as melhores cenas dele, tipo essa

E outros personagens que deveriam ser cativantes também sofrem do que talvez seja a maior falha, que é a falta de tempo pra evolução. Katana deve ter tido o quê, duas falas? A espada dela foi mais importante do que ela em si. A típica ninja silenciosa, mas letal, que a gente já cansou de ver. A mesma coisa pra June/Magia, que causa pouca ou nenhuma empatia, tão pequena é a apresentação da humana receptáculo da “bruxa”. A visão dela rebolando com os ombros (?) de um jeito estranho e beijando (!!?!) as vítimas pra transformar em seus servos é mais marcante que a personagem em si. Marcante de um jeito muito ruim.



De qualquer forma, o filme tem uns pontos fortes. Arlequina mesmo, que mostrou nuances que as críticas não revelaram. Apesar de ainda estar no relacionamento abusivo com o Coringa, e não buscando um novo caminho como muita gente esperava, o que se tem aqui é uma Harley que parece consciente de que sua relação não é das melhores, que tem algum medo do Mr. J e sonha com o momento em que eles poderão ser “normais”, tudo de forma bem sutil. Foram com ela os momentos em que meu cérebro voltou ao ar pra perceber que uma cena podia ser algo com mais camadas que uma folha de papel, como é com quase todo o resto (pra quem já viu o filme: aquela com o Deadshot e a arma nas escadas). Apesar de algumas partes que expõem a personagem sem necessidade, fizeram um bom trabalho dando relativa independência pra ela sem desperdiçar sua origem nos quadrinhos, problemática por si só. Eu quero muito ver mais do que ela é capaz, principalmente em seus momentos de quase lucidez. O Deadshot do Will Smith também tá ótimo, o heróizão do coração de ouro em pele de vilão, e Jai Courtney, quase sem nenhuma fala, construiu um Capitão Bumerangue todo divertido só com trejeitos e ações.

Viola Davis como Amanda Waller: dispensa cometários

Na verdade, todas as cenas do time interagindo entre si são muito interessantes. Poxa, é um time de vilões de pouca moral que precisam bancar os heróis à força, cada um com seus motivos e conflitos internos, suas trajetórias únicas que os fizeram chegar àquele ponto da vida. O drama por trás desse conceito é pouco explorado, mas quando exploram, exploram bem, e foram esses momentos que fizeram o filme valer a pena pra mim. 

O DIÁLOGO NO BAR, AS CONVERSAS EXISTENCIAIS, TAVA TÃO BOM

E minha opinião razoável não parece ter sido a mesma do público em geral. Até agora, o filme tem ido muito bem de bilheteria. Talvez seja o apelo dos personagens, a trilha sonora gritante ou as piadas que, sim, em alguns momentos são bem-vindas e podem ter mascarado os problemas do filme atrás das risadas.

Se um segundo filme da equipe vir a acontecer, que eles façam o filme divertido e cheio de referências pop que Esquadrão Suicida se tornou no meio do caminho. Mas façam isso desde o princípio: da segunda vez, o fator novidade não vai estar aí para esconder os podres e salvar o filme por um fio. 


Nota: 2/5 conversinhas

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