Esse é o meu tema do CCSecreto. Gosto dessa brincadeira porque me ajuda em dois pontos: aprender e escrever. Você aí do outro lado deve achar que é simples escrever essas palavras, de fato pra Ariel deve ser, mas, de verdade, eu tenho muita dificuldade. Aprender é o outro ponto porque o que eu sei é oriundo de conversação e texto do acaso. Eu não tenho o hábito de ir pesquisar um dado assunto e aprender, por isso essa brincadeira tanto me atrai.
Ponto inegável: é preciso observar que tal conceito não é universal. Isto é, o que é homem pra mim é diferente do que é homem na criação da casa ao lado, que é diferente do que é homem pra geração dos meus avós, do que é ser homem no nordeste, do que é ser homem em Capetown e mais diferente ainda do que é ser homem numa tribo indígena.
Eu me sinto masculino quando eu enxergo o próximo como igual, meu pai se sente masculino quando realiza uma obra, já meu avô se sente masculino quando se tem responsabilidade sobre todos e minha tia se sente masculina (por que não?) quando tem que dar as ordens. Tantos homens, tantas pessoas e tantos conceitos do que é Homem e Masculinidade. Ainda há tribos indígenas que o homem não só é responsável pela criação dos filhos, como é normal a mudança de gênero e sexualidade conforme a vida. Ou seja, como posso definir algo que faz parte de uma construção e desconstrução social e cultural?
Outrossim é, não consigo, em hipótese alguma, definir um conceito que vá abrangir todos. Muito menos ter posse sobre uma nomenclatura. O que quero dizer é que eu me sinto homem e quando faço certas coisas posso me sentir masculino (inclusive feminino), porém me sentir desta maneira não me garante o direito de invalidar o próximo quando ele se diz sentir igual. Se Jéssica se sente masculina, é a percepção dela, não apetece a mim negar o que o próximo é.
Porém, vamos lá. Vamos afunilar esse texto. Lembrando que não podemos esquecer que Homem e Masculinidade varia conforme época e meio histórico.
Masculinidade com M de Medo
Masculinidade pode ter diversas interpretações, porém tem uma delas que é a principal. Infelizmente eu me deparo com ela o tempo todo.
Elas se faz presente pelos métodos clássicos que homem não: chora, diz que ama, diz que tá cansado, abraça, parece frágil, passeia em shopping, liga pra roupa, lava a louça (viu a notícia de que o pai espancou o filho até a morte por lavar a louça?) e tantos outros detalhes pequenos.
Também pela ideia de que homem é: comedor, tem que ir pro bar beber uma cerva, tem que falar de sexo, não pode ver uma mulher que se sente impelido a visualiza-la como uma prato de comida (quando não as abusam), homem se não homem tem que cair duro no hospital porque não pode admitir que é difícil, homem não conversa (é muita sensibilidade (!!)).. homem, esse homem pra mim nada mais é que uma figura repleta de fragilidade e medo.
Esse homem é um ser desprezível. Os exemplos que vi, esse homem trabalha por poucas horas e fica deitado pelo resto do dia. Enquanto sob o mesmo teto a mulher trabalha de 08h às 20h, faz a comida, arruma a casa, cuida dos filhos e cachorro se tiver, faz os afazeres que o homem deixou pra traz e ainda sorri. Desculpa se te machuca, mas esse homem é desprezível. Essa mulher? Essa mulher devia ser adorada porque ela é foda.
Esse indivíduo faz esse papel de "homem" porque "homem" lhe garante o topo do privilégio e que, por mais que nunca faça nem um pouco de trabalho duro, lhe é garantido a maior credibilidade e respeito. Ganha cartão verde pros mais diversos e irracionais erros, esse homem respira e é adorado. Proclamado com elogios de "trabalhador" e "gente boa". Desculpa.. aliás, desculpa não, mas se ser homem é ter garra, determinação, força, honestidade, perseverança, te falar que as mulheres, as bichas bichérrimas, os viados como eu, somos todos muitos mais homens do que você, "homem-que-não-liga-pra-roupa".
Ou seja, se ser homem é sinal de fortaleza, a pirâmide de privilégio se inverte. Quanto mais marginalizado você é numa sociedade independente de gênero, sexualidade ou etnia, mais homem você é. Portanto, homem que não chora, você, de nós, é o homem mais desprezível que nós temos. É sério que lavar um copo coloca em risco seu gênero? Qual é o seu problema?
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Valentino Martins
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