A Moon Shaped Pool
Ariel Carvalho
Além de 'Creep': o Radiohead que queima as bruxas
19.5.16Ariel CarvalhoEu não era nem nascida quando "Creep" foi lançada e, mesmo assim, vi toda a minha geração querer morrer e chorar horrores com essa música.
Não sei se Thom Yorke sabia que estava criando um hino indie quando compôs a música, mas o fato é que estamos em 2016 e ela ainda é cantada a plenos pulmões por pessoas que se identificam com a sua letra profunda e melancólica.
A música, a mais conhecida do Radiohead, nunca foi a minha favorita deles. Quando comecei a ter contato com a banda, bem nova, eu era apaixonada pela tristeza ardente que "High And Dry" me trazia.
Depois, passei a querer me esconder na dorzinha de "Fake Plastic Trees", e cheguei a ter uma fase meio "Paranoid Android".
Durante todo esse tempo, o Radiohead era uma banda que eu respeitava e achava fantástica. Eu considerava Thom Yorke um gênio musical (e eu não uso o termo 'gênio' habitualmente) e admirava tudo o que ele fazia. Mas não conseguia me chamar de fã da banda, porque não conseguia entendê-la muito bem.
O álbum de 2011 da banda, "The King Of Limbs", foi um evento na minha vida. Eu achei tão fantástico eles o lançarem virtualmente sem gestão de direitos digitais. Na época, a indústria da música estava sofrendo fortemente devido às plataformas digitais e aos downloads piratas, mas a banda achou essa saída genial, que deu muito certo.
(Aliás, toda a divulgação desse álbum foi fantástica)
Ano passado, quando surgiram rumores de que o Radiohead estava em estúdio, eu queria sair berrando por aí. Eu sou extremamente a favor dessa volta das bandas/tendências dos anos 90, ainda mais de uma banda que eu gosto tanto.
No começo do mês de maio, a banda sumiu de todas as redes sociais, deletando todas as postagens anteriores e deixando todos muito apreensivos. Rolavam boatos de que um novo cd seria lançado em junho, mas nada concreto. E, então, eles retornaram com a magnífica "Burn The Witch", uma renovação que mantinha os elementos que dão identidade à banda (com um clipe fofíssimo e cheios de críticas, em stop motion).
Mais uma vez, Thom Yorke sendo genial.
Logo depois dessa primeira faixa, lançaram "Daydreaming", uma faixa que te preenche de desespero e uma espécie de melancolia por expectativa. A voz de Yorke, pesada, é acompanhada por um piano e um fundo suave eletrônico. A essa música, deram um clipe que conta com uma câmera acompanhando Yorke nos entra e sai da vida. Apropriado.
Anunciaram que o novo disco se chamaria "A Moon Shaped Pool", e seria lançado no dia 8 de maio.
Seguindo a ordem do álbum, a terceira faixa é a "Decks Dark", que resume muito bem o que é a banda em termos de sonoridade (é também uma das minhas favoritas), combinando elementos sombrios e uma doçura bem peculiar.
A capa fantástica do álbum, ai |
"Desert Island Disk" começa com um violão delícia, que poderia abrir uma faixa do Fleetwood Mac. Mais uma vez, os elementos eletrônicos são muito bem aliados à tradição, parecendo o filho do amor do álbum "The Bends" com o "OK Computer".
Eu amo mais esse álbum do que a mim mesma |
Já "Ful Stop" se assemelha mais aos trabalhos mais recentes da banda, no "The King Of Limbs". É só ouvir para quase entrar em transe.
Achei "Glass Eyes" a mais fofa do álbum, suave e gostosa, com um violino calminho. Todo trabalho deles tem uma música que parece um abraço depois de muito tempo chorando, e essa é a do "A Moon Shaped Pool".
"Identikit" é uma das mais animadas (se é que isso é possível quando se fala em Radiohead), e tem uma das melhores letras do disco, na minha opinião. Ela só era inédita em estúdio, e já era conhecida dos fãs da banda desde 2012.
A faixa seguinte, "The Numbers", é uma bagunça que combina bastante com a banda, e tem um baixo sensacional. Logo depois, "Present Tense", outra velha conhecida (Thom a toca desde 2009), muda um pouco o tom do álbum. Altamente influenciada pelo samba e pela bossa, é uma das mais gostosas de ouvir.
Apesar do nome gigante e dos cinco minutos de música, "Thinker Tailor Soldier Sailor Rich Man Poor Man Beggar Man Thief" é a minha preferida dentre as onze faixas. O título é uma menção a uma brincadeira inglesa que nós, brasileiros, também fazemos, a tradicional "loiro, moreno, careca, cabeludo". Gosto da forma como ela começa despretensiosa e vai, aos poucos, te envolvendo, e termina de forma genial.
Finalizando o álbum, temos "True Love Waits", altamente elogiada pela crítica, e extremamente vulnerável e forte. Ela é considerada uma das melhores composições de Thom Yorke, e vem sendo apresentada ao vivo desde 1995. Curiosamente, foi a 100ª música da banda, e nunca havia sido gravada porque estavam buscando a melhor sonoridade para ela em estúdio.
Conseguiram uma música maravilhosa e que, mesmo após 21 anos, conseguiu capturar os corações de todos os que ouvem o "A Moon Shaped Pool". Quando ela acaba, numa última nota do piano, fica um silêncio inquietante que parece te implorar: ouça o álbum todo de novo.
É o que vou fazer.
2 comentários
Comecei a ler o blog, com tantos posts incríveis e informativos, esse do Radiohead certamente me ganhou! Adoro essa banda... e sim,Thom Yorke é um gênio!
ResponderExcluirComecei a ler o blog, com tantos posts incríveis e informativos, esse do Radiohead certamente me ganhou! Adoro essa banda... e sim,Thom Yorke é um gênio!
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