“Não sei determinar a hora, o lugar ou o olhar, ou as palavras que lançaram os fundamentos. Faz muito tempo. Já estava no meio quando percebi que tinha começado.” Esse é um trecho do livro Orgulho e preconceito da escritora Jane Austen, mas, também poderia ser uma frase dita por mim em relação ao meu encanto com ensaios fotográficos, principalmente os nus.
Eu sempre achei fotografia algo lindo, sempre tive certa inveja daqueles que trabalham com isso, e há muito tempo percebi que fotos de casamento seriam meu foco se um dia eu viesse a me direcionar por esse caminho. Acho que sou um tanto fascinada com esse ritual cerimonioso que é o casamento, e sem dúvida o fato de envolver pessoas captura minha atenção. No entanto, nunca pensei que a nudez fosse algo belo, a palavra não é bem essa, mas, o conceito de que a nudez pudesse ser apreciada como natural e não vergonhoso secreto ou vulgar não me era compreensível.
Vejam bem, eu cresci ouvindo/percebendo que meu corpo não era bonito, porque ele não condizia com o ideal de beleza da nossa época, isso fez com que meu corpo não fosse visto por mim, não fosse apreciado por mim. Além disso, questões de idade, família, religião e um monte de outras coisas acabaram por engessar meu corpo num monte de carne e sensações (e isso também é o corpo, tenho consciência da importância das sensações), só que ele é mais que isso, ele é um misto de histórias, marcas, órgãos e tantas outras particularidades que fazem as definições se tornarem limitadoras.
Vejam bem, eu cresci ouvindo/percebendo que meu corpo não era bonito, porque ele não condizia com o ideal de beleza da nossa época, isso fez com que meu corpo não fosse visto por mim, não fosse apreciado por mim. Além disso, questões de idade, família, religião e um monte de outras coisas acabaram por engessar meu corpo num monte de carne e sensações (e isso também é o corpo, tenho consciência da importância das sensações), só que ele é mais que isso, ele é um misto de histórias, marcas, órgãos e tantas outras particularidades que fazem as definições se tornarem limitadoras.
Revirando minha mente, tento
encontrar um ponto no qual, apesar das minhas inseguranças, corpos foram se
tornando fascinantes. Não acho. Foi um processo tão lento que já acontecia
antes mesmo que eu olhasse para meu próprio corpo e começasse a enxergar beleza
nele. E então no meio desse processo todo (acho que era no meio, não sei) eu
conheci o projeto 302 do Jorge Bispo e fui me deparando com outros ensaios
fotográficos de nu artístico, e eram coisas tão lindas que eu queria fazer
parte ao mesmo tempo como já me sentia parte, como num rio sabe?
A gente tá tão acostumado a
esconder a nudez, não só nossa, mas a dos outros também (eu ainda faço isso),
acostumado a se sentir desconfortável com o nu, a sempre observar com uma conotação
sexual, erotizada no corpo desnudo. Se for um homem ereto então, aí é que não
existe artístico, porque tem um pau duro ali. São tantas revistas playboy e
tantos ensaios Paparazzo que confesso, se um dia minha família souber o quanto
a nudez vem sendo um tema recorrente para mim vão achar que sou tarada,
pervertida, quando na verdade o que me encanta nessas fotos é a liberdade, a
sutiliza, esse algo que não sei nomear, mas que me parece tão puro.
Quando escrevi o post Uma conversa sobre nudez e exposição aqui no Conversa Cult, uma pessoa veio falar
comigo no facebook dizendo que gostava muito dos meus textos sobre nudez (com
esse são três) e me indicou um projeto mega legal chamado #365nus do
fotografo Fernando Schlaepfer, fui ver é claro, e gente, QUE COISA LINDA. Vale
a pena vir aqui e ler o que o autor do projeto fala sobre ele.
“Tento trazer as pessoas que
estão próximas a mim, que converso sobre, que tem algo a falar sobre o assunto.
Quando parei pra conversar mais sobre, cheguei a uma conclusão quase óbvia de
que todas as pessoas têm uma relação com o nu. Que todas ficam nuas é um fato
(espero que seja!), mas praticamente todas têm o que falar ou trocar sobre
isso. Os assuntos e motivos são infinitamente variados de pessoa para pessoa,
indo de auto-aceitação e superação de traumas a liberdade e naturismo. Os
cenários variam tanto quanto as pessoas porque elas têm uma influência direta
na escolha deles: procuro sempre chegar numa locação que a pessoa fique a
vontade, de preferência que tenha alguma relação pessoal com o lugar, e quando
possível, que infrinja o mínimo possível de leis.”
Essa fala do fotógrafo vem
muito de encontro a como eu percebo a nudez e como eu venho “trabalhando” a
minha própria nudez. Eu amo ficar de calcinha e sutiã, e não ligo de trocar de
roupa em qualquer canto da minha casa, isso já gerou muito blá blá blá com a
minha mãe e irmão, tanto que cunhei a frase “se eu não posso ficar pelada na
minha casa, onde vou ficar?”. No entanto, tirar a roupa e estar suscetível ao
julgamento do outro é ainda desconfortável, e eu percebi que mesmo tendo
vontade de participar de um projeto desse, sinceramente, não sei se conseguiria
me libertar assim desse monte de “roupas” que nos cobre. Eu nunca tinha parado para analisar como a
nudez havia sido vivida (?) pela minha família, mas agora eu percebo que apesar
de as coisas não terem sido escondidas, repreendidas, elas também não foram
estimuladas. Na minha casa o nu era natural, e ao mesmo tempo, entendido como
algo que deve ser coberto. Confuso não?
Por fim, não vou ser hipócrita
e falar que agora corro pelada por ai, longe disso, (até agora, não me
interessei por nudismo, o que me interessa é a expressão artística) também não
vou esconder a inveja que sinto daquelas pessoas que se desprenderam e
participam desses ensaios lindos, mas fico feliz em poder pensar essas coisas,
em colocar minhas crenças e julgamentos em análise, em poder vir aqui e expor
algo que me fascina e encanta, e ainda por crer que você que tá lendo esse
texto possa estar se abrindo para novas reflexões.
Obs: A última fotografia do 365nus
foi postada por Fernando um dia antes do aniversário dele, 8 de abril, podem
vir a serem transformadas em um livro e uma exposição (torcendo para que
aconteça).EU QUERIA COLOCAR AS 365 FOTOS DO PROJETO, MAS NÃO DÁ NÉ :( Não deixem de olhar todas, vocês vão amar.: http://365nus.com/
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Taiany Araujo
3 comentários
Gente, que maravilhoso.
ResponderExcluirConfesso que desde pequeno sempre tive muito receio e vergonhado meu coro. Mas ai eu fui crescendo e percebendo que eu deveria me amar mais.
Hoje, eu me sinto mais livre com o meu corpo. Tenho milhões de fotos sem camisa e as pessoas sempre me zoam por isso, mas eu não estou nem ai. Digo que eu amo o meu corpo e nada vai mudar isso.
Sempre adorei essa historia de nu artístico, principalmente pq pra mim retrata o interior da pessoa, e principalmente, o amor que a pessoa tem por si mesmo.
Adorei o seu texto :3
Obrigada Daniel, e vc falou tudo que sinto, sobre retratar o interior da pessoa. Além disso, sinto q qto mais aceitamos nossos corpos, mais juízes da nossa própria vida nos tornamos. Espero chegar lá algum dia. Obrigada pelo seu comentário. <3
ResponderExcluirMuito bonito o projeto do 365nus mesmo. Eu também gosto dos seus textos sobre o assunto. =)
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