bissexualidade
CCdiário
I kissed a girl and a boy and i liked it: como aprendi que sou bissexual
12.4.16Colaboradores CC
O fato é que somente consegui abraçar completamente minha bissexualidade após me aceitar como sou. E sabe qual foi o primeiro passo? Honestidade. Admitir para mim mesmo aquilo que eu já sabia. E depois disso, tudo ficou mais fácil.
Conceito
Quando comecei a pesquisar sobre bissexualidade, uma das primeiras coisas que descobri foi que a sexualidade é um espectro (Ok, nada de novo, mas ainda assim um conceito importante). Em um lado temos pessoas que se identificam como 100% heterossexual, enquanto no outro temos pessoas que se dizem 100% homossexual. E os abundantes 98% que ficam entre os extremos são bissexuais ou pansexuais. Vale registrar que os assexuais não se encontram nesta escala, que mede atração sexual: os assexuais são caracterizados justamente pela ausência de atração sexual.
Ser bissexual não quer dizer que você necessariamente precisa estar no meio deste espectro e se sentir igualmente atraído por homens e mulheres. Pode haver uma tendência maior para um lado ou para o outro e tal preferência pode variar com o tempo. Quem disse que a sexualidade precisa ser rígida?
O youtuber RJ Aguiar, do canal The Not Adam, disse que bissexuais se importam mais com a pessoa do que com o encanamento. Difícil conseguir um conceito mais simples e preciso do que este.
Rótulo
Estabelecido um conceito, chegamos a questão do rótulo e a coisa mais importante a ser dita: apenas você pode se definir. Trata-se da sua verdade, dos seus sentimentos, da sua vida, e ninguém além de você tem direito a dizer algo nesta questão.
Na escala acima mencionada, me encaixo entre as posições 4 e 5, tendendo para o lado homossexual. E infelizmente ouvimos tanta bobagem (como “é só uma fase”, “é uma fraude” ou “uma hora vai ter que escolher”), tanto da sociedade quanto da própria comunidade LGBT+, que relutei por um tempo em me reconhecer como bi. Pensava que por estar em um lado do espectro talvez eu fosse apenas gay e tivesse medo de admitir.
Por sorte descobri o canal do RJ e em um dos vídeos ele comenta que cada pessoa deveria escolher o rótulo que lhe fizesse sentir mais confortável. Nunca me senti completamente hétero, nem completamente gay, então bissexual foi o rótulo que melhor me serviu. Se para você o conceito de pansexual faz mais sentindo, identifique-se como pan. Se você está quase em um dos extremos do espectro e prefere se identificar como gay ou hétero, também não tem problema. É a sua verdade, os seus sentimentos e a sua vida. Escolha o que te deixa confortável e tenha em mente que esta não precisa ser uma decisão para a vida. Já disse e repito: quem disse que a sexualidade precisa ser rígida? E se a própria sexualidade não é, por que os rótulos precisariam ser?
Será que sou bi mesmo?
Outro fator que costuma gerar confusão em muitas pessoas possivelmente bissexuais é a possibilidade de nunca terem ficado ou transado com pessoas de ambos os gêneros. Então, pode surgir aquela dúvida (que, para ser sincero, também surgiu para mim): “mas como vou ter certeza de que sou bi, se nunca fiquei/transei com outro homem ou mulher?”.
A resposta é simples: orientação sexual não está relacionado a conduta sexual, tratam-se de conceitos independentes. Um diz respeito a atração, outro com quem você se relaciona. Uma pessoa heterossexual nunca teve que transar ou ficar com alguém para ter certeza de que era heterossexual, certo? O mesmo se aplica a todos as orientações sexuais.
Identidade
Andrew Solomon, em uma fantástica palestra no evento TED Med, falou sobre a existência de dois tipos de identidade. Identidades verticais, que herdamos de nossos pais, como etnia ou religião; e identidades horizontais, que são características que diferem daquelas encontradas no núcleo familiar, como uma orientação sexual diversa. Solomon diz que enquanto apreendemos as identidades verticais dentro de casa, as identidades horizontais são descobertas junto de nossos semelhantes. E aí chegamos a um problema.
Enquanto a comunidade LGBT+ como um todo se fortalece, sendo possível ver cada vez mais pessoas assumindo e vivendo sua sexualidade plenamente, o mesmo não se pode dizer da bissexualidade, especialmente da bissexualidade masculina. A Dana inclusive escreveu um texto em que fala sobre como parece haver menos homens bissexuais, e uma das razões apontadas por ela para justificar este mito é o fato de ser raro ver homens bi se assumirem publicamente. O que é um fato. Eu mesmo ainda não me assumi completamente. E por que isso acontece? Vejo dois grandes motivos: primeiro, preconceito tanto da sociedade quanto da própria comunidade LGBT+, e segundo, pela falta de referencial, uma consequência direta do preconceito.
Esse ambiente pouco propício para sair do armário e a ausência de modelos colocam em xeque a ideia de Solomon: como a identidade bissexual vai ser descoberta junto aos semelhantes se os semelhantes não se reconhecem? Digo isto por experiência própria, pois mesmo morando em uma cidade universitária, conhecendo inúmeras pessoas que se identificam como gays ou lésbicas, não conheço ninguém que se identifique como bi. E se tivesse conhecido outras pessoas bissexuais, não tenho dúvidas que meu processo de descoberta e construção de identidade teria sido mais fácil.
Felizmente, vivemos na era da internet e encontrar pessoas como você não é mais tão desafiante assim. Há blogs, páginas no Facebook e canais no YouTube sobre o assunto e aos poucos o tabu começa a se quebrar. Além disso, apesar de haver pessoas preconceituosas dentro da comunidade LGBT+ (como acontece em qualquer outra comunidade), também há pessoas fantásticas e extremamente esclarecidas, que não irão julgar sua orientação sexual.
Concluindo
Gostaria de poder dizer que cheguei a todas essas conclusões do dia para a noite, mas não foi bem assim. Foi um processo de aceitação, de dúvidas, de um preconceito velado que partiu inclusive de amigos. Mas tudo o que importa é a sua verdade, os seus sentimentos e a sua vida. Seja honesto consigo mesmo, por que simplesmente não adianta negar a própria natureza.
Sobre Diego Bertéli: Bissexual com orgulho, escritor nas horas vagas e um pouco antissocial. Fã incondicional de Jane Austen, admite sentir uma quedinha por Lizzy Benet e Mr. Darcy. Advogado com uma leve inveja (ok, ok, muita inveja) das carreiras de Harvey Specter, Patty Hewes e Annalise Keating. Autor do conto Momentos Grandiosos (adquira gratuitamente AQUI).
TAGS:
bissexualidade,
CCdiário,
CCSociedade,
colaborador,
diário,
Diego Bertéli,
lgbt
3 comentários
E olha eu de novo postando eu tudo atrasado. É porque leio muitos dos posts na correria e gosto de comentar agradecendo né. Vocês não tem noção de como me ajudam a discutir e falar sobre estes temas na minha rotina. Isso aqui é a minha Wikipedia :)
ResponderExcluirEste post enviei para uma amiga e foi lindo pois ela finalmente soube se "rotular", não que eu seja a favor disso nem queira forçar ninguém à isso... Mas ela ficou feliz, pois soube dizer melhor o que ela sentia mesmo quando outros não sabiam classificá-la.
De novo. Obrigada :)
E olha eu de novo postando eu tudo atrasado. É porque leio muitos dos posts na correria e gosto de comentar agradecendo né. Vocês não tem noção de como me ajudam a discutir e falar sobre estes temas na minha rotina. Isso aqui é a minha Wikipedia :)
ResponderExcluirEste post enviei para uma amiga e foi lindo pois ela finalmente soube se "rotular", não que eu seja a favor disso nem queira forçar ninguém à isso... Mas ela ficou feliz, pois soube dizer melhor o que ela sentia mesmo quando outros não sabiam classificá-la.
De novo. Obrigada :)
Não consegui baixar o conto...
ResponderExcluir