batDRAMA causas sociais

Batdrama: Todos nós estamos lutando contra o medo

11.4.16Dana Martins


heeeeeey. Eu tava pensando em não fazer esse Batdrama. Mais do que isso, talvez até parar de fazer os Batdramas - nenhum drama dessa vez, é mais uma questão de tempo. Ou como eu prefiro dizer: prioridade.


Pausa só pra dizer que isso ia ser um texto "Bastidores da Dominação Mundial", mas aí quando fui ver entrei numa discussão sobre a vida e seres humanos??? Rolou até Jogos Vorazes. Não sei o que aconteceu. Mas é o que tem pra hoje.

Boa leitura viagem.


Explicaçãozinha: não gosto de dizer que eu to sem tempo pra fazer algo, porque isso é uma mentalidade que tira a autonomia da pessoa. Tipo, eu to sem tempo, então não tem nada que eu possa fazer. Se eu falo que é uma questão de prioridade, eu assumo a responsabilidade das minhas escolhas e penso que eu escolhi não fazer determinada coisa porque eu reconheço que a coisa Y é importante. Acho que se você pensar, na vida a gente nunca tem tempo o suficiente pra tudo o que poderia estar fazendo, ou a gente tem sempre 24 horas do dia pra decidir como nós vamos aproveitar.

Pensar em questão de prioridade, é tipo, por que eu não tô escrevendo hoje? Porque eu sou inútil??? Ou porque depois de cumprir todos os meus Deveres™ eu prefiro tirar um tempo pra descansar vendo qualquer coisa na timeline, que é importante pra saúde mental? É porque eu tenho coisa demais pra fazer, ou porque eu decidi que dedicar o tempo aos estudos é mais importante do que pintar aquarela? É porque eu tô com trabalho demaaaais evento social pra comparecer troço pra estudar post pra fazer, ou porque eu me prendi em uma rotina tóxica de obrigações que não é a vida que eu queria estar vivendo e eu não sei como sair?

Enfim, é sobre não tirar de si o controle da própria vida. É sobre parar pra refletir que você não tá completando aquela to-do list de miçangas pra vender na praia, mas você tá sendo foda pra caramba em sair da cama às 6 da manhã e passar o dia inteiro fora lidando com umas merdas que você nem gosta tanto assim.

É sobre refletir que tempo de lazer é tempo bem aproveitado também.

É sobre sair de um ciclo em que você fica se culpando eternamente por não ser bom o bastante e passar mais a apreciar o dia a dia.

É sobre se olhar no espelho e pensar o que pode ser melhor pra você, mesmo que seja chutar o balde na faculdade pra se divertir com os amigos até mais tarde.

Ok, virou uma explicaçãozona. Mas a conclusão final é: é sobre se sentir bem, porque você merece ser feliz e às vezes a gente fica sofrendo sem necessidade.

APROVEITA BASTANTE. BOTA A CARA NO SOL, QUERIDAAAA

E é por isso que eu vou começar oficialmente o Batdrama com a melhor com nesse planeta Terra:

Pula logo pra o 0:30.

Meu novo otp: eu + esse vídeo.

Isso é uma obra de arte. Não é tipo, "hey, eu gosto de uma música", é tipo CARALHOOOOOOO ESSA. É. A. MINHA. MÚSICA. E. EU. PRECISO. APROVEITAR O MÁXIMO PORRAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA É O MEU MOMENTO VOU BRILHAR AAAAAAAAAAAH

Eu amo esse vídeo. É a coisa mais maravilhosa. Te amo @ god por nos abençoar com isso.


Então, o que vai ser o tema de hoje?

O QUE SERÁ?

QUE NOVIDADE A DANA TRARÁ?

SERÁ QUE ELA IRÁ FALAR SOBRE...

*rufar dos tambores*

ok, você já sabe sobre o que é. Mas hoje eu quero tentar falar de uma perspectiva diferente, que é tipo: Como é fazer parte de um movimento mundial que tá lutando por mais representatividade?

Eu não posso contar todos os babados, porque OH, MUITA COISA SINISTRA, ALTAS FOFOCAS. NUNCA NEM TIVE TEMPO DE CONTAR PRA BELLS SOBRE A GUERRA DOS BAMON. E também não posso contar tudo que é literalmente cada dia da minha vida durante o último mês inteiro, e aconteceu tanta coisa que é mais fácil eu escrever um livro do que um Batdrama sobre, maaas eu posso contar um pouco sobre as coisas.

É aqui que a coisa foi pra outro caminho diferente. Babados estão adiados. 

Camp Nanowrimo tá indo assim uma loucura, devo ter umas 5k palavras perdidas por acaso. 

Sobre minha a vida: to bem. mas muita coisa pra fazer.

A parada é o seguinte:

Dia 3 de março de 2016 eu aprendi algo:

minorias são massacradas 

Tipo, não é aprendi de "fui lá e li", é tipo eu senti visceralmente o impacto de ser parte de uma minoria, eu vi as pessoas sofrem com isso, foi tipo um tiroteio sinistro porque de repente eu vivenciei em primeira mão muita coisa que eu leio nos textos sobre minorias.

Ali em cima a formulação verdadeira é "minorias são oprimidas", mas o termo opressão já virou tão lugar comum que eu não sei se a pessoa sente exatamente o que eu quero dizer quando falo que minorias são oprimidas. Elas são massacradas, mutiladas, assassinadas, estranguladas, sufocadas. Metaforicamente e literalmente.

Nós já enviamos uma newsletter da Hora da Conversa sobre a vez que uma das pessoas da equipe do CC foi perseguida porque estava com o namorado de mesmo gênero.

Nesse dia 3 de março foi como se de repente meu cérebro tivesse entendido que cultura mata.

Pensa sei lá no nazismo. Vou simplificar muito as coisas aqui, mas pensa: como é que chega ao ponto de existir um governo nazista onde eles transformam em alvo um grupo específico (judeu) e matam em câmeras de gás? Assiste um filme desses bem dramáticos, pensa em como que é alguém consegue fazer isso.

Pensar na escravidão em que os brancos viam os negros como uma posse. É desumano. E acontecia.

Não sei o que me deu essa ideia, mas enquanto eu crescia na escola eu sempre pensava que isso tudo existia no passado e agora as coisas tinham mudado porque YEY CONQUISTAS DE DIREITOS! Mas não, toda essa merda tá acontecendo agora também. Não é o nazismo ou um sistema escravocrata (com os negros), mas tem muita merda pesada acontecendo assim.

O mundo é meio sinistro, gente.

E se você consegue ir em frente e viver sua vida comer seus fandangos, você faz parte de um grupo privilegiado.

Mas aí tem outro nível, que é o dilema da Criança Morrendo de Fome na África. Todo mundo sabe desse "fato", volta e meia sai uma foto de algum famoso branquelo com a criança desnutrida no colo. Mas a gente aprende a viver como se isso fosse quase uma realidade paralela. Não é o nosso mundo. Não é o nosso dia. A gente nem vê. Não sabe nem o nome dessa criança. Não tem o que você possa fazer (a não ser que você seja uma criancinha que não aguenta mais de tanto comer e decide jogar no lixo pras crianças que morrem de fome catando lixo poderem comer também).

enfim.

O fato é que isso é uma mentira.

Ou isso é uma verdade conveniente.

Essas coisas estão acontecendo agora. Com você.

Pode ser que não seja a mitológica Criança Morta de Fome, mas olha, aqui vai uma lista:

1- Machismo
2- Racismo
3- Fobia a qualquer coisa relacionada a LGBT+ (homofobia, transfobia, bifobia...)
4- Cultura sexonormativa
5- Gordofobia
6- Xenofobia

Esses são só os que passaram pela minha cabeça agora. No fundo, tudo isso tem a mesma raiz: alienação.

Não gosto de usar palavras assim, que eu nunca sei direito o que significa, mas seu cérebro disse que "alienação" é o que descreve a situação. E essas definições que eu encontrei no Google explicam bem:

"A alienação é a diminuição da capacidade dos indivíduos em pensar ou agir por si próprios.

Os indivíduos alienados não têm interesse em ouvir opiniões alheias, e apenas se preocupam com o que lhe interessa, por isso são pessoas alienadas.

Na Sociologia ser alienado é estar alheio aos acontecimentos sociais, ou achar que está fora de sua realidade. É não se reconhecer como agente produtor da História."

Eu imagino alienação como tipo a pessoa passando do lado de alguém sendo espancado e ir embora direto, talvez nem se dando conta do que tava acontecendo. Pera! Eu tenho uma imagem melhor pra isso:


Foco no pessoal aplaudindo ali atrás. Katniss, Peeta e os tributos estão ali pra morrer. Como é que você não perceber isso? Como você pode se divertir com isso? Como você pode sentar e assistir e não fazer nada? Como você pode nem perceber que isso é errado?

É isso o que eu digo quando falo em alienação.

A verdade é que tem muitas questões acontecendo com a gente agora, que nós simplesmente fingimos que não existe. Eu até poderia dizer - é fácil esquecer que existe porque não afeta, mas isso não é nem verdade. A gente internaliza essas mentiras e vive se machucando sem perceber. Pensa em Jogos Vorazes nos tributos do Distrito 2 (os carreiristas), que tratam o Jogos Vorazes como uma competição esportiva real. Pensa só.

Você acha mesmo que isso é normal? Acha que é normal o pessoal ser obrigado a lutar pela própria vida porque o governo tá com vontade, porque outra pessoa quer entretenimento? Não é.

E aí parece algo tipo "ok, é distopia, não acontece realmente...", só que acontece. O Jogos Vorazes é baseado em luta de gladiadores que aconteceu de fato na história da humanidade. E não duvido nada que tenha muito lugar por aí que grupos se encontram/obrigam gente a lutar vida ou morte por diversão. 

Mas algo igualmente sinistro que existe hoje em dia aqui no Brasil: Estupro "corretivo". Tipo, descobrem que a garota é LGBT+, aí a família coloca um dos homens (às vezes até o próprio pai) pra estuprar a garota pra consertar. Isso é realidade. Isso acontece agora.

E não duvido nada que os pais devem forçar filhos LGBT+ a fazerem sexo com uma mulher, contratar uma prostituta ou qualquer coisa assim pra "dar um jeito" também, só que a gente vive em uma cultura onde até séries grandes como Game of Thrones mostram homens sendo estuprados como se fosse algo ok. Existe essa ideia de que homem sempre gosta, sempre é favorecido. Uma mulher fez sexo com um cara acorrentado que se não obedecesse poderia morrer? Ele se deu bem

Só que ainda é estupro, e por causa dessa forma de pensar eles sofrem os danos psicológicos, mas não procuram ajuda.

Eu nem precisava falar de estupro corretivo, né? Estupro em si já é algo que acontece demais e não deveria.

Acho que divaguei... eu só queria comentar que me impressiona na capacidade do ser humano de fazer violência sem perceber. 

E eu não estou fora de nada disso, só pra constar. Eu sou alienada a muitos assuntos, e já devo ter machucado muita gente sem ter a mínima noção.

Mas e aí? O que a gente faz? A gente para a nossa vida e vira ativista social contra... contra... tudo isso ao mesmo tempo? Ou não faz nada, é só pra saber que essa tristeza toda existe? A gente nunca vai conseguir mudar tudo isso! Pelo menos não numa vida só. Como é que alguém pode saber disso tudo???? É coisa demais pra se preocupar. Não dá. Se a gente também vai sempre falhar porque tem algo que nós ainda não sabemos, qual é o propósito?


*respira fundo*

Quanto mais eu penso nisso tudo, mais a minha conclusão é de que a resposta não é ser Certo™. Não é exatamente o que você faz, é como você faz. 

Você é consciente dos seus próprios privilégios?

Você busca aprender e entender o outro?

Quando alguém diz que você falou uma merda, sua reação é negar ou parar pra pensar que dois pensamentos diferentes coexistem?

Nós seres humanos sentimos as coisas de maneira diferente. O conceito de algo que é "gatilho" (trigger) é muito interessante, porque é tipo: uma coisa aleatória que dispara uma experiência traumática em alguém. Pode ser uma torrada. Pode ser uma cena gráfica de alguém cortando os pulsos. 

O João falou aqui uma vez sobre uma capa da revista da Batgirl com o Coringa, que chegou a ser tirada de publicação. Quando eu vi a capa, eu não senti absolutamente nada. Ou pelo menos deslumbramento porque é uma arte impactante. Mas tem gente que pode ter um ataque de pânico com aquilo.

Falando sério, eu realmente amava The 1OO, agora eu vejo gif de uma cena de episódio que eu nem vi e sinto dor. Tipo, dor física, real. Só de começar a pensar começa a dar um aperto no peito. Tu acha o que? Que eu escolho sofrer porque eu adoro? Amo/sou sofrimento. E enquanto isso tem gente que vê a mesma coisa e fica: e daí???

E entender que a nossa realidade não é a única realidade é muito importante. 

MAS AÍ QUE QUE EU FAÇO? NÃO FAÇO NADA POR QUE PODE MACHUCAR ALGUÉM? ACABOU LIBERDADE DE EXPRESSÃO AGORA, NÉ?


Olha, tem um cara babaca chamado Jason que é em quem eu penso toda hora quando falo disso.

Eu consigo imaginar duas opções.

A simples: confiança. Só faz o que a pessoa tá dizendo e vai em frente. Não sabe o que é apropriação cultural? Tão falando que o que você tá fazendo é apropriação? Confia. Para de fazer e vai embora, escuta o que o outro tá dizendo.

A melhor: vê o outro lado. Por que é apropriação? O que é apropriação? O que é racismo? O que é racismo estrutural? O que é privilégio? Pede opinião de alguém do grupo antes de fazer.

E principalmente: não faz a história ser sobre você, não precisa se explicar. Pensa no que você pode fazer pra não repetir.

Parece difícil, e a única razão disso é: cultura.

Cultura é tipo a forma de pensar, as coisas que a gente faz, como a gente faz. Por exemplo, a gente tem a cultura de ler livros, enquanto tem lugares que lê quadrinhos é mais comum. Carioca vai pra shopping de chinelo, faz parte da cultura de carioca, mas em outros lugares: jamais!! Faz parte da nossa cultura achar que o homem é mais forte e deve se preocupar com músculos, e aí o pessoal faz revista com homem musculoso na capa, coloca super-herói musculoso, espalha quase tanta academia quanto igreja pela cidade, exclui o garoto gordo, faz programa gordofóbico pra obrigar os homens a emagrecerem, etc. 

O CC, por exemplo, se chama ConversaCult, que é pra conversar sobre cultura, mais especificamente sobre a cultura jovem pop (que é mais a nossa cultura). 

De repente fiquei cansada desse texto.

Acho que fiz essa viagem toda só pra dizer que

Não sei. 


Eu escrevendo o Batdrama (e basicamente tudo na vida):


Não sei, cara. Acho que eu só tava refletindo sobre a vida no geral mesmo, como às vezes tem coisa que TÁ. NA. NOSSA. FRENTE. mas a gente não vê, e a gente ou ignora, ou muitas vezes tenta oprimir, ou não acredita.

Faz um mês que eu tô falando sobre o que aconteceu com The 1OO, ao ponto de ter gente vindo me dizer que tava chato e me pedindo pra falar de outras coisas, e aí acontece algum Novo Fator e eu escuto alguém falar "caramba, o negócio é sério mesmo".

Como eu me sinto:


Eu tô literalmente falando disso há um mês, mas existe esse bloqueio que a pessoa simplesmente não acredita acredita.

Lembrei agora de uma série de tweets que eu vi essa semana, que é tipo "lista de estudos que descobriram coisas que as pessoas negras estão falando a vida inteira".

Até salvei essa parte aqui:

"Estudo descobre que americanos brancos são maior ameaça nos Estados Unidos"


"Estudo de Standford revela que americanos brancos não acreditam que privilégios raciais se aplicam a eles pessoalmente"

Aliás, to grata de encontrar isso porque é exatamente isso um dos maiores pontos nesse texto. A gente não acredita que os problemas aí do mundo são algo que se aplicam a nós, a gente pode até pensar "ah, eu sei que sim", mas não num nível de "epa, eu posso fazer algo pra mudar".

Um segredo: uma grande parte da cultura é criada por você.

você tem o poder pra mudar cultura.

Quando você vê alguém falando merda machista, e responde, você mostra que não é ok ser assim.

Quando você deixa de ver um filme racista porque usou atores brancos pra fazer deuses do Egito (que não são brancos), você tá dizendo que essa merda não é aceitável.

Quando você assiste um filme e considera possibilidades de relacionamento que não sejam só entre homem e uma mulher, você está mudando a cultura.

Quer um exemplo super fácil?

Pensa em você com os seus amigos vs. você com os seus pais.

Nesse caso você tá mudando de "cultura", mas se você pode fazer isso - você também pode repensar a forma como você se relaciona no resto do mundo pra ser mais inclusivo. 

E eu sei que isso é possível porque eu vivo isso.

Enfim...


O mundo é um lugar terrível e a gente pode humanizar umas formas sinistras de violência. Mas o mundo também é um lugar muito bom, com amizade, diversão, realização pessoal e etc. Nós estamos fazendo coisas maravilhosas. Nós já estamos mudando o mundo. Você chegar até aqui nesse texto é uma prova de que você tá aberto a repensar cultura. 

Eu não sei, eu não quero ditar o que é certo.

Mas eu também acho que é importante lembrar de ter esperança e confiar e se abrir pra o outro. De que você pode ter uma vida que te faz bem, e se isso não tá acontecendo, você tem o direito de repensar isso aí. E de que...

eu não sei. 

Às vezes a gente tem que apostar pra ver o que vai acontecer. 

Pensando agora, essa é a ironia desse texto: a suposição de que você vai juntar informações e vai estar preparado pra poder fazer o que é certo e melhor! yey!

mas ninguém sabe de porra nenhuma e às vezes o pessoal tá gritando contra você, mas e aí?? 

Acho que termina naquela velha questão de medo vs. fé:

"Eu percebi ao longo da existência humana
Uma coisa é consistente
E é que todos nós estamos lutando contra o medo"

Há coisas que nós podemos fazer
Mas das coisas que funcionam tem apenas duas
E entre as duas que nós escolhemos pra fazer
Paz vai vencer
E medo vai perder
Existe fé e existe adormecer
Nós precisamos escolher um por favor porque
Fé é estar acordado
E estar acordado é a gente pensar
E a gente pensar é estar vivo"




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