Ume amigue minhe pediu no facebook depoimentos de pessoas que se assumiram homo/bi/pansexuais, trans (binários e não-binários) de como foi quando eles se aceitaram e se assumiram, e eu resolvi escrever uns dois, três parágrafos rapidinhos, só pra falar por cima como eu me sentia e como eu me assumi.
Ah, talvez esteja esquecendo um pequeno detalhe dessa história toda. Eu sou bissexual.
"Eu pensei que seria mais seguro no armário" |
Saí, sou linda demais pra ficar no armário (além de ter alergia a poeira) ((Dana, viajei ou parece a menina de The 100??)) |
Desde que eu comecei a olhar de modo diferente pra garotos, eu também olhava do mesmo modo pra meninas. Honestamente, eu não sei te dizer quando foi isso, minha vida romântica era uma grande mistura de crushes nos/as meninos/as da escola, cantores (Junior, se você tiver lendo isso, um abraço) e personagens de desenho animado (Fred, Wally West e Questão, um abraço pra vocês também. "O Questão??" Sim. Não sou a única menina que conheço que teve crush por ele). Mas eu fui criada numa família tradicional, meio rígida, e sempre ouvia que gostar de alguém do mesmo sexo que você "não é certo". Então eu suprimia o que eu tava sentindo, mirava só nos meninos (por quem eu tinha uma atração verdadeira mesmo, não era algo só pra encobrir) e vida que segue.
Cresci sempre encobrindo tudo o que eu sentia, atrações, me envergonhando e achando que, ó Deus, iam me julgar e julgar se alguém soubesse o que eu estava pensando. Vou te dizer, isso é beem cansativo. O que eu sentia e vi descrito num livro da Marian Keyes, e algo parecido no filme "Mamma Mia", era a "culpa católica": sentia que estava fazendo algo errado enquanto estava na Igreja (fiz primeira comunhão e participei de grupos jovens), mas mesmo depois que saí, aos 13 anos, ainda continuava fazendo coisas que fazia enquanto estava na Igreja, como me benzer ao passar na frente de uma, não comer carne na sexta-feira santa, e adivinha, ficar mal por sentir atração por meninas, por certos tipos de pensamentos com meninos, por me masturbar (é, eu falei a grande palavra feia com M. Meninas se masturbam. Elas também gostam de sentir prazer. Get over it). Isso durou por anos depois que parei de frequentar, depois de não me considerar mais católica e sim agnóstica.
Minha cabeça nesse turbilhão todo. |
Numa conversa com amigos que se assumiram homossexuais ou bissexuais, eu refleti, refleti, refleti, aí meio que caiu a ficha e tudo fez sentido. Mas aí vieram os questionamentos:
"Ok, mas... será que eu falo pra alguém?" (além dos meus amigos no meio da conversa que já estavam sabendo, óbvio.)
"Será que minhas amigas vão ficar de boas, ou elas vão ficar com medo de trocar de roupa na minha frente?" (pff, elas são pessoas maravilhosas, óbvio que não tiveram essa reação)
"O que o meu namorado vai achar?" (ele ficou super de boas ao me ver super de boas comigo mesma)
"Porra, vão ficar achando que eu tô seguindo modinha" (amigues, então tô seguindo modinha há muito tempo hein, porque olha)
"Conto pra minha família ou não?" (Muitos problemas que seriam desnecessários por agora, e por terem criação rígida, é tudo muito preto no branco, ou homossexual ou hétero, iam falar que eu ia trair meu namorado com uma garota, iiihhh, melhor não. Não tenho uma relação "yay-somos-melhores-amigos-contamos-tudo-um-pro-outro", então não vai me deixar com um peso na consciência)
"Mas e se falarem que eu não tive experiências com meninas, então como eu saberia que sou bi ou não?" (Primeiro: acho que isso não tem a ver com pegar ou não, e sim sentir atração sexual. E sim, eu sentia atração sexual tanto por meninas quanto por meninos. E sim, eu já fiquei com meninas. Mas inicialmente eu fiquei envergonhada de falar isso, porque eu sempre escondi, MAS CARA, O PROPÓSITO DISSO TUDO NÃO ERA SE ACEITAR? ENTÃO, PEGUEI MENINAS MESMO, MUNDO! I KISSED A GIRL AND I LIKE IT #KatyPerryFeelings)
Por que eu tô escrevendo isso tudo? Porque enquanto eu escrevia pro blog de minhe amigue, eu fiquei muito mal lembrando de tudo o que eu tive que esconder e do quanto eu me envergonhei de algo que não deveria ser motivo de vergonha. Não fiz nada de errado. Uma vez uma amiga minha ficou triste porque a mãe dela estava agindo como se ela ser lésbica fosse muito errado, e a Taiany falou:: "Eu espero ardentemente pelo dia que a orientação sexual nem seja pauta". Sabe, o fato com quem você quer se apaixonar, fazer sexo (ou não) não deveria afetar nossa sociedade do jeito que afeta.
"Então, sou bissexual. Qual o problema? É uma coisa e é real. Quero dizer, é chamado LGBTQ por um motivo. Há um B ali, e não significa badass. Okay, talvez um pouco, mas também significa bi, |
Interessante que a pesquisa de imagem me retornou essa gif que estava num post sobre bissexualidade no CC. Olha nessa tag aqui, tem um posts bem legais sobre.
Então, se você está passando por isso, já passou, ou está se preparando pra passar, pode ser bem complicado (e na maior parte das vezes vai ser, eu dei muita sorte de não ter dado nenhum beyblade nessa situação toda, além da minha cabeça embolar), mas eu sei que você vai conseguir passar por tudo isso. Queria deixar também uma imagem pra você:
Abraço fantasma - Você pode não sentir, mas está aí! |
E caso você tenha alguma dificuldade pra falar qual sua orientação sexual, eu deixo como sugestão essa gif:
Ou se te perguntarem se você gosta de meninos ou meninas, você pode responder com essa gif:
"Os dois. Os dois são bons" |
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10 comentários
"Você gosta de meninos ou meninas? Sim."
ResponderExcluirTambém é sempre uma resposta ótima haieuhae
Sobre o post:
Finalmente algum sobre a perspectiva de alguém que aparentemente sabia que poderia existir (?) e/ou ~sempre~ se percebeu assim, mesmo que não se aceitando muito bem inicialmente (lance da culpa católica/cristã). \o/
Morro de amores pelos posts de Dana sobre o tema, mas eles tem mais o caráter informativo e de mostrar que a bissexualidade existe, e que é uma orientação sexual válida - cumprem muito bem o papel, por sinal. Mas eu nunca tive problemas em entender/aceitar isso, então meio que não me identificava com nenhum deles, até comentei isso com ela uma vez.
Eu meio que sei que sou bi desde criança (!), sempre me peguei olhando da mesma forma pra ambos. Mas desde muito cedo também percebi que pras outras pessoas isso não era ok. Então apenas não demonstrava que era diferente, mas sabia que existia a possibilidade de ficar/gostar de uma menina a qualquer momento. Tanto é que quando isso aconteceu não foi nenhuma surpresa pra mim, não tive nenhum dilema ou crise pra me aceitar. Eu sempre soube que era ok, mesmo que pros outros não fosse.
Sobre se assumir bi: é algo que eu tenho feito há algum tempo ou tentado fazer mais. Porque, né? Pra quem não é hétero, todo dia é dia de sair do armário. Isso é um saco. E também não vejo a hora pra que deixe de ser importante, pra que a orientação sexual seja vista apenas como mais uma característica, afinal é isso que é.
No meu caso, boa parte dos meus amigos sabem e algumas pessoas do trabalho também, mas não é uma coisa que eu pretenda contar pra família, porque... muitas tretas desnecessárias para o momento e também não teria um pingo de peso na consciência em não contar. Mas é foda/triste(?) constatar que a gente pode se assumir pra internet inteira ou pro mundo, mas não pode/quer fazer isso na própria casa.
PREACH, SIS! Eu acho triste perceber que preciso me esconder pras pessoas que teoricamente deveriam me apoiar mais. Mas enfim, assistindo Supernatural eu aprendi uma lição valiosa: "Family don't end with blood", ou seja, família nem sempre é o sangue. Alguém que você fez amizade por internet pode ser muito mais sua família do que uma pessoa que por algum acaso compartilha uns genes com você.
ExcluirE eu tô feliz, porque a família que eu escolhi me apoia, e isso basta por enquanto.
Que post delicioso!
ResponderExcluirMeio que foi um tiro de MM's na minha cabeça, então tô cheio de coisas doces de chocolate aqui quicando dentro dela.
Eu vi uma frase em algum site cristão que caí pelo maior dos acasos, mas que valeu toda a pena do mundo. Uma guria, ops, um mito em forma de guria disse o seguinte, se bem me recordo:
"Gente, acorda!!! Deus criou o homem e a mulher!!!
...E é por isso que eu vou beijar os dois."
Eu ri até abrir o Mar Vermelho. Acho que ela bugou meio mundo com essa frase.
E eu acabo de rir tudo de novo com esse .gif do 'Nsync. HAHAHAHAHAHAHA
Eu não sei aonde eu estava lendo (preciso ler melhor, não mais do que leio. MELHOR), mas a sexualidade mais frágil é a heterossexualidade masculina. Qualquer coisa a arranha para sempre. Uma mulher pode ficar com uma mulher e seguir sua vida. Um homossexual masculino (cis ou não) pode ficar com uma mulher e seguir sua vida.
Um homem heterossexual cis não pode ficar com um homem. Isso o torna [complete com alguma coisa aqui] para sempre.
Eu normalmente completo com "bem resolvido", mas não é o caso, sempre.
Isso coloca a bissexualidade masculina como, talvez, a segunda sexualidade mais frágil. Não só porque já existe um certo ~mérito~ em nunca ter sentido coisas pelos amiguinhos, mas sobretudo pelo medo de ser expulso do armário de uma vez para o outro lado do muro.
[GENTE, EXISTEM PESSOAS EM CIMA DO MURO. Essas pessoas podem estar confortáveis em cima do muro. Elas veem a festa de um e outro lado do muro. Elas pulam para um lado, sobem no muro, pulam para o outro, sobem no muro. O ideal seria não haver muro, mas...]
E não entendam eu dizer "em cima do muro" como "indecisas". O complexo da bissexualidade é que ela pode ser sazonal. Você reconhece a natureza bissexual do ser, mas naquele momento ele (ou ela) não se interessa por nada além de um dos gêneros. E depois muda de ideia. E tudo bem.
Viva os ornitorrincos da sexualidade humana. :D
Emanuel, eu entendi que talvez você quis ter falado sobre a sexualidade humana ser fluida, e até concordo com isso, mas acho que você soou um pouco ofensivo, mesmo sem ter sido sua intenção.
ExcluirSabe, uma pessoa pode ter atração por mais de um gênero, mesmo que só fique com um deles. Vou te dar meu exemplo. Eu namoro há quase um ano um homem. Antes disso, fiquei com outros caras. Bem antes disso, namorei um cara. E sóóó antes desse cara, eu fiquei com meninas. Mas isso não me impediu que ao longo desses anos eu tenha sentido atração por meninas, sacas? Você vê a pessoa ficando com somente um gênero, mas na realidade cê não sabe o que tá passando na cabecinha dela.
Sim, um pessoa hetero/homossexual pode ficar com alguém do mesmo gênero/gênero oposto e não ser bissexual. A sexualidade humana é fluida, nisso não vejo dúvida. Mas a bissexualidade, assim como a pansexualidade, existe também. Podemos nos sentir atraídos por mais de um gênero mesmo que só fiquemos com um só. Isso não é "mudar de ideia". Nós não somos ornitorrincos.
Imagina você, Emanuel, ano de 1993, dois homens, já com vivência e colegas de faculdade se tornando namorados. Eu Cisgenero mas sentindo atração por homem, nada arrebatadora, com 27 anos! Meu colega, Cisgenero também com 35 anos, que havia sido noivo de mulher! Naquela época podemos contar com a heteronormatividade que apregoava, homens poderem dormir juntos na casa dos pais, assim como banheiros por gênero (nesse quesito vigorando até nossos dias)! E foi na casa dos pais dele, que tivemos a primeira transa do nosso namoro! Como heteronormativo, tomei banho antes dele, fui para o quarto dele apenas de sunga e a "então" minha cunhada pareceu se "identificar" com a cena: banho tomado antes, indo ao quarto antes do mano dela, um detalhe de feminilidade, digamos assim! Mais foi discreta!
ExcluirNossa. Simplesmente perfeito esse post. Já passei por isso, e ainda passo, e sei como é tenso. Adorei :3 (Hoje eu to meio sem criatividade pra textão suahsuash)
ResponderExcluirNão precisa de textão, só de comentar já foi legal <3
ExcluirObrigada! :D
Amei!! Parabéns!! =D
ExcluirParabéns pelo post! De todos sobre bissexualidade e afins, esse foi o que eu mais gostei. É muito bom ler textos assim, de cunho mais pessoal, e que permite uma aproximação e identificação mais fáceis.
ResponderExcluirEu me identifiquei com a parte de "abafar que gosta de meninas". No meu caso, eu fiz isso meio que sem perceber, sabe como é, a gente se deixa levar pelo que a maioria acha. Deixa eu narrar um pouco de como eu me descobri. Aos 22 anos, através de uma crise existencial pós-término de namoro, (e começar a andar com a galera maravilhosamente gay (amo/sou)), eu repensei toda a minha vida, e percebi que eu incuti em mim aquela máxima social de que “gostamos de um só”. Eu norteei boa parte da minha adolescência repetindo, apenas por repetir, besteiras do tipo: “Como assim gostar dos dois?? Como assim não ligar pro gênero da pessoa??? O horror, o horror!” Foi repensando isso, que eu me toquei que eu tive inúmeras paixonites por garotas. E que eu abafei isso pra ninguém me achar mais esquisita do que eu já era taxada. (na vida eu sou a Mel C. Só que sem ser ryca, popular, e Spice Girl).
Hoje, aos 24 anos, sou super feliz como sou, e liguei muito o FODA-SE pra sociedade. Só tem duas coisas que me irritam: 01 - algumas pessoas acharem que eu sou hetero quando estou com homens, e lésbica quando com mulher, e 02 – que eu tenho obrigação social e moral de avisar pra TODO MUNDO que eu sou bi. Sério, não entendo essa necessidade de “você tem que sair do armário”. As pessoas não saem do armário e se declaram heteros, elas simplesmente seguem a vida delas. Por que eu tenho que fazer isso? (não sei se me fiz entender).
Parafraseando Marthin L. King, eu tenho um sonho. Meu sonho é que um dia, orientação sexual seja tratada como eu trato cor de olho.
ENTÃO, PEGUEI MENINAS MESMO, MUNDO! I KISSED A GIRL AND I LIKE IT #KatyPerryFeelings)²
PS: Adorei os gifs! Vou usar com carinho o do ‘N Sync
PS 2: super Marie Avgeropoulos mesmo a moça ein! Se você não avisa, achei que era ela O.O
É, foi meio assim, eu sempre fiquei "Não, não pode" e aí chegou uma hora que eu pensei "POR QUE NÃO PODE?? EU HEIN" hahahahah
ExcluirUse o gif do N'Sync sim! xD