agressão
batDRAMA
Batdrama: COMO É QUE FAZ PRA LIDAR COM COMENTÁRIO HOMOFÓBICO, RACISTA E MACHISTA?
29.2.16Dana Martins
TÁ DIFÍCIL, GENTE. Eu acho que eu manti meu espírito Avatar do equilíbrio por muito tempo, porque eu tive a sorte de não encontrar gente idiota. Essa semana não foi assim. É difícil não sair gritando em resposta, mas sério... jesus.
1- Vou explicar pra pessoa como ela tá falando merda.
2- VOU CHAMAR ELA DE HOMOFÓBICA NA CARA E FALAR QUE ELA É MALUCA E PQP VAI TOMAR NO CU TU TEM NOÇÃO DA MERDA QUE VOCÊ TÁ FALANDO? VAI SE FODER
3- Vou tentar conversar e tentar entender o lado da pessoa.
4- Vou dar uma resposta tão neutra quanto possível porque não vale a pena argumentar.
5- Algum comentário irônico.
6- "Olha eu quero te matar, mas... esqueci o que ia dizer. Eu tô tão irritada que só consigo pensar na parte de matar mesmo."
o que eu fiz pra atrair esses blarke pra minha vida socorro |
HUAHUAHUHAUAHUAHUAH
A merda é que isso me irrita tanto.
Epa, nem falei o que aconteceu, né?
Epa, nem falei o que aconteceu, né?
É que hoje acordei pra abrir o email e ver que eu recebi um comentário homofóbico/machista/racista no meu texto sobre o último episódio de The 100.
O único lado positivo é que eu fui de "tédio... nada... calma..." pra vontade de matar alguém.
Graças a deus meu irmão tá aqui, porque fui lá falar com ele e desabafar minhas frustrações com a humanidade. E comigo.
COMO É QUE LIDA COM ISSO? EU NÃO SEI LIDAR COM ISSO |
Porque tipo eu sempre pensei que responder com grosseria ou piada não é bom, porque muitas vezes esses comentários vêm de desinformação, ou a pessoa não sabe o que tá falando. Verdade seja dita - eu já estive lá. Eu nunca fui o tipo de pessoa que falava muita merda, MAS eu tinha* todos esses preconceitos enraizados e até não conhecia direito a situação pra falar, tipo quando eu inventei toda uma lógica pra dizer que usar a palavra "gay" de brincadeira estava tudo bem. Ou o clássico sobre a "liberdade de expressão", tipo quando alguém fala uma coisa ofensiva, principalmente comediante ou filme, e aí quando reclamam a pessoa diz que "querem acabar com a liberdade de expressão". Eu fui uma dessas pessoas.
*tinha não, eu ainda tenho muita coisa pra aprender. esses dias mesmo mostraram uma coisa transfóbica que eu disse num texto aqui do CC de um ano atrás.
*tinha não, eu ainda tenho muita coisa pra aprender. esses dias mesmo mostraram uma coisa transfóbica que eu disse num texto aqui do CC de um ano atrás.
Mais uma série de coisas mais sutis... que eu só não via problema e achava que o pessoal tava exagerando.
Tive que interromper a escrita aqui porque não tô satisfeita e precisei compartilhar com as minhas amigas o comentário que me irritou, "quer ver mesmo? ;x trigger pra vontade de assassinar pessoas"
Pensando agora, sei nem que livro é esse que tem essa parte que parte gente |
O problema não é nem dizer isso, eu posso explicar de boa todos os erros de lógica aqui. Isso não é nem questão de opinião, é de fatos e eu mostro pra quem não entender tranquilamente. O problema é que a pessoa entende errado e já vem toda prepotente falando merda. o.ó (mas sério, se alguém tem alguma dúvida, pode perguntar de boa)
Aí no meio eu decidi procurar no spotify uma playlist pra quando você tá com vontade de matar pessoas, aí fiquei com medo de eu virar suspeita de algum assassinato real e o FBI descobrir no meu histórico de pesquisas "matar pessoas", então só procurei entre as playlist de "moods" que o Spotify indica.
O mais perto que apareceu foi uma sobre TPM e tô chocada. Quem diria que Beyonce seria boa pra quando você quer matar pessoas? Eu definitivamente não.
É uma playlist muito boa, então indico aqui.
Ainda tô chocada que essas músicas estão funcionando. Elas são meio pop sei lá, eu normalmente ia ouvir algum screamo da vida.
Mas enfim, voltando à discussão principal.
Eu sei que as pessoas não fazem por *maldade* e fazem por não entender mesmo. E eu sempre achei que responder com grosseria não adiantava, porque você só afasta as pessoas e, em vez de abrir espaço pra uma conversa, faz a pessoa se fechar. Sem falar que você tá se irritando "por nada", pra que dar atenção e responder?
*corta pra dana não se segurando e indo responder*
Minha descoberta é que 1) você não se irrita porque entrou na discussão, você já tava irritado ANTES com o comentário e responder é até uma forma de colocar pra fora, mas que pode dar merda porque só coloca mais lenha na fogueira; 2) você não escolhe como se sente, se eu fosse escolher estaria feliz de boa, não quase tendo um aneurisma.
Como é que você lida com uma situação dessa?
Qual é a melhor forma de responder? Ou é não responder?
Como você separa alguém falando merda de alguém que quer entender?
Tipo, essa semana mesmo eu conversei com alguém que tava com medo de perguntar sobre um assunto, porque as pessoas normalmente reagiam com grosseria. Às vezes você não sabe mesmo e quer entender. :(
Aliás, se eu já não tivesse com vontade de matar pessoas, o Batdrama dessa semana seria sobre esse dilema de qualquer forma, porque fazendo uma análise de The 100 pra ver quem começou a guerra eu percebi que a agressão "invisível" que as minorias sofrem nunca é considerada.
As agressões contra as minorias são consideradas tão normais e cotidianas, que as pessoas sentem até que tem direito de fazer essa agressão.
Por exemplo, é comum não ter nenhum personagem LGBT+ nos filmes, então quando tem um, a pessoa enxerga como errado, "forçado" e até se sente no direito de reclamar que tem.
Afinal, o "normal" não é não ter? Já não é um "favor" colocar?
Só que não. Esse normal é injusto e oprime as pessoas LGBT+ e nem é uma representação real da realidade, onde existem pessoas assim! wow! Ou seja, essa agressão às pessoas LGBT+ (e minorias) não é considerada. Só enxergam como "agressão" se você for apontar que isso acontece.
Curioso é que pela primeira vez a gente discutiu mais racismo no CC com 3 textos quase seguidos, pela primeira vez sentiram necessidade de dizer que a gente já tava falando demais |
Vide Beyonce e Formation no Super Bowl, COMO ASSIM SÓ DANÇARINAS NEGRAS? Vide O Despertar da Força com um homem negro protagonista, COMO ASSIM NÃO TEM NENHUM HOMEM BRANCO?
Quando você reclama que tem um ou dois casais LGBT+ quando tem pelo menos 7 héteros, você não tá buscando justiça e igualdade, você tá basicamente dizendo que não deveria ter nenhum e é errado ter casais LGBT+. E ainda tem a cara de pau de falar que o contrário que tá acontecendo.
Essa é a parte mais surpreendente. As pessoas reforçam uma "ditadura" de opinião, reclamando de uma que nem existe e está longe de acontecer.
"Quando você tá acostumado com privilégio, igualdade parece opressão" |
A parte irritante é justamente a falta de lógica. A pessoa pega os fatos e usa como bem entende, ignora os acontecimentos e a realidade, de modo que você não tem nem como conversar.
*respira fundo*
Que nem outro comentário que eu vi essa semana, recebemos um tweet falando "Eu leria mais o ConversaCult se não fosse tão feminista."
Literalmente 90% da internet é menos feminista que o CC, por que você não vai pra lá em vez de querer que a gente não seja tão feminista?
Isso sendo legal e respondendo direito, porque...
Wtf. Como assim não ser tão feminista? O QUE VOCÊ QUER DIZER COM ISSO?
A gente tá respeitando demais as mulheres, será que a gente tá correndo o risco de respeitar tanto quanto respeitamos os homens??
Eu sinceramente acho que a gente nem é tão feminista quanto podia ser. A gente ainda reproduz muita merda enraizada.
Por acaso procurando imagem pra cá esbarrei num print de um post no tumblr que me veio a cabeça enquanto eu escrevia isso aqui:
E aí eu escolhi ser legal e ver a perspectiva da pessoa, perguntando por que tinha que ser menos feminista, e aí a pessoa falou que tinha muito mimimi no ConversaCult. Essa história de mimimi é a coisa mais degradante, porque é dizer que a vida real e perspectiva real de uma pessoa é desnecessária. É tipo "ah, que isso, Kesha, você já é famosa mundialmente, pra que ter indepedendência e ter o direito de não trabalhar com um cara que te abusou". Você foi assaltada? Para de mimimi, deixa o bandido assaltar!!
Pera, é literalmente como a imagem. Quando é um assunto que prioriza outras pessoas - "nossa, que mimimi!!!"
Quase mudei a descrição do CC pra "especialistas em mimimi".
Mas acho que mimimi não é isso, mimimi é gente falando que alguém é feminista demais (!), mimimi é reclamar de um casal LGBT+ existir quando literalmente todos os outros são hétero. Se eu não achasse que é falta de respeito, ia responder essas coisas com "para de mimimi". Mas tô quase lá.
JUS DREIN JUS DAUN |
Essa semana também tive uma conversa, e foi tipo:
"Qual é o problema do próximo Doctor Who ser uma mulher?"
"Ah, mas... aí teria que ser uma atriz muito boa."
"Se for homem pode ser ruim então???"
Aí a própria pessoa percebeu o double standard e tal. E eu acho que fui muito ruim naquela conversa, mas vamos em frente, vou me desculpar da próxima vez. HUAHUAHA
Mas é interessante como a gente tem essa resistência interna e impulso de ir contra.
Literalmente não tô mais com cabeça pra isso. Pra Batdrama. Pra essas pessoas. Eu queria realmente saber como lidar com isso pra manter a sanidade, respeitar os outros e trocar informações de maneira legal. É possível?
É possível acabar não causando mais guerra diante da ignorância?
É possível manter a sanidade sem transformar tudo em uma enorme piada?
----------------------------------------------------------------------
De certo modo, isso representa muito a minha semana, que eu fiquei pensando bastante sobre esses conflitos de privilegiados vs. minoria, como lidar, como não responder agressão com agressão, mas também como não ficar em silêncio e deixar as merdas acontecerem.
(e tive um momento bom de colocar os pés no chão e encarar o meu pai, mas não tô com energia pra falar disso)
Eu sei que no final eu fiquei me sentindo meio mal e sem esperança no mundo.
Principalmente porque eu assisti um filme/li umas coisas, e arte... eu não sei explicar, mas tem um tipo de arte que me deixa angustiada, ou quando é uma história muito focada em um tipo de realidade, eu fico sufocada. E aí eu assisti Tangerine.
Se você não sabe, Tangerine se passa durante a véspera de natal quando uma mulher trans volta depois de passar um tempo fora e encontra com a amiga, só pra descobrir que durante esse tempo todo foi traída pelo namorado!!! AÍ ELA SAI PUTA ATRÁS DO HOMI E DA MULHER QUE ELE PEGOU. E a gente acompanha ela indo pra cima e pra baixo, as coisas que acontecem no meio, a vida dessa amiga e como elas acabam se ajudando nos perrengues.
Foi legal ver uma história de uma mulher trans que não é só sobre ser trans, mas que esbarra em partes da realidade de uma mulher assim. E as duas atrizes trans protagonistas parece que colaboraram com o roteiro.
O filme meio que balança entre a realidade tensa que ela vive, e uma comédia, então não fiquei tão sufocada quanto imaginei.
Agora, essa injustiça não é catalogada. O fato de que a gente não tem nenhum filme do Oscar com uma pessoa transgênero tratada como gente não é considerado uma agressão. Mas aí se alguém vai apontar isso - NOSSA, PARA DE MIMIMI, CADÊ A LIBERDADE DE EXPRESSÃO??
Pra piorar, eu comecei a ler um livro novo "The Difference Between You and Me" que é sobre uma menina lésbica e uma garota bissexual (totalmente por acaso, eu não tirei o dia para ver coisa LGBT+ HUAHUAHUAH), só que a história me deixou muito mal. Não era pra ser, porque é o típico YA Contemporâneo (lembra a John Green) sobre duas garotas na escola que não têm nada em comum, a não ser às terças-feiras quando elas se encontram escondidas num banheiro pra se pegar. E aí uma garota é toda tipo MANIFESTAÇÕES! DIREITOS SOCIAIS!!! FODA-SE O CAPITALISMO!!! e a outra tá indo atrás de grandes corporações pra investir na escola, e é óbvio que isso não dá certo.
Mas fiquei muito mal, porque é uma realidade tão pequenininha que eu fiquei com medo de que o mundo fosse só isso. Sei lá, acho que preciso assistir um documentário de surf pra lembrar que você ainda pode viajar e pegar ondas e viver de boa aproveitando a vida.
(meu irmão literalmente acabou de esticar o celular pra me mostrar a notícia de uma surfista que não consegue patrocínio de marca por ser "feia") (...)
Só sei que terminei o domingo muito cansada do mundo e das pessoas e das injustiças, e tava vendo a vida em tons de cinza até aparecer o tal comentário e liberar a minha fúria.
Agora eu tô só cansada, tranquila e com fome.
Talvez eu só responda comentários daquele tipo com essa música que começou a tocar na playlist da TPM:
TAGS:
agressão,
batDRAMA,
CCdiário,
Dana Martins,
paz,
raiva,
Resumo da Semana,
Tangerine,
Violência
4 comentários
Você me faz ainda ter fé na humanidade com tudo que diz, mesmo em suas frustrações. Espero que fique bem. :)
ResponderExcluirisso foi quase uma terapia, é como se vc tivesse falando por mim oq eu não consigo falar pro mundo
ResponderExcluirEstou literalmente chocada!!
ResponderExcluirÉ realmente impossível agradar a Gregos e Troianos, ok. As pessoas tem todo o direito de não gostar disso ou daquilo, ok. Mas é muito difícil lidar com certas coisas.
Acho o CC um lugar tão democrático!! É um blog com todo tipo de pessoa falando sobre todo tipo de coisas.
Tem conteúdo aqui que não me interessa, então eu nem clico, simples.
Qual a dificuldade das pessoas em simplesmente ignorar o que não agrada?
"nem todo mundo (como você pensa) é gay, ou quer ser, ou qualquer coisa" Oi??? Essa pessoa leu o texto??? Sério, não sei como vc conseguiu ser tão educada na resposta.
As pessoas não entendem nada sobre liberdade de expressão. As pessoas não sabem respeitar os outros. As pessoas não percebem que falar sobre minorias é necessário.
Acho super importante a forma como vcs usam os textos para conscientizar e alertar as pessoas sobre determinados assuntos. Então é só continuar. Não se deixe abater por essas críticas nada construtivas e totalmente preconceituosas.
Dana, não fique assim. Sei que é frustante perceber como as pessoas ainda tem que evoluir, mas você está fazendo sua parte... Quando vejo coisas como essa também tenho vontade de explodir o mundo, mas ai lembro que se eu fizer isso estarei sendo igual a essas pessoas e isso definitivamente eu não quero. Bola pra frente e texto fantástico. Obs.: Suas analises de The 100 deixam minha semana mais feliz.
ResponderExcluir