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Feminismo não é um livro de regras mas uma discussão, uma conversa, um processo

6.1.16Dana Martins


Meu irmão uma vez me perguntou se o feminismo era tipo amor que está no ar e todo mundo tem, ou mais tipo um lugar que você vai e participa. Acho que a definição acima, da Tavi Gevinson, é a melhor resposta que eu poderia ter dado. 

Eu não acho que feminismo seja algo que você decida participar ou não, tipo já vi pessoas tratando "cansei, tô indo embora". Oi? Tá indo embora pra onde? Pra um mundo de ignorância dos problemas? Talvez. Boa viagem. Como a Priscilla disse aqui nos comentários uma vez e na época eu não entendi, mas agora faz sentido - eu não posso esquecer porque é a minha realidade. Quando eu tô morta de calor e visto um short e aí de repente todo mundo age como se eu tivesse tentando seduzir geral, porque eu sou uma mulher e as pessoas aprendem que o ato de mostrar o meu corpo é um convite sexual, eu não posso ignorar


Nesse caso, feminismo é como o amor, que tá no ar e todo mundo tem, porque o feminismo é uma espécie de perspectiva sobre a vida e uma busca pras mulheres serem tratadas como pessoas, assim como os homens são. Não é um clube do qual você sai. Cansou do que? De achar que mulher deve receber salário igual? De que mulher não deve ser tratada como objeto sexual? De achar que a mulher deve ser respeitada por quem ela é como pessoa, não baseada no gênero? Se não, você ainda tá respirando o feminismo. 

Por outro lado, feminismo é também "um lugar que você vai e participa". Não como um time, YAY #TEAMFEMINISTA!, mais como uma aula. Essa é resposta pra o "Ah, precisa ser chamado de feminismo?" - sim, porque feminismo é uma espécie de campo de estudos. Você digita "feminismo" no google, no tumblr, no conversacult e tem acesso a diversos textos que podem te ensinar sobre a questão específica do feminismo, que é as mulheres não serem tratadas como pessoas. 

Acho que essa é a forma mais simples que eu posso resumir o feminismo: Homens são tratados como pessoas. Quando você pensa em mulher, você não pensa em pessoa - você pensa uma versão com cabelinho e peito do homem. Enquanto o homem pode ter diversas personalidades, a mulher é enfiada numa caixinha apertadinha de como tem que ser. 

Acho que isso é representado pelas cores - Enquanto 392832923832 cores são consideradas masculinas, só 2 ou 3 são femininas. 

Quando eu era mais nova, eu chegava a dizer que odiava rosa. DEUS ME LIVRE UMA ROUPA ROSA.
e eu me pergunto até que ponto isso é um reflexo da imposição da cor rosa e uma forma de rejeitar a cultura feminina

E a questão é que isso não é verdade. Mulheres são de todas as cores também. 

Isso ao longo da história e dependendo do lugar resulta em diversos problemas diferentes e, como resultado, lutas diferentes. Pintar unhas sem ser considerada "fútil". Ter acesso a educação. Ter representatividade na mídia. Ter direito ao voto. Poder usar calças. Ganhar salário igual. Ter voz dentro de casa. Andar na rua sem ser estuprada. (...)

É sério, a luta feminista é tão grande, que às vezes até parece contraditória. Tipo, um grupo de mulheres precisa conquistar o direito de ser sexual e acabar com o slut-shaming. Outro grupo precisa provar que mulher não é um objeto sexual. Às vezes essas lutas se misturam, às vezes elas se confrontam. 

Então a palavra "feminismo" é o meu caminho de entrada para aprender a ver sobre essas questões. É através do "feminismo" que eu posso pesquisar sobre a luta das mulheres por direitos iguais. É a palavra "feminismo" que me dá ferramentas pra entender a minha existência como mulher, como ela é percebida e me ajuda a pensar formas de mudar isso. 

Eu descobri que fazia slut-shaming, que desvalidava a cultura feminina, que comprava essa história de "rivalidade feminina"... e mais um monte de merda. Não peguei bandeira, não bati panela, só reaprendi a pensar. Continuo reaprendendo. E sabe do que mais? É aqui que o feminismo se transforma no "amor", porque quando eu for analisar uma série eu não tô fazendo um texto "feminista", mas o meu modo de pensar é feminista. 

Tipo, eu faço a coisa extraordinário que é considerar mulheres como pessoas. 

Então além do "amor", feminismo é um lugar onde eu vou pra aprender.

Mais mais do que tudo isso:

"feminismo não é um livro de regras mas uma discussão, uma conversa, um processo"

Indico muuito ver o vídeo da Tavin Gevinson de onde eu tirei essa frase. 

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2 comentários

  1. SÃO TEXTOS ASSIM QUE AINDA ME FAZEM TER FÉ E ESPERANÇA NA HUMANIDADE <3

    Senta que lá vem textão do facebook.

    Como eu comentei no post do vídeo, acho incrível que as garotas de hoje tenham referências melhores do que as que eu tive, mais acesso à informação e opiniões diferentes também. E que elas estejam produzindo conteúdo quando o disponível não as agrada ou não era exatamente o que elas procuravam. Ou porque elas apenas querem criar conteúdo, why not?

    Quando eu era adolescente, o que bombava eram as revistas tipo Capricho e Atrevida ou a Nova, se você fosse um pouco mais ~ousada. E o princípio era o mesmo: se encaixe no padrão de beleza, compre o que dizemos que é bom e aja desse jeito que é o que os homens preferem. E eu tenho vergonha de dizer que eu meio que tentava fugir disso sendo a cool girl. Eu falava que não gostava dessas coisas femininas, que preferia ter amigos homens e que né, mulheres são falsas.

    Tudo errado. E eu só fui saber que estava errado quando o feminismo entrou na minha vida. Meu mundo caiu alí e foi reconstruído e não de uma maneira muito feliz, por assim dizer. Porque eu descobri que não importava que eu fosse a cool girl, eu era uma mulher e mulheres não estão seguras nesse mundo. Que não adiantava eu justificar que a miga que foi estuprada estava sozinha, na balada, bêbada e dando mole, ou seja "estava procurando", porque isso não é requisito para ser violentada. Ela podia estar em casa, descabelada, de moletom, sóbria, e mesmo assim ainda acontecer. E isso é foi um baque pra mim porque eu achava que estava protegida agindo como o patriarcado dizia que eu deveria agir.

    Outra coisa, mas dessa vez maravilhosa, que o feminismo me trouxe foi a noção de que eu não preciso compensar minha existência sendo bonita. E isso eu ainda estou processando porque quando você cresce ouvindo mulheres sempre sendo descritas com adjetivos relativos a sua aparência, você acaba internalizando isso. Eu nunca fui a mais bonita da sala nem dos lugares que frequentei, nem na minha família aliás; eu sou bem mediana pra dizer a verdade. E eu me preocupava com isso. Nunca sofri preconceito (que eu tenha notado), mas também nunca fui a estrela do ambiente. Nunca usei as roupas que eu queria porque não ficavam bem em mim (eu era criança da última vez que usei biquíni, olha só) e eu cresci achando que eu tinha que lutar pra ser bonita ao mesmo tempo que eu devia combater o feminimo e ser um dos garotos. Pff, não me espanta minha cabeça ter entrado em parafuso.

    O feminismo é um aprendizado e ainda reproduzo o machismo, mas acho que estou tão melhor hoje do que fui... Sororidade faz bem, representação faz bem, igualdade faz bem.

    Acho que todo mundo aqui já deve conhecer, mas caso alguém ainda não, recomendo muito o blog da Lola (http://escrevalolaescreva.blogspot.com.br) que foi uma das primeiras a me abrir os olhos. Tem também o Lugar de Mulher que, de vez em quando, dá uma escorregada nos textos, mas tem muita coisa bacana por lá, inclusive a Clara já escreveu bastante sobre ser cool girl no passado e que perda de tempo.

    Ah sim, e pras adolescentes ou pra quem quiser ler, tem a revista Capitolina que meu Deus, porque não existia quando eu era mais nova?

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    1. Andrea, seu comentário tá maravilhoso. Obrigada por ele :)
      E Dana, esse texto <3 Muito obrigada!

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