Adriana Araujo CCResenhas

[Resenha] Nós, de David Nicholls

21.10.15Unknown


"-Eu estava ansioso para envelhecermos juntos. Eu e você, envelhecermos e morrermos juntos.
-Douglas, por que alguém em sã consciência ficaria ansioso por isso?"

Com esse pequeno diálogo ainda na capa do livro podemos ver que temos nas mãos: um romance não tão convencional, que começa pela parte que ninguém quer que chegue: a separação. Um cara que deseja um futuro ao lado da mulher que ele amou nos últimos 25 anos e uma mulher que não corresponde mais aos mesmos sentimentos. Nós é um livro sobre amor, família, casamento e, principalmente, sobre os rumos que a vida toma e nem sempre conseguimos entender logo de cara.


Douglas Petersen é um homem de meia idade que um belo dia é acordado pela esposa, Connie, no meio da madrugada, com um pedido de divórcio, após quase 25 anos de casamento. Isso às vésperas de uma viagem pela Europa, o Grand Tour, como eles chamam a expedição, programada para dali a alguns dias quando eles se despedirão do filho deles, Albie, que irá pra faculdade em breve. Mesmo com a decisão de divórcio eles decidem manter a viagem, e Douglas vê nisso a oportunidade de tentar reconquistar Connie.

O livro é narrado em primeira pessoa por Douglas, o que faz com que tenhamos o lado dele da história, mas eu acho ele um personagem bem crítico, que consegue passar seus defeitos falando de si próprio. Douglas é um homem tradicional, antiquado. Ele é um bioquímico que preza muito o valor de um emprego "sério" e não gosta muito de coisas alternativas, enfim um cara sério e racional. Até conhecer Connie ele era um solteirão solitário, que se apaixonou justamente pelo seu extremo oposto.

Connie era uma pintora, artista de espírito livre, que adorava um álcool (e outras substâncias também) e uma boa festa, ou seja, totalmente o oposto de Douglas. Ela é muito bonita e tinha um histórico de relacionamentos ruins. Como eles deram certo? Não sei, e acho que os personagens também não sabem. Não temos acesso aos pensamentos dela, só aos dele e ele, às vezes se sente meio incrédulo de ter conquistado uma mulher tão atraente e incrível. O personagem acha que ela queria abandonar a vida que levava e que ele foi uma boa oportunidade, um porto seguro pra ampará-la na nova vida "careta", que ele sempre teve, e que por isso eles deram certo.

O livro conta duas histórias ao mesmo tempo: a história de como eles se conheceram, se apaixonaram e casaram, e tudo que isso envolve, e a história dos dias atuais enquanto eles estão na viagem. Ele, disposto a não deixar o casamento acabar e ela aparentemente deixando que as coisas apenas aconteçam. O problema é que o filho deles, Albie, tem o mesmo espírito livre da mãe, vai cursar fotografia na faculdade, o que faz Douglas tremer na base, porque o menino não quer um "emprego normal". A minha parte favorita foi a do começo do romance, afinal, por mais que eu seja pessimista, meu lado romântico venceu e é sempre melhor ver um amor começar do que terminar não é mesmo?

  
O relacionamento dele com o filho me fez perceber um pouco de inflexibilidade no personagem principal. Poxa, o garoto é um adolescente rebelde, chato como todo adolescente é em algum momento da vida, não sabe o quer, tá se descobrindo enquanto pessoa, e o pai é um chato, sem paciência, que acha que está sempre certo (que me fez me lembrar meu pai qqq). Tudo isso faz parecer que odiei o personagem, o que não é verdade, porque por estarmos vendo pela perspectiva dele percebemos que ele não faz por mal e sim por acreditar que aquilo seja o melhor para o garoto, e ele começa a se esforçar pra ser melhor também. 

Acabei parando pra pensar e acho que fiquei do lado do Albie, porque ele representa o meu lado da história, o lado filho, mas como vocês puderam ver acima, acabei identificando meu pai no personagem, e pensando a situação sem vestir as carapuças, todos os pais não são exatamente como o Douglas? Por quererem o melhor pros seus filhos acabam soando arrogantes, meio "só eu sei o que é melhor pra você". Eu discordo de alguns métodos do Douglas, e do meu pai, mas (que meu pai não leia isso nunca haha) em alguns momentos eles não tinham mesmo razão? O problema é que esses caras sempre tendem ao exagero, e é isso, amigos, que estraga tudo.

Tipo esse pai sem noção
Apesar de alguns contratempos normais de família, a começar que Albie preferia ter ido pra Ibiza com os amigos ao invés de um tour cultural pelos museus europeus com os pais (#somostdsAlbie), a viagem vai bem, mas eis que acontece uma treta que muda o rumo da viagem. Eu particularmente dei uma desanimada com o que aconteceu porque o David é o cara que escreveu Um dia, um livro cru, real, sobre a vida como ela é, e que por isso eu gosto tanto. Nós seguia pelo mesmo caminho, uma história sobre uma família, com personagens que tem defeitos e qualidades, e situações que acontecem na minha família e na sua. Só que esse acontecimento foi meio fantasioso, na minha opinião, e me fez ficar com um pezinho atrás com o livro. Claro que não vou contar o final, mas apesar disso, as coisas retornaram a normalidade e eu curti o fim da trama. 

Eu gostei muito dos personagens, que são super bem escritos. Eu acho que isso é um dos pontos fortes do trabalho do autor: ele sabe escrever sobre pessoas. A identificação com os personagens, de uma forma ou de outra, é certa. Se em Um dia fui Emma, em Nós fui meio Douglas, meio Albie meio Connie. Nós é um livro sobre amor, entre um casal, entre pai e filho. É sobre família, sobre o que achamos que sabemos e não sabemos, enfim um livro que vai te fazer refletir sobre a vida que você está levando.

Nota: Eu gostei bastante dos personagens e da história, mas essa reviravolta que o autor inventou ficou fantasiosa demais pra mim e me fez dar uma desanimada, por isso 3,5 conversinhas.


                                                                  (3/5 conversinhas)


***

Título: Nós

Autor: David Nicholls

Editora: Intrínseca

Páginas: 384

Lançamento: 2015

No Skoob 

Comprar: Saraiva, Submarino 







Esse livro foi ucortesia da Intrínseca. Obrigada, seus lindos!








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2 comentários

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