Essa semana algumas coisas me fizeram perceber
que existem palavras tabu, palavras que não podem ser ditas como gordo, negro,
favela, entre muitas outras. Elas são ofensivas, são feias, são discriminatórias,
são...
São apenas palavras, na verdade. Não existe
problema com nenhuma palavra (não sou de nenhuma área da linguística, se
estiver falando besteira me desculpem), o problema está na maneira como
utilizamos essas palavras. Por vezes
pegamos adjetivos e substantivos comuns e os tornamos algo pejorativo, e depois
disso não se pode mais dizer nada sem que alguém venha todo ofendido dizer que
aquilo não se diz.
Vira e mexe tem alguém dizendo que as palavras
machucam e até pouco tempo atrás eu acreditava nisso. Mas parando pra pensar, acho
que o que machuca não são as palavras, e sim a forma como elas são ditas, seus
contextos. Se eu solto uma palavra qualquer,
ela vai se perder na falta de relevância que tem, por exemplo, se eu digo troço. Agora se eu utilizo essa palavra para me referir a alguém com o intuito de magoá-la ou diminuí-la de alguma maneira, ela realmente
cumpre esse papel. Ao falar que fulano é "um troço esquisito" estou pegando
essa composição de letras e dando um significado a ela, mas no entanto, o problema não
tá na palavra troço, porque se eu pergunto "você pode pegar aquele troço
para mim, por favor?”, percebo que não houve nenhum problema como o termo
escolhido.
Isso me fez refletir sobre o tanto que estigmatizamos
as palavras e acabamos por deixar de olhar seu contexto, a entonação com que
elas são usadas, sua forma.
Metade da minha família é composta de negros, e
eu ainda tenho uma família de criação que também é formada por pessoas negras, então
fui criada em um meio em que dizer “esse negão é foda mesmo" é um elogio, é
dizer que a pessoa é demais, é super maneira ou qualquer coisa desse tipo, e
isso sempre foi normal pra mim. Porém, conforme fui crescendo, percebi que a palavra negro não é vista com
bons olhos, chamar alguém de negão é insulto e eu não entendia o porquê.
Com isso não quero dizer que não possa ser um insulto. Pode sim, como qualquer outra palavra. Lembro que na faculdade estávamos lendo sobre um caso (eu fiz faculdade de psicologia) em que o garoto ficou tão revoltado com o pai que começou a xingá-lo, mas como não sabia nenhum palavrão, chamava o pai de cadeira, garfo e qualquer outra palavra que lhe vinha à mente. E vocês acham que a ofensa era menos real pela fato das palavras serem essas? Claro que não. A intenção era magoar o pai, extravasar a raiva, e ele conseguiu.
Com isso não quero dizer que não possa ser um insulto. Pode sim, como qualquer outra palavra. Lembro que na faculdade estávamos lendo sobre um caso (eu fiz faculdade de psicologia) em que o garoto ficou tão revoltado com o pai que começou a xingá-lo, mas como não sabia nenhum palavrão, chamava o pai de cadeira, garfo e qualquer outra palavra que lhe vinha à mente. E vocês acham que a ofensa era menos real pela fato das palavras serem essas? Claro que não. A intenção era magoar o pai, extravasar a raiva, e ele conseguiu.
Enfim, quando chamo alguém de negão posso realmente está
querendo ofender essa pessoa, mas também posso só estar usando uma palavra. Acredito
que seria mais sábio observar como, porque e em qual circunstância estou usando
determinado termo, do que atribuir a ele um poder que ele não tem.
Sobre palavras tabu |
No texto sobre mulheres gordas eu digo que
pode falar que uma mulher é gorda, e pode mesmo, é um dado concreto, assim como
ela ser magra, loira, ruiva, negra. O que não pode é pegar uma mera palavra e transforma-lá
em uma arma. Nessa hora qualquer palavra serve, é só você descobrir como
utilizar e se vai machucar aquela pessoa. O que escutamos de pessoas magras que
sofreram por serem chamadas de palito, varapau ou termos que eram utilizados
justamente para que elas se sentissem inferiores e tristes? Todo mundo tem uma
historia dessas pra contar, de palavras que foram usadas contra elas.
O que eu estou querendo dizer ao escrever esse post não é que isso tem que acabar, que as pessoas vão deixar de pegar palavras e atirar
umas nas outras. O que eu quero é que entendamos que o problema não tá na
palavra, mas em como ela é dita. Eu quero poder usar minha expressão "negão" sem medo de que as pessoas venham dizer que não posso, eu quero dizer favela sem que alguém me diga que o certo é comunidade, eu quero poder dizer o que quero dizer sem ser interpretada como ofensora.
Sinceramente, não sei se ao estudar letras, linguística
ou qualquer outra coisa nessa área, se
aprenda que sim, as palavras tem poder e que não são as pessoas que atribuem poder a
elas, ou se aprenda que depois de estabelecido um significado, o significante passa a ser irrelevante. Eu realmente não sei, e se alguém souber me
avise por favor (me previnam de continuar falando besteiras por ai), mas até
agora, me parece que as palavras são meras estruturas formadas de letras e
sons.
Além disso, porque algumas pessoas podem dizer
determinadas palavras e outras não? Por que negros podem ser referir a outro
negro como negão e outras pessoas não? Por que eu que fui criada nesse meio
posso, mas se uma pessoa branca diz isso eu fui ensinada a olhar com cara feia?
Seria interessante observamos em que estamos
transformando nossas palavras. Eu particularmente quero observar como estou usando
as minhas. Se estou machucando pessoas sem querer, se estou ofendendo quando
queria apenas me expressar, se estou transformando minhas palavras em armas.
Talvez essas questões sejam irrelevantes, mas
me fez querer pensar. E vocês, o que acham?
Ps: Isso me lembrou Harry Potter e como eles
transformaram um substantivo qualquer em algo que não podia ser nomeado. Isso aumentava o poder do Voldemort, o tornava algo assustador (mais do que já era). E acabou que eles inseriram tanto significado naquela palavra que ela realmente se tornou algo que ferrava tudo. Ela realmente
virou tabu.
O medo de um nome apenas aumenta o medo da coisa em si |
Ps2: Quando eu terminei de escrever percebi que
talvez existam sim palavras cuja suas insígnias são imutáveis, nazismo por
exemplo. Não consigo imaginar essa palavra em contextos em que seu significado mude.
Então talvez tudo o que eu tenha dito não seja relevante para algumas palavras.
O que vocês pensam sobre isso? Podem discordar de tudo, concordar ou ficar em
cima do muro. Vamos só pensar sobre.
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palavras,
tabu,
Taiany Araujo
9 comentários
Taiany, como extravasar todo o amor que senti lendo isso tudo?
ResponderExcluirMe identifiquei com cada linha.
Sabe o que fará o nazismo perder o estigma? O tempo. E a cultura, inclusive.
Porque foi assim com o western, com a idade média, com as bruxas.
Com o tempo, e com o passar das memórias - se chegarmos tão longe - haverá um novo olhar, uma nova leitura dos mesmos eventos.
Não é o fato, mas a forma como o fato como o fato é visto que faz a diferença.
Emanuel, muito muito muito obrigada pelo seu comentário. Esse post foi escrito num momento de muita emoção, e eu adorei poder colocar tudo isso pra fora, mas depois que já estava mais tranquila, fiquei com medo de ter ofendido alguém, mas resolvi postar mesmo assim, a gente só aprende trocando experiências. A Dana falou no texto dela essa semana sobre escrever o que se quer, apesar do medo de estar falando merda atrás de merda, e mesmo eu ainda sendo muito insegura com como estou transmitindo os meus pensamentos, concordo com ela, é através do diálogo que nós aprendemos as coisas, e o diálogo só acontece se as pessoas falam.
ResponderExcluirGostei da sua frase " Não é o fato, mas a forma como o fato é visto que faz a diferença". Fatos são importantes e dizem muito sobre uma situação, mas essa frase me faz perceber que cada um vai perceber os fatos de determinada maneira, de perspectivas diferentes, se perguntarmos a mesma história para 10 pessoas diferentes cada uma vai nos contar uma versão da história, eles podem ser similares, mas nunca iguais.
XOXO
Emanuel, muito muito muito obrigada pelo seu comentário. Esse post foi escrito num momento de muita emoção, e eu adorei poder colocar tudo isso pra fora, mas depois que já estava mais tranquila, fiquei com medo de ter ofendido alguém, mas resolvi postar mesmo assim, a gente só aprende trocando experiências. A Dana falou no texto dela essa semana sobre escrever o que se quer, apesar do medo de estar falando merda atrás de merda, e mesmo eu ainda sendo muito insegura com como estou transmitindo os meus pensamentos, concordo com ela, é através do diálogo que nós aprendemos as coisas, e o diálogo só acontece se as pessoas falam.
ResponderExcluirGostei da sua frase " Não é o fato, mas a forma como o fato é visto que faz a diferença". Fatos são importantes e dizem muito sobre uma situação, mas essa frase me faz perceber que cada um vai perceber os fatos de determinada maneira, de perspectivas diferentes, se perguntarmos a mesma história para 10 pessoas diferentes cada uma vai nos contar uma versão da história, eles podem ser similares, mas nunca iguais.
XOXO
Eu adorei muito esse texto, Taiany!
ResponderExcluirTem todo um contexto cultural, social e histórico com certas palavras, né? E a gente nem sabe por quê, mas sabe que podem não gostar se a gente falar. Igual você usou o exemplo de negão, e se for alguém não negro dizendo isso. E tem vezes que nem é sobre como falamos, é só sobre contexto. Se eu encontro um amigo e digo "nossa você engordou" sem critica nenhuma, só dizendo um fato, ele pode não gostar, as pessoas em volta podem pensar que foi algo desnecessário de se falar, eu pensaria. Agora se eu digo "nossa você emagreceu" isso muda. (eu acho meio desnecessário na maioria dos casos fala qualquer uma das coisas, mas você entendeu meu ponto, né?)
Na maioria dos dias, ou seja quando estou bem com meu corpo, eu não me importo de me referir a mim mesma como gorda/gordinha, ou se alguém diz isso como um fato, mas eu não falo isso para outras pessoas gordas, porque eu sei que algumas já vão entender como algo pejorativo. Mesmo que eu estou apenas falando de uma característica.
Tive uma conversa mais ou menos assim sobre isso com meu amigo que engordou esse ano e tals.
Adorei o comentário do Emanuel e sua resposta também!
Oi Helena, adorei seu comentário, contextos são muito importantes, e as vezes nós interpretamos muitas coisas erradas por não sabemos em qual contexto aconteceu.
ExcluirIsso sobre você engordou e emagreceu é um pensamento que devemos desconstruir, pq apesar de os dois serem fatos, um é visto como ofensa e o outro como elogia, e nessa leva um monte de pessoas se sentem ofendidas no caminho.
Obrigada por comentar, é ótimo ver que tem coisas que devemos considerar e deixamos passar. O Emanuel trouxe a noção de tempo e de diferentes pontos de vistas, e você o contexto, nisso mesmo como as coisas que falamos carregam muito mais do que funções de palavras.
ABRAÇOS
Oi Helena, adorei seu comentário, contextos são muito importantes, e as vezes nós interpretamos muitas coisas erradas por não sabemos em qual contexto aconteceu.
ExcluirIsso sobre você engordou e emagreceu é um pensamento que devemos desconstruir, pq apesar de os dois serem fatos, um é visto como ofensa e o outro como elogia, e nessa leva um monte de pessoas se sentem ofendidas no caminho.
Obrigada por comentar, é ótimo ver que tem coisas que devemos considerar e deixamos passar. O Emanuel trouxe a noção de tempo e de diferentes pontos de vistas, e você o contexto, nisso mesmo como as coisas que falamos carregam muito mais do que funções de palavras.
ABRAÇOS
Um comentário sobre "nazista": em Grey's Anatomy, tem uma médica que todos chamam de "nazi" porque ela costuma pegar pesado com os novos internos. Ela sente orgulho disso. Tem um episódio que passam a chamar ela por um apelido fofinho (esqueci qual) e ela fica puta da vida porque quer voltar a ser a nazi. Então, acho que tudo tem contexto sim.
ResponderExcluirFelipe bem louco isso.
ExcluirVocê és graduada, alguma coisa vivida e a recém chegou a essa conclusão??? E ainda se "sente insegura"??? Afora o português HORROROSO do seu texto!!!! E ainda vem gente comentando coisas mais bestas ainda??? Olha, perdi 3 minutos de vida!!! É ÓBVIO que tu podes utilizar a palavra "negrão", por favor!!! Quem impede isso são os "patrulhas ideológicos". E "nazismo" tem contexto sim, pergunta para os revisionistas... rsrsrsrs SABE DE NADA INOCEEEEENTE!!!!!
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