Quando eu li a resenha da Isabelle sobre o
livro Real, da Katy Evans, fiquei revoltada com a forma com que a autora abordou o uso de remédios psiquiátricos, e fiquei mais revoltada ainda porque é justamente como as pessoas em geral encaram essa questão. Mas depois de me acalmar, parei para pensar que isso
pode se dar por três motivos: (1) falta de informação, (2) medo, (3)
preconceito.
O senso comum ainda acredita que o uso de remédios
psiquiátricos é coisa de maluco, mas deixa eu falar uma coisa: estão super enganados. Estamos vivendo em uma época
onde tudo é muito acelerado, as mudanças acontecem mais rápido do que o 7 a 1
da Alemanha no Brasil, entrar em colapso não é estranho. Mais do que isso, as crianças
hoje já nascem com os olhos abertos, às vezes até com dentinhos, totalmente diferente de há
20 anos atrás. Nosso corpo está mudando num ritmo frenético, por que com nossa
mente seria diferente?
Mesmo que hoje em dia tudo vire patológico (ou seja, doença) e que
haja muitos diagnósticos equivocados, é inegável que transtornos psicológicos e psiquiátricos existem e as pessoas que sofrem dele não são "malucas". Elas são pessoas comuns que possuem alguma
alteração no funcionamento do seu organismo, assim como pessoas hipertensas, por exemplo.
A questão é que precisamos começar a tratar as
"doenças da mente" como tratamos qualquer outra. Se quando eu não estou enxergando
bem procuro um oftalmologista, porque
quando não consigo organizar meus sentimentos e pensamentos não procuro um psicólogo?
E com os medicamentos é a mesma coisa. Então
vamos explicar um pouco sobre essa questão tão nebulosa.
Primeiro
de tudo, psicólogos não podem receitar medicamentos. Eles até os conhecem e
podem ter uma ideia de qual é o melhor para o seu paciente caso ele precise,
mas nunca, jamais poderá receitar, no máximo ele conversa com o psiquiatra do
referido paciente e chegam a um acordo de qual a melhor solução. Só quem pode receitar psicofármacos é o
psiquiatra, então se algum psicólogo disser
para você procurar um psiquiatra não pense que ele está te chamando de maluco
nem nada disso, o trabalho conjunto é muito importante.
Segundo, muito dos medos das pessoas em relação aos medicamentos psicológicos está associado ao medo de ficar louco ou viciado neles. Pois bem, você não vai virar um louco por tomar remédio. Juro, não tem nada a ver. Você fica sem temperatura ao tomar antitérmicos? E quanto ao vício, todos, e quando digo todos falo de qualquer remédio, tem efeitos colaterais. O médico que está te acompanhando vai chegar a um acordo com você, vai te falar dos efeitos e vai administrar as doses, então mesmo que alguns remédios - e são só alguns mesmo - sejam suscetíveis ao desenvolvimento de certa dependência, você não vai estar tomando-os sem orientação. Além disso, muito dessa dependência é mais psicológica do que biológica, o sujeito tem medo de largar o remédio e pode até perceber sintomas que na verdade são derivados desse medo de ficar sem aquilo que lhe dá certo suporte, e não propriamente um efeito do medicamento. Assim, aqui mais uma vez faz-se necessário o acompanhamento de um profissional.
E terceiro, todos nós temos ideias pré-concebidas sobre diversas coisas, o ruim é quando deixamos essas ideias conduzirem nossa vida sem questioná-las, sem pensarmos nelas e ainda por cima nos vemos no direito de julgar o outro com base na nossa percepção. É isso que é o preconceito, uma ideia que se torna um imperativo inquestionável. É nessa leva que o ir a psicólogos e psiquiatras foi entendido como coisa de maluco, pior, as pessoas nem sabem direito o que elas entendem por maluco, mas isso é assunto pra outro post.
Segundo, muito dos medos das pessoas em relação aos medicamentos psicológicos está associado ao medo de ficar louco ou viciado neles. Pois bem, você não vai virar um louco por tomar remédio. Juro, não tem nada a ver. Você fica sem temperatura ao tomar antitérmicos? E quanto ao vício, todos, e quando digo todos falo de qualquer remédio, tem efeitos colaterais. O médico que está te acompanhando vai chegar a um acordo com você, vai te falar dos efeitos e vai administrar as doses, então mesmo que alguns remédios - e são só alguns mesmo - sejam suscetíveis ao desenvolvimento de certa dependência, você não vai estar tomando-os sem orientação. Além disso, muito dessa dependência é mais psicológica do que biológica, o sujeito tem medo de largar o remédio e pode até perceber sintomas que na verdade são derivados desse medo de ficar sem aquilo que lhe dá certo suporte, e não propriamente um efeito do medicamento. Assim, aqui mais uma vez faz-se necessário o acompanhamento de um profissional.
E terceiro, todos nós temos ideias pré-concebidas sobre diversas coisas, o ruim é quando deixamos essas ideias conduzirem nossa vida sem questioná-las, sem pensarmos nelas e ainda por cima nos vemos no direito de julgar o outro com base na nossa percepção. É isso que é o preconceito, uma ideia que se torna um imperativo inquestionável. É nessa leva que o ir a psicólogos e psiquiatras foi entendido como coisa de maluco, pior, as pessoas nem sabem direito o que elas entendem por maluco, mas isso é assunto pra outro post.
Depois de falar tudo isso, eu posso chegar ao ponto que queria: quando alguém diz que não quer ou não vai tomar algum remédio receitado pelo psiquiatra e aqueles que estão ao redor dela apoiam e ainda reforçam que é só ter força de vontade que ela vai ficar bem. Não, não vai.
Existem, bem resumidamente, três tipos de
"tratamento" para os transtornos psicológicos: os que não precisam de
remédio mesmo; os que precisam tomar por um tempo, seja para se estabilizar, seja
para ajudar no andamento da terapia (e eu estou falando de forma bem grosseira só
para vocês terem uma ideia); e os que terão de tomar remédios para o resto da vida. Esses últimos são os mais afetados pelos discursos
de que o remédio não é necessário, porque para eles o medicamento é mega
importante. Alguém fala para os diabéticos que eles podem viver sem remédio e
tudo bem? Não né? Mas para as pessoas bipolares isso é dito, e infelizmente ao
ficarem sem remédios eles sofrem e fazem outras pessoas sofrerem, correndo risco de vida.
Medicamentos psicológicos não são uma escolha,
por vezes são uma necessidade. Dizer que seu uso é opcional é uma desajuda para aqueles que estão precisando dela.
Durante os cinco anos na faculdade de psicologia vemos várias controvérsias, inclusive quanto à medicação, mas mesmo nessas controvérsias aprendemos que às vezes o remédio é indispensável.
Eu acredito que devemos buscar todos os meios
para ajudar o outro, e se esse meio inclui tomar remédio, porque não? Sempre, é claro com acompanhamento médico,
também não vamos ser radicais e incentivar o uso desenfreado e indiscriminado
de medicamentos porque não vai ajudar ninguém, só atrapalhar. É melhor você
guardar o calmante que o médico te receitou, ele serve só pra você. Dê água com
açúcar para o seu amigo que resolve.
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Taiany Araujo
6 comentários
Esse texto é um serviço de utilidade pública! *CLAP CLAP CLAP* Parabéns, Taiany.
ResponderExcluirRealmente esse é um assunto que dá muito pano para discussão. Acho muito bom você escrever sobre isso, até como você disse para quebrar os mitos e preconceitos que rondam os transtornos mentais, mas também tem que ter um pouco de cautela.
ResponderExcluirEnquanto aqueles que precisam podem ser afetados pelos fatores citados, ainda existe o do uso desenfreado (também disse, eu sei). Só queria acrescentar que o uso da Ritalina no Brasil cresceu absurdamente nos últimos anos, e tenho a tendência a acreditar inclusive que existem cada vez mais pessoas querendo resolver tudo de forma o mais rápido possível com medicamentos, que querendo ou não causam sim efeitos pelo uso, do que usando tratamentos mais prolongados como a psicoterapia. Ou por que não tem acesso as informações e acabam confiando de que aquele é o melhor procedimento. Mesmo quando buscam os psiquiatras geralmente já saem com uma receita. Depois de uma única consulta! Não sendo os casos graves, mas mesmo assim em Psicologia a gente aprende que é necessário todo um período para compreender melhor o que está acontecendo na vida de uma pessoa.
Com tudo isso só queria comentar que ainda existe o interesse econômico por trás disso, incentivando cada vez mais o consumo de medicamentos. A indústria farmacêutica é muito poderosa. Não venho com a intenção de banir nem nada, até por que são necessários esses tratamentos, mas é sempre bom incentivar que em caso de dúvida, sobre tomar ou não uma droga medicamentosa, procurar outros profissionais da área (se tiver condições, até por que uma consulta é o olho da cara e os CAPS costumam ter uma fila grande).
Minha preocupação maior é que medicamento não deixa de ser uma droga e que parece cada vez que a gente não pode ter um tempo para vivenciar e reesignificar nossas dores e ansiedades. Ou quando crianças medicamentadas cada vez mais cedo por que devem ser mais quietas, em vez poderem ser crianças.
Enfim, era isso~ Vish, escrevi demais, espero que possa ter passado um pouco o que eu queria dizer e te parabenizo por escrever sobre o assunto! \o/
Bjs
Fui reler e vi os erros. Desculpe por isso! u.u
ExcluirPolie vc está certíssima, concordo com tudo que disse, no entanto, a questão do texto surgiu qdo a Isabelle aqui do CC leu um livro em que a adulto incentivava o não uso de medicamentos qdo claramente é preciso. Já conheci pessoas que tinham tanto medo de tomar medicamentos que preferiam ficar sofrendo. Claro q o uso desenfreado não dá, mas , falar que não usar nunca, jamais , não ajuda. É melhor falar pra buscar um médico certo?
ExcluirÉ muito ruim esse incentivo negativo do livro. Claro claro, eu só tinha ficado um pouco impressionada com o título mesmo. De qualquer forma é sempre bom poder tratar desses assuntos.\o
ExcluirEu precisava ter lido esse texto há uns 4 anos. Teria evitado tanta coisa :(
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