Meu primeiro contato com o livro Só Garotos foi em uma
livraria, onde ele se encontrava na seção de livros relacionados à música e, de
cara, a sua capa prateada com uma foto linda me encantou. Não levei o livro pra
casa naquele dia e me arrependi muito: em todas as outras vezes que fui à mesma
seção não o encontrei mais.
Vários meses depois, quando o encontrei e saciei minha vontade de comprá-lo, eu me dei conta de que não sabia o assunto do livro, quem era sua escritora e por que aquele nome. Patti Smith é uma das precursoras do movimento punk com o seu primeiro álbum chamado Horses lançado em 1975. 35 anos
depois de lançar Horses, Patti cuja vida artística se iniciou como escritora de
poesia publicou Só Garotos. O livro é dedicado
a Robert Mapplethorpe, a quem ela jurou que escreveria um livro sobre a
história deles juntos.
O desejo de ser artista levou Patti a Nova York sem nenhum
dinheiro. Ela viveu em ruas e foi abrigada por amigos, até conseguir um emprego
em uma livraria. Numa das noites em que ela estivera nas ruas, conheceu Robert
Mapplethorpe. Pouco tempo depois, eles se encontraram por acaso em uma livraria
onde ela trabalhava. Ao ajudá-la a sair de um péssimo encontro com um escritor
de ficção científica, Patti e Robert não se afastaram mais.
A tentativa de conciliar sobrevivência com o trabalho
artístico fez com que Patti trabalhasse para Robert poder construir seus
trabalhos. Vivendo no Brooklyn, eles usavam seu apartamento velho e pequenas
bugigangas ignoradas por outros como instalações de arte e uma maneira de
continuar seus sonhos de serem artistas.
Só Garotos tem uma incrível aura artística. Ao ler o livro
percebi a necessidade de um ambiente inspirador e motivador. Quando Patti e
Robert se mudam para o Hotel Chelsea, onde artistas da época circulavam, eles
começam a conhecer pessoas que admiram e que abrem portas para seus trabalhos.
É importante um ambiente onde as pessoas se motivem e levem arte à sério.
Ao longo do livro é possível ver a evolução do trabalho de
ambos, a evolução como pessoa e a mudança dos gostos pessoais. As
características de seus trabalhos mudaram como suas personalidades, no início
ela escrevia e ele desenhava e, depois de anos, ela virou cantora e ele um
fotógrafo.
Robert e Patti não serão um casal ao longo do livro inteiro,
mas duas pessoas que se completam. Uma relação, como a própria Patti diz, de
artista e musa. Uma parte interessante disso para mim foi como mesmo que eles
tenham convivido durante muito tempo como namorados, eles não desenvolveram um
sentimento de posse. Talvez foi a maneira com que a história foi contada, mas
não deu para perceber isso.
A experimentação de Robert em relação às drogas e ao sexo
também é abordada no livro. É explicitada a dualidade entre a vida que ele
vivia e os valores católicos. Ao longo do livro, Robert descobre sua
homossexualidade, o que influencia suas obras de maneira muito forte.
Ao meu ver, o ponto negativo foi o grande número de nomes de
pessoas e artistas que circulavam pela vida de Patti e Robert. Não entendi
muitas referências a essas pessoas, mas entendo que isso ocorreu porque nasci
em 97 e não conheço tanto dos artistas alternativos dos anos 60/70.
Patti levou muitos anos para concluir esse livro, os
detalhes são muito precisos e por se tratar de um livro de memórias chega a dar
dúvidas de como ela se lembra de tudo aquilo. Grande parte vem de diários que
ela manteve na época, fotos, cartas e algumas obras. Muita coisa foi perdida,
algumas obras estão em galerias e museus. A Folha de São Paulo fez uma
entrevista muito interessante com a autora para o lançamento do livro e existe esse tumblr com os trabalhos de Robert, vale a
pena dar uma olhada.
Só Garotos é muito importante para quem quer fazer arte. Ele
mostra as dificuldades e os pontos altos de poder se expressar através da
escrita, fotografia, do desenho e etc. As pessoas que cruzam o seu caminho
fazem total diferença no rumo que sua vida pode tomar, como Patti e Robert, que
serviram e servem de inspiração mútua. Muitas vezes, o dinheiro era pouco para
comer e comprar material, mas a persistência e experimentação em eles viveram
os tornaram artistas sustentados por suas obras.
***
Autora: Patti Smith
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 280
Sobre a autora:
Eu sou a Nathalia, tenho 18 anos e estudo jornalismo. Quando não estou reclamando de algo no twitter, posso estar assistindo a alguma série ou lendo algum livro. Meu gosto musical vai de indie até Banda Uó. Meu sonho é trabalhar fazendo algo que gosto e que dê pra assistir RuPaul's Drag Race tranquilamente.
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