Antes de continuar o mês da Crise Existencial, queria reforçar algumas coisas que não ficaram claras no primeiro texto (Crise Existencial: Falta de fé, religião, crenças...) e pensamentos que surgiram a partir das respostas.
O exemplo está nos comentários mesmo. Falamos sobre como a crença é uma realidade que você experimenta. Acho que talvez essa seja a diferença entre uma crença e o mito? O mito é algo imaginário - como eu disse no post, os elefantes rosas de algodão doce existindo no mundo. Já a crença é quando você consegue sentir que é realidade, a ponto de basear suas ações naquilo. O Felipe comentou:
"Na verdade, foi recentemente, quando eu tive uma crise sobre o caráter de Deus e deixei de acreditar nele. Não na existência dele (como eu disse, pra mim, é impossível), mas de achar que Deus não era tão bom e justo como todos diziam. Daí eu me senti desamparado e sem propósito."
Olha só o que acontece quando suas crenças são abaladas. E se Deus não for bom e justo? O que isso significa? Minha suposição é de que algo aconteceu na vida do Felipe que fez ele confiar que Deus era realmente bom e justo (ele experimentando a verdade), então ele foi em frente. Ou ele experimentou uma outra verdade que deu segurança.
Na parte que coloco a pergunta da Duda sobre "então cada um pode pensar o próprio propósito?" eu falo justamente disso. Algumas pessoas estão seguras de si porque elas confiam nessas crenças e, sim, cada um passa pelo próprio processo de escolher o que acreditar. Mas você não pode materializar uma crença do ar, é algo que você experimenta.
E o que eu experimentei até aqui coloca a minha existência em crise.
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Crenças são mais do que religião
Recentemente eu li o livro da Amanda Palmer, "A Arte de Pedir", e ela não fala nada sobre religião em si, nem sobre seguir rituais de alguma religião. Porém, eu achei interessante que algumas vezes ela fala do "universo". E daí?
E daí que nesse livro a Amanda Palmer mostra como construiu a própria carreira musical com base na confiança dos outros. Desde o início, que ela era uma estátua viva, e ficava em pé nas ruas dependendo em grande parte disso para ter o que comer. No meio do caminho, onde mesmo tendo dinheiro pra pagar ela fez turnês dependendo de pessoas dando um espaço para ela morar e até comida. Até agora, com alguns anos de carreira e cds lançados, onde ela usa formas da internet tipo Kickstarter, Patreon e etc, para poder viver de música. Ler o livro dela foi uma experiência meio surreal, porque parece impossível que alguém possa viver assim. Ela fala de chegar na casa de estranhos de madrugada para dormir. De se reunir com fãs (completos desconhecidos) na praia e largar a carteira no meio de todo mundo sem ser roubada. Wtf. Eu cresci indo a escolas que tinha que levar a mochilinha pra o recreio se não roubavam meu lápis. Dá pra confiar nas pessoas dessa maneira?
Eu nem acho que a história dela é de uma perspectiva inocente, "segura na mão de deus e vai!!", e ela mostra vários momentos de insegurança (crises existenciais?). Mas o que eu acho curioso é que no meio disso volta e meia ela fala sobre o universo. Como o universo dá a volta pra resolver as coisas. É uma clara crença dela. Nessa força ~geral~ da confiança. E, evidentemente, o livro A Arte de Pedir é uma prova viva de que ela tem algum resultado nisso.
No início tem um momento que ela comenta algo tipo "essa é pra os matemáticos - como é que várias pessoas diferentes jogando dinheiro de forma aleatória em um chapéu, pode resultar em uma quantia constante?" Talvez exista uma resposta. Talvez seja o universo.
Isso é algo que ela pode acreditar. É uma verdade que ela escolheu seguir.
Digo isso pra mostrar que, ei, crença não é só a "religião". Mas de certo modo é essa fé nas coisas que nós não podemos definir.
Todas as respostas dessas principais perguntas que a Duda fez - "Por que a gente existe? Por que a gente ta nesse universo? Qual é o propósito disso tudo? Pra onde a gente vai depois de morrer? " - todas elas são uma questão de fé e crença.
O Felipe respondeu sobre a morte: "Nosso cérebro é desligado, os órgãos param de funcionar, a gente morre e é enterrado. A menos que se acredite que não somos o nosso corpo, algo como o conceito de alma... Mas aí meio que já é ter fé em alguma coisa, né?"
Mas por que acreditar que nosso cérebro é desligado, os órgãos param de funcionar, etc, também não é uma questão de fé? Tem como você provar que é só isso?
Não?
Então acreditar que é só isso também é uma questão de fé.
E às vezes a fé é tão simples quanto morreu e pronto. Acabou. Outras pessoas não conseguem acreditar só nisso ou basear a vida só nisso. Até mesmo a possibilidade de que não seja só isso é aterrorizador.
Crenças são verdades inexplicáveis que você vive?
Uma parte que eu editei do texto principal era sobre o processo criativo - como diversos artistas não relacionados acabam passando pelo mesmo processo criativo. É uma coisa meio absurda. Eu aqui de boa distraída sozinha escrevendo as minhas histórias e posts. Aí vou ler um texto escrito por um cara no Japão 400 anos atrás e ele tá falando que faz a mesma coisa. Eu definitivamente não aprendi com ele, ele definitivamente não aprendeu comigo. E NÓS FAZEMOS A MESMA COISA.
E nos últimos anos andei lendo vários textos sobre músicos, sobre escritores, sobre empreendedores e sobre outros artistas, em alguns casos até coisas científicas. Aí eu começo a perceber padrões. Cada um fala de um jeito, mas é como se todo mundo tivesse falando a mesma coisa. Eu não sei explicar, mas não é plágio. É simplesmente que eles chegaram à mesma conclusão. Mais do que isso - eles experimentaram a mesma conclusão.
O que isso diz sobre o mundo? Será que existe uma verdade silenciosa que nos une? Eu cheguei até mostrar no primeiro post como nas próprias religiões há padrões que se repetem. Então a gente pode não chegar a respostas absolutas, mas nós chegamos à nossa interpretação de como o mundo funciona.
Dito isso, eu não sou 100% descrente. Na verdade, eu não acho que ninguém seja 100% descrente. Até não crer em nada é uma crença.
A diferença é que se eu falar que acredito em Jesus - é a minha religião, é a minha fé, me respeita. Se eu falar que acredito em fazer o bem e equilíbrio porque eu me identifico com The Legend of Korra - eu pareço uma lunática. Eu me sinto lunática.
E será que eu sou?
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1 comentários
Eu vim VOANDO nesse texto quando ele foi publicado e não dava pra comentar e fiquei POXA. Mas lembro que uma coisa que eu queria dizer, vendo essa comparação entre Jesus e Legend of Korra (que é totalmente aceitável pra mim, visto que ambos casos são apenas extrair lições da vida de personagens), era que, se a história de Jesus fosse narrada em outro formato, que não em um livro antiquíssimo sem muitos recursos de escrita, acho que você gostaria pra caramba. Porque é FANTÁSTICA <3
ResponderExcluir(Lembrei agora de um texto do CC, acho que é seu também, que fala como lições bíblicas também estão em outras histórias ou algo assim)