No início da semana, na volta do dentista, um homem sentou ao meu lado na van e me mostrou a nota em um jornal que mostrava Monique Evans e sua namorada. Ele disse: agora você vê, depois de velha, com filha criada, começou a namorar mulher. É o fim do mundo!
Como não sou de contestar opinião de gente que não conheço, muito menos discutir, ignorei e foquei minha atenção para janela.
Eu fiquei tão irritada com essa situação, que dias depois ao receber a notícia de que o casamento entre pessoas do mesmo gênero foi legalizado em todos os estados dos EUA fiquei muito emocionada. É possível que outras nações vejam a ação dos Estados Unidos (a maior nação do mundo!) como um exemplo positivo e isso influencie mais países a tornarem legal o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Comecei a perceber a diferença entre os gêneros conforme fui crescendo e participando de comunidades diferentes, sejam elas de séries, filmes ou livros. Sempre estive cercada de pessoas gays. Nunca tive problema em aceitá-los (por que teria?). No entanto, ao crescer também percebi que muita gente não pensava assim.
Eu tenho a noção de que o meu modo de viver não é afetado pelo amor de uma pessoa por alguém do mesmo sexo. O meu modo de viver não afeta a vida dessas pessoas e de ninguém mais, além de mim. Eu tenho a noção de que meus sentimentos ou reações em relação a algo se referem a mim e não a outra pessoa. Talvez seja por isso que sempre foi fácil para mim aceitar isso.
É estranho perceber que se eu gostasse de alguém do mesmo sexo que eu, eu poderia não ser aceita pela minha família. Teria que mudar o que sou, me reprimir e não poderia demonstrar o meu carinho por outra pessoa. Isso tudo porque muita gente não está de acordo com os meus sentimentos. Como alguém pode se sentir no direito de dizer o que outra pessoa deve fazer? Como alguém pode querer interferir, dizer ao outro o que fazer, como se portar, o que é aceitável ou não? Quem diz o que é aceitável?
Com todos os comentários de "é o fim do mundo", "onde nós vamos parar" é que realmente penso: onde é que a gente vai parar?
Vi pessoas compartilhando mensagens e imagens nas quais diziam para que no momento que a sociedade se mobilizasse para causas mais nobres (fome, saúde e outros), eles mudariam sua foto de perfil em apoio.
Sim!!! Essas causas são importantes, aliás, essas as causas são importantes e existe espaço para todas. A visibilidade do movimento de hoje não deve ser menosprezada porque ocorrem falhas em um sistema mundial, mas quer saber? A homofobia é uma falha desse sistema. E todos somos vítimas de alguma forma. Todos temos que lutar para fazer um mundo melhor à nossa maneira, já que se não tivermos esperança de que algo vá melhorar se torna dificílimo viver por aqui.
Portanto, não é possível deixar as outras causas tirarem o brilho e a importância do que aconteceu no dia 26/06/2015. Também não é possível deixar que essa homofobia disfarçada de "tem tanta gente morrendo e ninguém fala disso" passar. Essa é a consequência da legalização dos EUA. E temos que falar sobre isso sim. Tanto disso, quanto das pessoas morrendo, passando fome... É importante. Mas ao invés de ir no facebook reclamar dos amigos que estão participando de "modinha" ao mudar a foto de perfil, veja o que você está postando. A maioria das pessoas está ali apenas expondo as suas vidas. Não estão apoiando nenhuma causa. Alguém que apresenta esse tipo de discurso está só tentando esconder sua homofobia. <ironia> Afinal, hoje em dia não se pode falar nada, né? </ironia>
O amor, o respeito ao próximo, o cuidar da própria vida, desejo do bem, o cuidado com as palavras, o realmente se importar estão em falta no mundo. Para mim, todo esse ódio, a mobilização contra o amor das pessoas, o uso da fé para alienação, as pessoas se permitirem a pensar dessa maneira, bom, pra mim, esse é o fim do mundo.
Sobre a autora:
Eu sou a Nathalia, tenho 18 anos e estudo jornalismo. Quando não estou reclamando de algo no twitter, posso estar assistindo a alguma série ou lendo algum livro. Meu gosto musical vai de indie até Banda Uó. Meu sonho é trabalhar fazendo algo que gosto e que dê pra assistir RuPaul's Drag Race tranquilamente.
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Eu sou a Nathalia, tenho 18 anos e estudo jornalismo. Quando não estou reclamando de algo no twitter, posso estar assistindo a alguma série ou lendo algum livro. Meu gosto musical vai de indie até Banda Uó. Meu sonho é trabalhar fazendo algo que gosto e que dê pra assistir RuPaul's Drag Race tranquilamente.
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Nathalia Duarte
9 comentários
Excelente pensamento, quisera que mais pessoas refletissem dessa maneira.
ResponderExcluirParabéns pelo texto.
Obrigada! Seria um sonho se as pessoas fossem mais sensatas :/
ExcluirOi, Nathalia!
ResponderExcluirAssim como você disse isso tudo é homofobia disfarçada. Essas pessoas que me torram a paciência usando o argumento da fome na África não fazem nada pela fome na África. Nem pela fome no Brasil, nem na própria cidade. Tem umas que não fazem nada por coisa nenhuma. Dizendo o óbvio, elas só querem desmerecer e tentar reprimir qualquer conquista LGBT. Eu duvido muito que pensem na criança passando fome na África quando colocam mais comida do que podem comer e jogam essa comida fora.
"tem tanta gente morrendo e ninguém fala disso" ainda quero perguntar para uma pessoa dessa o que ela acha de falar sobre os homossexuais que morrem por causa da homofobia, mundo a fora.
Foi um ótimo texto! <3
E mais: é algo meio... não sei racista. talvez racista por consequência, mas cria esse estereótipo da África de que é um lugar pobre sofrido, apaga todas as particularidades dos países no continente. É até como dizer "ninguém no resto do mundo pode sofrer porque tem esse lugar do mundo que é pior que os outros e lá as pessoas sofrem mais". é pintar a África como o pior lugar do mundo. E acho que, por consequência, é racista porque associamos a África a pessoas negras.
ExcluirE da parte da homofobia: concordo com isso que vocês duas falaram. ignora completamente qualquer forma de sofrimento que as pessoas LGBT+ (não só homossexuais ;x) paassam.
Sabe qual é a parte sinistra? Eu não tinha reparado em nada disso até a Nathalia escrever sobre
E eu não tinha pensando que isso pode ser racista de certa forma até você falar...
ExcluirTeve uma vídeo aula de história que assisti que o cara ressaltava que a gente meio que trata a África como um país e não um continente. Como se fosse tudo uma coisa só. "apaga todas as particularidades dos países no continente." E até então eu nunca tinha reparado que eu fazia/faço isso e que não sei quase nada da cultura dos países de lá.
Isso me lembra de alguma forma o discurso da Chimamanda Adichie sobre uma única perspectiva.
HUAHAUHAUH EU TAVA FALANDO DESSA RELAÇÃO COM O VÍDEO DA CHIMAMANDA AGORA. Em Sense8 um personagem até dá um olê nisso de "ah, a África". demorei a perceber isso de apagar as particularidades. e é um continente gigante. pensando agora, acho que até esse é um dos problemas do continente. um professor uma vez mostrrou como a divisão dos países são retas e falou que é porque foi feito por europeu. tipo, eles dividiram o continente em países e "é isso". e ignorou completamente a realidade dos povos que existiam ali. das divisões sociais. de tudo oq ue já existiam. me falaram que muito problema que dá é que você vem e tem dois povos inimigos agora dividindo o mesmo território. e não é absurdo? olha o tamanho do roubo da voz. da sobreposição cultural.
ExcluirSim! Muitas vezes a gente só percebe essas coisas por outras pessoas falam sobre, por isso é importante todo esse debate. Quanto mais a gente discutir, mais vamos entender outros pontos de vista.
ExcluirIsso é realmente racista. Também tem um pouco daquela coisa de a gente não pode sofrer por alguma coisa, porque tem gente em situações muito piores. Só que ninguém faz isso e a maioria das pessoas tb não faz nada pelas pessoas que estão em situações ruins.
E essa coisa de uma única representação da África é muito verdade porque a maioria das pessoas não vê como um continente enorme e cheio de países diferentes, mas como um único país pobre. Eu vi até uma campanha no twitter da BBC com um vídeo mostrando as riquezas culturais da África (viu já não me lembro se era continente ou da África do Sul só), uma iniciativa super diferente, mas muito simples.
No caso dessa divisão feita pelos Europeus, ela criou grande parte das guerras entre tribos :/
Eu acho muito ruim essa história do "não pode reclamar tem gente que passa por coisa pior". Desmerece o sofrimento da pessoa. E tá bom que tem gente passando por coisa pior, mas eu não sou essa pessoa e meus problemas são reais para mim. É importante a gente tentar aliviar e ajudar os outros, claro, mas essa história de tem coisa pior é muito problemática. Divagando: acho que o fundo do poço é diferente de acordo com cada pessoa, mas não é porque há fundos piores que não seja o seu fundo, já. (isso fez sentido?)
ExcluirFaz sentido sim! É justamente isso, não alivia nossa dor saber que alguém está sofrendo "mais" porque não é na nossa pele. É importante a gente tentar se colocar no lugar das pessoas pra entender o que elas passam, mas não faz a minha dor ser menor.
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