A Coragem do Primeiro Pássaro
André Dahmer
A Coragem do Primeiro Pássaro e a dificuldade de resenhar livros de poesia
25.6.15pauloPara começar este texto, preciso recorrer ao clichê da introdução em que se afirma não saber o que escrever. Não estou me apoiando num lugar comum, eu de fato não sei. O que eu estava pensando quando aceitei resenha um livro de poesias? Já escrevi até uma newsletter falando sobre minha falta de afinidade com poemas, então é claro que resenhar algo do tipo seria um desafio.
Tudo bem, como também relatei na newsletter, eu e a poesia estamos nos conhecendo melhor. Porém, ainda nem passamos do flerte. Eu ando lendo um livro da poetisa francesa Nathalie Quintane para a oficina literária que participo e a minha experiência é de altos e baixos; me sinto ótimo quando imagino ter conseguido desvendar a intencionalidade por trás do texto, me sinto péssimo quando a abstração é demais para a minha cabeça. Com A Coragem do Primeiro Pássaro, sinto algo parecido. Apesar dos textos de André Dahmer serem bem mais simples, ainda assim é difícil avaliar o livro integralmente e produzir uma crítica de qualidade.
Mas vamos tentar.
Meu primeiro - e até então, único - contato com o trabalho de André Dahmer era através das tirinhas Vida e Obra de Terêncio Horto, publicadas diariamente no jornal O Globo e compiladas ano passado pela editora Companhia das Letras (com resenha da Elilyan aqui). Tirinhas essas que devo recomendar a quem não conhece, porque possuem um humor sério, de forma bem interessante. Não posso negar, portanto, que tive um certo estranhamento encontrando o escritor numa posição tão diferente através dos poemas que compõem o livro.
Por meio de versos livres, passando sobre qualquer estrutura clássica de poesia, Dahmer desenvolve a história de uma figura - que escreve em primeira pessoa, mas que não é necessariamente autobiográfica - passando pelo período posterior ao término de um relacionamento. Divididos em três partes, os poemas retratam, ora de maneira mais clara, ora mais abstratamente, as mudanças que a ausência de uma pessoa importante causa, a saudade, o sofrimento e a tentativa de recomeço.
Apesar de falar sobre o conhecido período da “fossa”, o autor não cai no romantismo nem numa visão sentimentalista do término. Aqui, o rompimento do relacionamento aparece de uma forma subjetiva, e ainda assim próxima do real. Ideias clichê estão presentes em alguns (poucos) poemas, como no reproduzido abaixo, mas a maioria é diferente, singular.
No geral, o livro é mediano - e digo isso baseado nas minhas impressões pessoais e assumindo minha ignorância quanto à técnica. Os temas tratados são praticamente universais e houve alguns momentos de identificação com o texto, porém, mesmo com pontos bem altos (os poemas ao longo desse post, por exemplo), o conjunto me pareceu apenas regular.
Agora, falando de algo que vai além do texto, é importante comentar sobre a edição. A Lote 42 é uma editora que sempre valoriza o livro além do texto e pensa no trabalho gráfico do mesmo. No caso do Coragem, todas as folhas são pretas, com as letras em branco, o que dá ao livro um ar sóbrio, sério.
André Dahmer concebeu um livro de poesias interessante, mas entre o coração partido do seu eu poético e a pretensão do velho Terêncio Horto, fico com o segundo.
Mas vamos tentar.
Meu primeiro - e até então, único - contato com o trabalho de André Dahmer era através das tirinhas Vida e Obra de Terêncio Horto, publicadas diariamente no jornal O Globo e compiladas ano passado pela editora Companhia das Letras (com resenha da Elilyan aqui). Tirinhas essas que devo recomendar a quem não conhece, porque possuem um humor sério, de forma bem interessante. Não posso negar, portanto, que tive um certo estranhamento encontrando o escritor numa posição tão diferente através dos poemas que compõem o livro.
Por meio de versos livres, passando sobre qualquer estrutura clássica de poesia, Dahmer desenvolve a história de uma figura - que escreve em primeira pessoa, mas que não é necessariamente autobiográfica - passando pelo período posterior ao término de um relacionamento. Divididos em três partes, os poemas retratam, ora de maneira mais clara, ora mais abstratamente, as mudanças que a ausência de uma pessoa importante causa, a saudade, o sofrimento e a tentativa de recomeço.
Apesar de falar sobre o conhecido período da “fossa”, o autor não cai no romantismo nem numa visão sentimentalista do término. Aqui, o rompimento do relacionamento aparece de uma forma subjetiva, e ainda assim próxima do real. Ideias clichê estão presentes em alguns (poucos) poemas, como no reproduzido abaixo, mas a maioria é diferente, singular.
No geral, o livro é mediano - e digo isso baseado nas minhas impressões pessoais e assumindo minha ignorância quanto à técnica. Os temas tratados são praticamente universais e houve alguns momentos de identificação com o texto, porém, mesmo com pontos bem altos (os poemas ao longo desse post, por exemplo), o conjunto me pareceu apenas regular.
Agora, falando de algo que vai além do texto, é importante comentar sobre a edição. A Lote 42 é uma editora que sempre valoriza o livro além do texto e pensa no trabalho gráfico do mesmo. No caso do Coragem, todas as folhas são pretas, com as letras em branco, o que dá ao livro um ar sóbrio, sério.
André Dahmer concebeu um livro de poesias interessante, mas entre o coração partido do seu eu poético e a pretensão do velho Terêncio Horto, fico com o segundo.
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2 comentários
Adorei seu post Paulo, pq amo poesia, apesar de ter um conhecimento muito raso sobre.
ResponderExcluirSou o estereótipo de menininha românticoa e sonhadora e adoro os poemas clichés, e gosto qdo os autores brincam com a sexualidade e sensualidade tb. Qdo eu escrevia (ffaz tempo q não escrevo) gostava de fazer isso. Não sei nada de forma e estilo, , só sinto. Fiz até um poemasinho que expressa isso. " Que me desculpem os sábios, mas aprendi a gostar de poesia com Os sapos" E pra mim poesia é isso, sentimento.
Parabéns pela tentativa de resenha, ficou ótima.
Muito obrigado, Taiany! O livro do Dahmer foge, na maior parte do tempo, desse cliché, mas talvez seja legal dar uma conferida no trabalho dele. E concordo com você quando diz que poesia é sentimento. Até mais :)
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