Então, jovens padawans, hoje sai e eu prometo que é sim um assunto mega interessante, pelo menos para mim. Para vocês terem uma ideia, eu fiquei tão fascinada que encasquetei na cabeça o desejo de fazer um trabalho na faculdade sobre isso, o problema é que não achei nenhum professor para me orientar e tenho que escrever minha monografia. Mas no futuro quero muiiito escrever sobre isso.
Tudo começou numa bela manhã na qual eu estava me vestindo
para ir à faculdade. Liguei a TV enquanto estava tomando café, e qual não foi a
minha surpresa ao ver uma mulher pelada às 05h30min da manhã. Descobri então que
aquela era uma série do Canal Brasil chamada 302, vou colocar a descrição da
série aqui:
"A série 302 é um projeto artístico do consagrado fotógrafo Jorge Bispo. Nela, Bispo recebe anônimas comuns dispostas a tirarem a roupa para um projeto artístico e minimalista em um apartamento. Inicialmente, a ideia consistia em unir hobbies do anfitrião da série. Todas as imagens eram publicadas em sua página na internet, sempre focando no anonimato das modelos. Mesmo as famosas já registradas não tiveram o sobrenome divulgado. A questão do programa é justamente fornecer um olhar sobre a beleza das mulheres normais, sem uma grande produção ou retoques gráficos. No começo de cada episódio, a modelo comenta a sua relação com o próprio corpo e os motivos que a levaram a se despir para a câmera. A partir daí, a sensualidade de cada uma aflora, sendo muitas vezes desconhecida por elas mesmas."
A questão é que esse projeto é
muito mais do que ver mulheres sem roupa. A nudez ali é mais da alma do que do
corpo, você sofre com as histórias delas, você se identifica. Eu nunca pensei
em fazer um ensaio nu, nunca me senti tão à vontade assim com o meu corpo para
expor ele a um fotógrafo, mas, depois de acompanhar a série, eu passei a
encarar a nudez de outra forma e super faria um ensaio.
Nós precisamos conhecer
nosso corpo, olhar para cada imperfeição, cada linha de história, cada sutileza e
beleza, precisamos olhar para o espelho de forma a ver nosso corpo, sem medo e
sem julgamentos. Eu fiquei e ainda fico tão empolgada com esse assunto que acho
difícil fazer algum sentido falando ou escrevendo sobre ele, então vou colar
aqui fragmentos de conversas que tive sobre a série com algumas pessoas. Sério
gente, quem me viu quando eu descobri o projeto sabe o quão maluca fiquei e
acho que a falta de estrutura desse post já demonstra um pouco disso.
PS: O
nome das pessoas não será divulgado para preservar a identidade delas.
PS²:
Minhas conversas são cheias de surtos, então vocês verão repetições das
informações e reações histéricas minhas.
Conversa 1.
Essa foto é lindíssima |
AMIGO(A): Sobre o que é Tai??
EU: O fotógrafo clica mulheres nuas ou seminuas
sem nenhum pudor de tipo físico, raça, credo ou orientação sexual, mostrando a
beleza feminina sem retoques ou amarras de padrão. A ideia era fugir do clichê
das modelas e fotografar garotas sem experiência de posar. O resultado deu
super mega certo e, depois de um ano e mais de 100 mulheres que passaram em seu
apartamento, o fotógrafo compilou seu trabalho do tumblr para o livro
Apartamento 302. É um nu muito intimista, adorei o trabalho.
EU: Pensando...ele tinha que fazer de homens também. Homens
reais, não os caras que idealizamos. As mulheres sofrem com a sociedade da
beleza, mas os homens também, todas essas questões de masculinidade e tals.
AMIGO (A): Verdade. Mas nós ainda somos mais cobradas.
AMIGO (A): Verdade. Mas nós ainda somos mais cobradas.
EU: Não sei não, porque
nós somos muito cobradas, mas é escrachado. Já a cobrança para com os homens é
algo muito velado. Eles não dividem isso. Hoje, nós mulheres, falamos das
nossas cobranças, e quando os homens falam das deles????
AMIGO (A): Porque são
cabeçudos. O dia que começarem a se abrir mais, vai diminuir a quantidade de
homem com câncer de próstata.
EU: E como é louco isso de percepção corporal, já estou aqui pensando em todas as profissões que em busca da perfeição submete a mulher a se sentir sempre em busca dessa perfeição que não existe. E isso já começa desde de criança, crescemos achando que existe algo errado com a gente.
AMIGO(A): Quando é o contrario, porque como o corpo feminino é lindo, é sutil, é artístico. Quando olho a corpo da mulher eu penso em arte. Quero o link dos vídeos.
EU:
Vou sair daqui, tenho que vê mais vídeos, já te mando o link.
Conversa 2.
Ser cadeirante não torna ela menos mulher |
AMIGO: Verdade cara, mas não vou ver porque vídeos q
EU: Aff. Só tu mesmo. Pensando...ele tinha que fazer de
homens também, ia ficar muiiito bom, imagine. Os homens falando sobre quem eles
são, como eles se veem , o que eles passaram. To até imaginando. Homens também
se cobram e também sofrem com a cobrança da sociedade. Eu queria muito os ouvir
falando disso, porque parece que eles não falam sobre. Nós hoje ainda falamos
sobre algumas coisas, não acredito que um homem divida com outros suas neuras.
Conversa 3.
EU: Eu vi uma série maravilhosa sobre como as mulheres se enxergam, como elas foram criadas, como elas se veem no espelho, sobre o que elas pensam delas mesmas.
AMIGO(A): Qual o nome?
EU: Eu ainda não sei se é 302 ou apartamento 302, detalhe, as mulheres estão nuas. Nunca vi tanto peito na vida sem ficar enjoada rs
AMIGO(A): Pqp só tu mesmo, mas sim, também não gosto de ficar vendo peito, quero ver partes masculinas.
EU: Não é? hahahahahahahha Mas sério, o que torna essa série/ documentário maravilhoso é que a nudez é só um instrumento usado para que as mulheres de libertem te toda a couraça que a sociedade as obrigou a usar. Nem sei se a ideia do projeto era essa, mas, foi isso que saiu.
AMIGO(A): Onde cê tá vendo isso???? Parece bem legal, eu acho que não teria coragem, mas não sei se é mais difícil ficar pelada ou falar de mim, nem sei se sei falar de mim rs
EU: É no Canal Brasil, cata na net que tu acha. Eu achava que nunca teria coragem para fazer um ensaio nu, mas depois de ver os ensaios, to querendo sair correndo e bater no porta do Bispo (o fotografo).
EU: Não deixe de assistir em, quando chegarmos na faculdade quero te azucrinar sobre isso. Até porque lá tem umas mulheres que só se descobriram mulher depois de lutar pacas, mas outras que desde pequenas foram criadas de forma a dá vazão para sua feminilidade e sexualidade também.
AMIGO(A): Família é o referencial né, se já coloca a mulher como alguém menos capaz por ser mulher é foda. Ou se poe a mulher num lugar de vergonha, fica super difícil de desmentificar isso.
EU: Ainda bem que estamos encontrando nossa voz. AGORA VAI VER OS VIDEOS.
Nudez é
mais do que tirar a roupa. Você pode estar pelado na frente de uma penca de
gente e ainda sim estar vestido com todo tipo de armadura. Nudez é se expor, se
apresentar sem nenhuma maquiagem, sem proteção.
O que mais gostei nesse projeto
foi que ele me permitiu identificar várias realidades, me permitiu ver como os
estereótipos machucam e que não sou só eu quem sofre com isso. Por exemplo,
você pode pensar que uma mulher alta e loira não é julgada, não sofre
preconceito, mas e a ideia popular de que loira é burra??? Ela tem que lutar
contra isso, tem que se provar como alguém. Talvez a maior vontade dela seria
não ser loira para que não fosse pré julgada por isso. Aí temos as mulheres
gordas que passam uma vida sofrendo para achar roupas, sapatos, para se
sentirem bonitas. Eu chorei e sofri muito quando vi o vídeo da Polly porque sei
do que ela tá falando. Ou você pode assistir o vídeo de uma mulher que não tem
problema nenhum em tirar a roupa, no entanto, não sabe se desnudar. Ela trabalha ficando pelada, só que quando sai do personagem não sabe quem ela é. Há muitas outras histórias de mulheres fortes, de mulheres que se tornaram
fortes, de mulheres que desde pequena tiveram uma relação legal com o corpo e a
nudez e que puderam se expressar livremente e outras que foram reprimidas.
Mulheres parecidas e ao mesmo tempo tão, mas tão diferentes.
Eu aprendi duas coisas vendo os vídeos: não estamos sozinhos na nossa relação amor e ódio com o corpo, e todos, em alguma medida, se sentem cobrados pelos padrões sociais, mesmo quando aparentemente, eles correspondem ao padrão. Na verdade, eu aprendi três: eu estou cada vez mais apaixonada por quem eu sou e pelo meu corpo.
É triste observar que as mulheres estão sempre insatisfeitas com os corpos, cabelo, escolhas, parece que a insatisfação é em ser mulher, mas aí do nada aparecem mulheres falando que se amam, que adoram seus corpos, que aprenderam a se gostar. Isso é MARAVILHOSO, porque o problema não é você não gostar do seu nariz e querer mudar, é você não perceber que apesar do nariz que não te agrada você é linda. Só por ser você.
Quer mudar o nariz, alisar o cabelo, emagrecer? Super apoio, mas faça isso para realçar o que é mais belo em você, não para ser aquilo que dizem que você deve ser. E durante os ensaios, as mulheres falam justamente sobre isso, sobre como é difícil se descobrir, ser você mesma, e como a gente tropeça o tempo todo nessa busca, mas, mesmo assim, de como é lindo ser mulher.
Não sei se consegui mostrar a síntese do que me encantou nesse
projeto, mas vocês viram algumas fotos dele aqui e estou deixando o link. Deem uma chance, assistam e se permitam ouvir o que os corpos estão
falando.
- taiany araújo
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2 comentários
Gostei do texto. Não conhecia esse documentário, vou dar uma olhada na net sobre, fiquei curiosa.
ResponderExcluirBjs.
Achei as fotos lindíssimas! Não conhecia o documentário vou procurar. =D
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