age of ultron
análise
Os Vingadores 2: Era de Ultron e o monstro dentro de todos nós
24.4.15Dana Martins
"Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades"
No universo cinematográfico da Marvel (MCU), eles não estão criando histórias de "super-heróis", eles estão buscando o ponto de equilíbrio entre a nossa realidade e esse mundo onde pessoas têm poderes sobrenaturais. É por isso que você vê em cena eles se assustando quando no meio de combate surgem outras pessoas com poderes especiais, ou existe a S.H.I.E.L.D. em que o grande propósito é esconder do mundo toda essas coisas sobrenaturais. Aliás, é só nesse filme, Vingadores 2, que o mundo realmente vê o Hulk como o monstro destrutivo que ele pode ser.
Tipo, todos nós conhecemos o Hulk e o dilema dele, mas as pessoas comuns no MCU nem tanto.
E daí?
E daí que eles não desenvolvem histórias sobre pessoas fantasiadas salvando o dia, eles desenvolvem as histórias sobre como elas chegam a esse ponto e quais as consequências disso. No primeiro Os Vingadores nós vemos esse time pessoas diferentes sendo unidas por um propósito, agora eles já se veem como esse grupo unido de heróis, mas... será que eles são mesmo os heróis?
Os Vingadores 2: Era de Ultron questiona o que precisa pra se tornar esse herói. No início tem uma cena de comédia onde todos tentam levantar o martelo do Thor pra ver se é merecedor e não é à toa. Eles são merecedores?
Qual é essa linha de equilíbrio que divide um herói de um vilão?
A partir disso, todas as histórias do filme são desenvolvidas com base nisso. Sim, no plural, porque estamos falando de uma equipe com 8 pessoas e todos eles são desenvolvidos.
Novamente, o carro-chefe é o Homem de Ferro, que se descobriu como herói no primeiro Vingadores (e ele te lembra isso durante o filme se você tiver esquecido). Tony Stark decide dar um passo além e proteger o mundo inteiro de ameaças. Só que ao fazer isso acaba dando vida a uma inteligência artificial bizarra, o Ultron.
Feiticeira Escarlate, Mercúrio, Thor, Homem de Ferro, Capitão América, Viúva Negra, Gavião Arqueiro e Hulk no fundo |
Novamente, o carro-chefe é o Homem de Ferro, que se descobriu como herói no primeiro Vingadores (e ele te lembra isso durante o filme se você tiver esquecido). Tony Stark decide dar um passo além e proteger o mundo inteiro de ameaças. Só que ao fazer isso acaba dando vida a uma inteligência artificial bizarra, o Ultron.
Capitão América: "Toda vez que alguém tenta terminar uma guerra antes dela começar, pessoas inocentes morrem."
Pensa só, Tony Stark estava tentando proteger o mundo de uma possível ameaça (se prevenir), só que com isso ele criou a ameaça. E não é apenas o Ultron que ele criou - foi o Tony também que deu origem ao desejo de vingança dos gêmeos (Feiticeira Escarlate e Mercúrio), depois de vender a bomba que matou a família deles. O Tony provavelmente não fez a bomba como uma forma de ameaçar os outros, mas com certeza deve ter feito e vendido por "proteção". Vamos armar o nosso país para se proteger de uma possível ameaça. E nos dois casos ele é que acaba criando a ameaça.
Em um momento de Vingadores 2, alguém (a Feiticeira Escarlate? o Ultron?) diz como somos nós mesmos que criamos os nossos medos.
"eu matei todo mundo" |
Um detalhe é como o Ultron imita o Tony Stark em diversas formas de agir e falar, o que enfatiza a parte monstro dentro do Homem de Ferro. Grande Talvez do herói: sim ou com certeza?
Então voltando ao tema central - nós temos aqui um filme sobre uma ameaça de extinção da espécie humana por causa de algo que um super-herói fez.
Um dos meus arcos preferidos é o Viúva Negra + Hulk, porque os dois são a base desse dilema entre herói vs. vilão. Ele é um monstro e ela é programada pra matar. Os dois, mais do que qualquer outro, convivem com essa parte de si que eles têm medo que tome conta. E se não houver saída pra ela? E se ela for essa assassina egoísta? E acredito que seja isso o que aproxime Natasha e o Bruce Banner, porque ele vive constantemente com esse lado destrutivo. Ambos são heróis que conhecem os monstros dentro de si. Sabem que se perderem o controle podem causar uma destruição a qualquer momento. Natasha está olhando para o abismo e o Bruce vive no abismo.
Em paralelo, descobrimos a vida do Gavião Arqueiro fora disso, uma vida que ele precisa esconder do mundo - olha aí a gangorra do herói. Ele vive salvando os outros, mas as pessoas mais importantes pra ele vivem sob o constante risco de vida. Por causa dele. O Gavião Arqueiro não é nem de longe tão destrutivo quanto a Viúva Negra ou o Hulk, mas ainda carrega em si outra forma de destruição. Além disso, vive distante da família. (Se você assistiu The Legend of Korra, imagine a relação do Aang com os filhos)
O Thor é o menos desenvolvido de forma geral. Ele é quase recurso de roteiro. Ele é que é o policial do uso do cajado (?) mágico, ele que resolve o conflito entre o Capitão América e o Homem de Ferro fazendo o Visão surgir. É também através do martelo dele que eles confiam no Visão. E tá sempre lá usando seus superpoderes pra vencer a batalha. Até porque esse é um filme sobre saber se você é merecedor de ser herói e ele provou isso lá em 2011, quando levantou o martelo. Mas não pense que é só isso - quando Feiticeira Escarlate entra na cabeça dele, Thor procura lá as águas da visão (ou qualquer água mágica com ajuda do cientista), e pra poder completar sua visão precisa ser merecedor. Apesar disso passar super rápido em um filme cheio de histórias, Thor também enfrenta um teste para provar que é bom o bastante.
(Oh, seria tão bom se tivesse um deus que pudesse nos mostrar qual é o caminho certo. Ei, pera aí)
Também temos os gêmeos, Mercúrio e Feiticeira Escarlate, que começam essa história como experimentos da Hidra, se juntam ao Ultron e depois entram para os Vingadores. Acho que eles são o principal medidor do "herói", já que somos colocados do lado deles e quando eles estão como os vilões isso nos obriga a repensar os nossos princípios. Talvez o vilão não seja tão ruim assim. Talvez tenha coisas erradas com os nossos heróis.
Tem um momento ótimo do Capitão América com a Maria Hill (moça da SHIELD), quando ela faz algum comentário sobre os gêmeos terem sido voluntários para experimentos do governo (que tipo de gente faz isso, né?) e ele rebate lembrando que isso é exatamente o que ele fez. Por que ele estaria certo e os gêmeos não?
Acho que os dois lados do muro dos gêmeos é a divisão entre vingança e fazer um mundo melhor. Por um lado eles querem se vingar daquele que matou sua família, por outro eles querem construir um mundo melhor onde crianças não fiquem sem família. Depois que tudo acontece, eles aprendem que esse é o objetivo dos Vingadores.
O que nos deixa por último com o Capitão América. Em uma discussão o Tony Stark diz para o Steve algo sobre não confiar em ninguém que não tem um lado sombrio. Steve é perfeito demais, o herói certinho, até quando reconhece que não é diferente do inimigo. Acho que é por isso que eu gosto muito da abordagem dele: no final deixa implícito que a parte sombria dele é a guerra. Ele é um soldado, um capitão. Ele não tem uma casa de campo para voltar. A casa dele é o combate. Lembra que lá no início eu falei de criar os próprios medos? A grande questão é que se você é alguém que luta pela paz, você é alguém que luta. Fechamos nesse filme o que eles mostram em Capitão América 2: ele não sabe viver sem a luta.
Então é muito bom ver um filme sobre super-heróis que tira um tempo para desenvolver os personagens com cuidado e entrelaça-los nessa dinâmica. Eu analisei em separado os dilemas, mas a verdade é que todos eles se completam. A história do Gavião Arqueiro serve de base pra desenvolver a da Viúva Negra + Hulk, por exemplo.
Queria incluir aqui de alguma forma que no filme eles também discordam e brigam entre si, o que é outro exemplo de como o filme desconstrói a ideia de certo vs. errado. São várias pessoas diferentes, com interesses diferentes, que acabam se enfrentando no caminho.
Queria incluir aqui de alguma forma que no filme eles também discordam e brigam entre si, o que é outro exemplo de como o filme desconstrói a ideia de certo vs. errado. São várias pessoas diferentes, com interesses diferentes, que acabam se enfrentando no caminho.
Essa abordagem é libertadora. É diferente de uma história simples sobre CARA MAL APARECE *corre pra matar* Aliás, uma coisa que eu tava reparando no primeiro Vingadores mesmo - os Vingadores não lutam contra um vilão, eles são uma força de contenção. Na batalha final do primeiro filme eles estão lutando para diminuir os danos na cidade e descobrir como fazer o ataque parar. Loki, inclusive, já é desarmado no início da batalha. Em Vingadores 2 o vilão Ultron vai até o final, mas o que eles estão tentando resolver é como lidar com um pedaço de terra flutuante sem matar as pessoas que estão embaixo e sem matar as pessoas que estão em cima. Super-heróis melhoram o mundo.
Vingadores 2: Era de Ultron corre o risco de ser um filme meio esmagador pela quantidade de informações e personagens em ação no mesmo cenário, mas é, definitivamente, um filme com muita coisa boa para aproveitar.
Acho legal terminar lembrando que eles enfatizam que no final Thor continua sendo o único dos Vingadores merecedor do martelo (o Visão não conta).
-dana martins
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