"O presente do meu grande amor", antologia de contos natalinos publicada pela Intrínseca, pode reunir vários autores legais, mas está longe de ser diversa.
Entenda por quê:
Uma antologia com contos de Natal escritos por doze dos melhores autores young adult do momento! Deve ser algo bem diverso, com histórias para todos os gostos, sobre todos os tipos de jovens, certo? Ou… talvez não.
É só fazer um teste bem simples para tirar a dúvida: olhe para a imagem acima. Quantos casais são formados por pessoas de gêneros diferentes? E quantos são do mesmo gênero? Não é possível afirmar com certeza a etnia de todos, mas quantos têm a pela branca? E quantos têm a pela parda ou negra? Pois é, parece que que "O presente do meu grande amor", organizado pela Stephanie Perkins, e a literatura YA não são tão diversos assim.
Eu, assim como toda a equipe do ConversaCult, sempre valorizo a diversidade e busco trazer discussões para o blog devido à importância do assunto. A literatura - e a ficção no geral - são lugares de refúgio para muitas pessoas, e é frustrante não conseguir se enxergar nas páginas e nas telas. Claro, nem toda história que eu acompanho precisa ser sobre alguém como eu, também é ótimo conhecer outras perspectivas, no entanto, é triste quando tudo o que se vê nos destaques são apenas protagonistas que seguem o já conhecido padrão do homem cis branco heterossexual.
A minha expectativa quando descobri O presente do meu grande amor era de ler histórias que fugissem disso, mas tudo o que encontrei foram versões alternativas de um mesmo enredo. Posso estar generalizando demais fazer essa afirmação, porém, essa é a impressão que tenho quando olho para o conjunto. Embora com alguma exceções, a maioria dos contos gira em torno de uma menina (branca) que conhece um menino (também branco) e se apaixona por ele, dentro de diversas perspectivas das festas de fim de ano.
Não me estenderei analisando conto a conto, já que esse não é o objetivo deste post, mas vocês podem acessar esse arquivo, em que coloquei minhas impressões de cada um ao longo da leitura do livro*, além de comentar o que percebi de diversidade. Aliás, essa foi uma surpresa que eu tive. Com a imagem negativa que tive da capa, nem passou pela minha cabeça que a diversidade poderia aparecer de outras formas. Por exemplo, em três contos há menção a um casal formado por dois homens. Há também contos com protagonistas de outras etnias: uma sul-coreana, uma descendente de chineses e dois mexicanos.
*não reparem no jeito que eu escrevi, foi algo feito por mim para mim mesmo
Esses exemplos são muito positivos; o segundo porque, mesmo todos sendo contos de escritores que vivem nos Estados Unidos, representam a diversidade étnica presente no país. Já o primeiro, pois apresenta histórias de casais homem/mulher sem inclui-los em um mundo paralelo onde só há pessoas heterossexuais. Contudo, ainda há um problema na abordagem de pessoas LGBT+ nesses contos: sempre que há alguém não-hétero, é um homem gay. Vemos o “g” tendo mais destaque dentro do próprio movimento LGBT+, e o mesmo se repete nas representações da ficção. Chega a ser meio cômico que haja elfos (no conto da Jenny Han), mas não personagens trans, lésbicas, bissexuais, assexuais, pansexuais etc.
O que isso tudo diz sobre a literatura young adult que é produzida atualmente? Bom, sendo um livro com alguns dos autores de maior prestígio, O presente do meu grande amor é como uma vitrine do material YA feito nos Estados Unidos. E podemos ver nela o mais óbvio: há pouquíssima diversidade. As coisas legais que existem estão muitas vezes escondidas em prateleiras de difícil acesso, são coisas que não conhecemos. Às vezes, mesmo quem procura acaba passando direto por livros interessantíssimos. Um bom exemplo é uma antologia sobre diversidade sexual organizada pelo David Levithan, lançada em 2009, que eu só descobri outro dia depois que a Dana me mostrou.
Luta, meus amigos. “Se queremos ver um paradigma evoluir, precisamos nos posicionar contra ele”, como disse Bryan Konietzko (criador de A lenda de Korra). O We Need Diverse Books (de onde saíram todas as imagens desse post) e o Manifesto Irradiativo são uma das formas de defender coletivamente nossos desejos, mas a luta pode ganhar várias formas. Procure livros diversos, divulgue, converse com seus amigos. Use sua voz, seja a mudança.
É só fazer um teste bem simples para tirar a dúvida: olhe para a imagem acima. Quantos casais são formados por pessoas de gêneros diferentes? E quantos são do mesmo gênero? Não é possível afirmar com certeza a etnia de todos, mas quantos têm a pela branca? E quantos têm a pela parda ou negra? Pois é, parece que que "O presente do meu grande amor", organizado pela Stephanie Perkins, e a literatura YA não são tão diversos assim.
"Nós precisamos de livros diversos porque eu não via pessoas parecidas comigo na minha cidade e elas também não estavam nas páginas dos livros que eu lia" |
Eu, assim como toda a equipe do ConversaCult, sempre valorizo a diversidade e busco trazer discussões para o blog devido à importância do assunto. A literatura - e a ficção no geral - são lugares de refúgio para muitas pessoas, e é frustrante não conseguir se enxergar nas páginas e nas telas. Claro, nem toda história que eu acompanho precisa ser sobre alguém como eu, também é ótimo conhecer outras perspectivas, no entanto, é triste quando tudo o que se vê nos destaques são apenas protagonistas que seguem o já conhecido padrão do homem cis branco heterossexual.
A minha expectativa quando descobri O presente do meu grande amor era de ler histórias que fugissem disso, mas tudo o que encontrei foram versões alternativas de um mesmo enredo. Posso estar generalizando demais fazer essa afirmação, porém, essa é a impressão que tenho quando olho para o conjunto. Embora com alguma exceções, a maioria dos contos gira em torno de uma menina (branca) que conhece um menino (também branco) e se apaixona por ele, dentro de diversas perspectivas das festas de fim de ano.
"Nós precisamos de livros diversos porque, caso contrário, pelo resto da sua vida, você irá ler histórias sobre pessoas como eu." |
Não me estenderei analisando conto a conto, já que esse não é o objetivo deste post, mas vocês podem acessar esse arquivo, em que coloquei minhas impressões de cada um ao longo da leitura do livro*, além de comentar o que percebi de diversidade. Aliás, essa foi uma surpresa que eu tive. Com a imagem negativa que tive da capa, nem passou pela minha cabeça que a diversidade poderia aparecer de outras formas. Por exemplo, em três contos há menção a um casal formado por dois homens. Há também contos com protagonistas de outras etnias: uma sul-coreana, uma descendente de chineses e dois mexicanos.
*não reparem no jeito que eu escrevi, foi algo feito por mim para mim mesmo
Esses exemplos são muito positivos; o segundo porque, mesmo todos sendo contos de escritores que vivem nos Estados Unidos, representam a diversidade étnica presente no país. Já o primeiro, pois apresenta histórias de casais homem/mulher sem inclui-los em um mundo paralelo onde só há pessoas heterossexuais. Contudo, ainda há um problema na abordagem de pessoas LGBT+ nesses contos: sempre que há alguém não-hétero, é um homem gay. Vemos o “g” tendo mais destaque dentro do próprio movimento LGBT+, e o mesmo se repete nas representações da ficção. Chega a ser meio cômico que haja elfos (no conto da Jenny Han), mas não personagens trans, lésbicas, bissexuais, assexuais, pansexuais etc.
"Nós precisamos de livros diversos porque eu já conheço minha história. Eu quero conhecer a SUA." |
O que isso tudo diz sobre a literatura young adult que é produzida atualmente? Bom, sendo um livro com alguns dos autores de maior prestígio, O presente do meu grande amor é como uma vitrine do material YA feito nos Estados Unidos. E podemos ver nela o mais óbvio: há pouquíssima diversidade. As coisas legais que existem estão muitas vezes escondidas em prateleiras de difícil acesso, são coisas que não conhecemos. Às vezes, mesmo quem procura acaba passando direto por livros interessantíssimos. Um bom exemplo é uma antologia sobre diversidade sexual organizada pelo David Levithan, lançada em 2009, que eu só descobri outro dia depois que a Dana me mostrou.
E o que vai fazer com que todos esses personagens diversos saiam da invisibilidade?
Luta, meus amigos. “Se queremos ver um paradigma evoluir, precisamos nos posicionar contra ele”, como disse Bryan Konietzko (criador de A lenda de Korra). O We Need Diverse Books (de onde saíram todas as imagens desse post) e o Manifesto Irradiativo são uma das formas de defender coletivamente nossos desejos, mas a luta pode ganhar várias formas. Procure livros diversos, divulgue, converse com seus amigos. Use sua voz, seja a mudança.
- paulo v. santana,
"Nós precisamos de livros diversos porque precisamos abraçar a cultura." |
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6 comentários
Muito válido! Ainda não li O Presente do Meu Grande Amor, e tampouco sou uma leitora voraz de YA (gosto de alguns autores e livros, mas não leio com tanta frequência assim). No entanto, enxergo esses pontos abordados no post (não só nos YA, diga-se de passagem); a presença da diversidade até acontece, mas ainda de forma tímida e, às vezes, não muito natural. Achei superbacana essa iniciativa We Need Diverse Books; essas coisas não mudam de uma hora para outra, e só iniciativas como essa são capazes de realizar transformações, não só nos livros, mas também na cabeça dos leitores.
ResponderExcluirBeijosss, Livro Lab
Obrigado pelo comentário, Aline! Realmente, aos poucos essas coisas vão mudando, mas precisamos nos posicionar a favor da mudança. Ficar de braços cruzados reclamando sozinho nunca melhorou nada no mundo.
ExcluirBeijos,
P.
Ainda há um enorme passo para que a diversidade aconteça naturalmente. Aparentemente a única diversidade sexual neste livro são os gays, ignorando as demais existentes.
ResponderExcluirGosto muito das postagens do CC sobre diversidade, tanto que me ajudou a pesquisar mais e descobrir a orientação sexual.
Seria interessante se futuramente vocês escrevessem sobre Community ou Atlantis: O Reino Perdido, pois pra mim são bons exemplos de como a diversidade (no caso etnicamente) funciona sem problemas em todo um enredo.
Abraços,
Ralf.
Ralf, fico muito feliz em saber que o CC tem te ajudado <3
ExcluirMuito obrigado pelas dicas, vou anotar aqui para trabalhar em cima disso um dia.
Abraços,
P.
Sinceramente, não senti esse problema ao ler o livro, na verdade achei relativamente diverso (não muito ou o necessário, veja bem), apesar de ter me incomodado com o modo como essas etnias foram abordadas no livro. Quanto aos casais gays, já havia reparado há algum tempo q a única representação homossexual nesses livros eram entre garotos, é chocante que só de pensar já me vem vários casais h-h e nenhum m-m. Uma repaginada no universo YA é super necessário e posts como esse são realmente legais para nos fazer pensar mais um pouquinho, adorei.
ResponderExcluirPois é, Tatiana, é bem visível que uma parte específica da comunidade lgbt+ - os homens gays - sempre recebe mais destaque nas mídias. Mulheres lésbicas estão em segundo plano, e quase não se fala de outras orientações sexuais. No momento estou com um post sobre isso em mente, então deve sair aqui no CC em algum momento.
ExcluirAbraços,
P.