Ava Dellaira Cartas de amor aos mortos

Cartas de amor aos mortos, de Ava Dellaira

14.1.15Unknown


<<Sei que escrevi cartas para pessoas sem endereço neste mundo. Sei que vocês estão mortos. Mas posso ouvir vocês. Ouço todos vocês. Nós estivemos aqui. Nossa vida teve valor.>>

Kurt Cobain, 

Não vou te chamar de “querido” porque não tenho intimidade para isso. Suas músicas são boas, porém nunca tive um interesse especial pelo seu trabalho. Escrevo esta carta, então, não para falar de mim, e sim para falar de Laurel, uma menina que tem lhe escrito bastante. Não sei como é o esquema de correio aí no pós-vida, mas imagino que você deva receber um monte de mensagens de fãs apaixonados mesmo depois de vinte anos da sua morte. No meio de tanta gente, talvez alguns detalhes sobre essa fã específica devam ajudar a refrescar sua memória.

A primeira carta da Laurel surgiu quando uma professora passou a seguinte tarefa: escrever a uma pessoa amada que já tenha morrido. Meio fúnebre, né? Mas até que a proposta é interessante - vou até deixar anotado caso eu venha a me tornar professor um dia -, só não sei se eu seria capaz de fazer o mesmo. Felizmente, ainda não passei pela dor da perda de um parente ou amigo próximo, e não tenho uma relação forte de admiração com nenhum artista já falecido. Contudo, entendo a força que há no gesto de escrever a alguém que você ama; escrevi cartas para ídolos (vivos) e amigos o suficiente para saber bem como é.

Enfim, o fato é que a Laurel amou a tal proposta. Não satisfeita ao cumprir a tarefa (que ela acabou nem entregando para a professora, mas deixa para lá), ela escreveu várias cartas não apenas para você, como também para outros famosos que ela admira bastante. Elizabeth Bishop, Amy Winehouse, Judy Garland, Janis Joplin e várias outras pessoas relevantes para o mundo. Será que você percebeu algum burburinho por aí sobre uma menina que escreveu cartas para artistas falecidos? Não é algo que acontece todo dia, não é mesmo? Se você tiver contato com elas, pergunte se também receberam as cartas e, principalmente, se elas leram!



Aliás, nem perguntei se você leu as cartas. Caso não tenha o feito, fica aqui o meu apelo para que você as leia.  A Laurel realmente se entregou a esse trabalho de escrita e compartilhou a própria alma com você e os outros ídolos. Admiro bastante a menina por isso e também pela força que ela tem para seguir em frente. Depois de passar por uma situação traumática, perder a irmã mais velha, ter que lidar com a mãe ausente e ainda começar o ensino médio em uma escola onde não conhece ninguém, conseguir se manter de pé é muito díficil. 

Você só recebe partes da história da vida dela, Kurt, mas eu acompanhei todas as cartas e fiquei bastante feliz em perceber como ela evolui e, no fim, (re)encontra sua própria voz. No entanto, às vezes foi um tanto pedante ler relato atrás de relato da Laurel. Além de escrever um grande número de cartas e sempre dar muitas voltas, o excesso de dramaticidade me incomodou. Tudo bem, a pessoa sente o que ela sente, mas acho que já li tanta ficção com personagens que precisam lidar com algum trauma intenso ou a morte de um ente querido que já estou um tanto saturado de coisas assim, preciso variar mais.

Depois de ler tudo, senti certa simpatia pela história que a Laurel conta, porém, quando me lembro do quanto foi chato acompanhar tudo, desanimo. Mas, ok, é uma história realmente interessante, tanto é que as cartas foram publicadas em um livro! Se tiver acesso à Amazon - eles entregam em todos os lugares, né? -, tenta encontrar o Cartas de amor aos mortos. Provavelmente não é o seu tipo de livro, mas acho que você deveria conhecer a Laurel mais a fundo. E se você realmente não quiser ler, talvez seja um bom presente - vai que você tem algum colega que ama romances jovens dramáticos. Enfim, vou ficando por aqui, com esperança que você pense no que eu disse. 

Grato pela sua atenção,


obs.: há conteúdo envolvendo abuso sexual no livro, é bom avisar antes de indicar uma leitura. 


Livro: Cartas de amor aos mortos

Autora: Ava Dellaira

Editora: Seguinte, o selo jovem da Companhia das Letras

Paginas: 337 


Mensagem da autora para os leitores brasileiros



 (2/5 conversinhas)


Este livro foi cedido pela Companhia das Letras. Obrigado!

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