As Esganadas CCResenhas

As Esganadas, de Jô Soares

6.12.14Anônimo

"Claro, amor, com Dry Martini, tudo muito chique. O enterro aqui é à la carte."

Esse livro me deixou dividido. Confesso que a resenha não se baseia apenas na leitura, e inclui informações adquiridas em pesquisa a respeito do autor. Vamos por partes. Sempre quis ler Jô Soares. Era um item na minha lista de coisas para fazer antes de morrer. Admito, estava no fim da lista, mas estava lá. Então surgiu a oportunidade de ler As Esganadas, e admito que o senhor Soares subiu e muito em minha estima. O problema é que a maioria das resenhas sobre o livro relata a constante de que ele é fraco, mas não fraco por si só, e sim quando comparado aos outros textos do autor. Sim, caros leitores, eu vou ter de me basear em outras resenhas pra poder dar uma opinião honesta sobre esse livro.

Me acompanhem aqui.

Eu até gostei do livro, ao menos o suficiente, mas provavelmente minha opinião sobre ele mudaria se eu já fosse familiarizado com as demais obras do autor. O problema é que, em um geral, as características que eu considerei boas o suficiente para superar os defeitos do livro são técnicas comum ao autor, já sendo re-re-reutilizadas – e de maneira menos criativa desta vez, pelo que parece. Então meu conselho é o seguinte: comece a ler Jô Soares com As Esganadas, ou vá direto ao tão bem falado Xangô de Baker Street ( que eu ainda não li, mas tá na lista. E nem é no fim dela, desta vez) e nem encoste nesse livro. Não há meio termos.

As Esganadas relata o desenrolar de um caso de assassinatos em série ambientados na Rio de Janeiro comandada por Getúlio Vargas. O singular deste caso é o método do assassino. Só mulheres obesas são assassinadas, e em suas entranhas são encontrados vestígios de pratos da culinária tradicional portuguesa. Conhecemos então o delegado Mello Noronha, responsável pela investigação do caso, e seu subalterno, Baptista. No decorrer da investigação esses dois se deparam com duas figuras singulares. O Ex-detetive português Esteves, que se envolve no caso por seu conhecimento de doces português, e Diana, a jovem jornalista que quer cobrir o caso com exclusividade. E juntos eles terão de seguir as pistas atrás deste assassino. Em paralelo a isso, conhecemos mais a fundo a mente do assassino, esta figura cadavérica que é apresentada logo no primeiro capítulo, e tem uma mente bastante singular e perturbada.

tão cult que uso dois óculos,
beijo do gordo pra toda as inimiga!
A ambientação do livro é feita de forma eficiente. Referência a figuras históricas, produtos populares na época e até mesmo a forma das pessoas se portarem parece totalmente coerente. O livro até mesmo se utiliza trechos de propaganda de rádio da época em alguns momentos. O problema é que há um excesso de referências. Se fossem só estas, estava bom. São citados constantemente nome de obras e peças em francês ou alemão, frases de latim e italiano, gírias portuguesas propositalmente estranhas, e a lista continua. A sensação que fica é a de que é impossível apreciar o livro completamente a menos que você seja um gênio bilíngue completamente instruído em arte e opera. Isso cria um aspecto elitista completamente incoerente com o livro, que é entretenimento fácil de ler na maior parte.

O autor tem o habito de começar certos capítulos contando alguma história de um personagem que, a princípio, não parece ter nenhuma relação com a história central, o que às vezes é divertido, e às vezes é cansativo. Um destaque especial é necessário de ser citado: o icônico palhaço rodapé, que conquista até mais do que alguns dos protagonistas, que embora sejam bem caraterizados, se mantém distantes do leitor.

É uma leitura interessante? Sim. Mas não espere muito mais do que entretenimento fácil deste livro. Isso e um monte de citações estrangeiras.


Livro: As Esganadas

Autor: Jô Soares

Editora: Companhia das Letras

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