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Não há vitória: A mensagem por trás de Jogos Vorazes (parte 1)

26.11.14Dana Martins

Olá, olá! Talvez você lembre de quando eu falei desse texto na Hora da Conversa, aqui para você ver (clique em "subscribe" para receber toda semana uma conversa nova :D). Então finalmente tomei vergonha na cara e estou colocando aqui no blog. Faça bom proveito! 


Então eu li um livro e eu li um texto e meu cérebro explodiu. O resultado é essa análise da trilogia Jogos Vorazes. Qual é a principal base por trás dos livros? O que Suzanne Collins estava tentando mostrar quando sentou para escrever? Os anos passam e esses livros continuam me surpreendendo. Estão preparados?

A análise desse texto com base em Jogos Vorazes foi dividida em duas partes. Aqui está a primeira:

No momento eu estou lendo um livro chamado The Creative Habit e cheguei em uma parte que fala sobre a "coluna" de uma ideia. A coluna é basicamente "O que você quer falar com essa história?" E era sobre a coluna de Jogos Vorazes que eu estava pensando. 

Por acaso, logo depois fui ler um texto que citava um discurso do roteirista Charlie Kaufman. Aqui o trecho que fez meu cérebro misturar com The Creative Habit, Jogos Vorazes e explodir:

"E nós estamos famintos, todos nós, e estamos nos matando uns os outros, e odiando uns os outros, e chamando uns os outros de mentirosos e malignos porque tudo é marketing e nós queremos vencer porque nós estamos solitários e vazios e aterrorizados e nós somos levados a acreditar que vencer faz tudo isso mudar. Mas não há vitória."  

Quando eu li esse texto, o "não há vitória" ficou marcado em mim, porque eu acho que essa é justamente a coluna de Jogos Vorazes.

Veja bem, eu não posso afirmar 100% que a Suzanne Collins sentou pra escrever com essa ideia, eu não sou a Suzanne Collins. Mas nesses anos lendo, relendo e analisando a trilogia Jogos Vorazes eu posso afirmar que essa é uma ideia que está sempre lá. Para ser mais exata, se eu fosse definir a coluna de Jogos Vorazes, eu definiria como "o efeito nas pessoas."

Jogos Vorazes, o primeiro livro, é sobre o efeito da estrutura política/ideológica de Panem nas pessoas. Em Chamas é sobre o efeito dos Jogos Vorazes nos participantes. A Esperança é sobre o efeito de toda essa guerra nas pessoas. Os próprios Jogos Vorazes, o reality show, são um "efeito" da revolta dos distritos.



Muita gente se frustra com o fim da trilogia porque espera a narrativa tradicional de final feliz para o vencedor da guerra ("nós somos levados a acreditar que vencer faz tudo isso mudar"), mas não há vencedores. Aliás, eu acho até bem legal, mesmo que anticlímax, o final onde a Katniss é tirada de jogo por uma bomba, em vez de vermos a heroína marchando sobre a mansão do Snow e tomando o poder. Sabe por que isso é legal? Porque essa é a história da garota Katniss Everdeen. Não de Panem. Sobre o efeito disso tudo nela.

Se a gente começar a olhar mais longe ainda, nas referências que levaram Suzanne Collins a escrever o livro, essa mesma coluna está lá. Nós já fizemos um post contando a história da autora e de onde ela tirou as ideias, para quem quer mais detalhes. Acho que a principal base, que a Suzanne Collins não esconde, é a história de seu pai que lutou na guerra. A autora cresceu vendo de perto o efeito da guerra nas pessoas. Não lembro exatamente onde, mas já li a Suzanne falando que um de seus objetivos com Jogos Vorazes foi conversar sobre guerra.

O livro tem uma moral?
As fontes históricas também apresentam a mesma ideia. Primeiro o mito do Teseu e o Minotauro, que é uma história que envolve a consequência da guerra nas pessoas (afinal, é sobre pagar um tributo por perder uma guerra - Atenas precisava enviar jovens para um labirinto a cada 9 anos). Depois o Espártaco, um gladiador que depois de sofrer na mão de Roma liderou a maior revolta de escravos da época. A palavra-chave aqui é "sofrer".

São todas histórias sobre o efeito nas pessoas. Principalmente sobre o efeito de acreditar na ideia de que vale a pena sacrificar uma minoria em nome da maioria. Isso é o Jogos Vorazes, né? A maioria vive em paz enquanto poucos dão a vida. Isso também é a guerra. Mandamos algumas tropas para defender um país inteiro.

Só que... não há vitória. Mesmo quem vence perde muito no caminho. E é isso que a Suzanne Collins mostra nessa trilogia.


-dana martins




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