Aniquilação CCLivros

Aniquilação, de Jeff VanderMeer

19.10.14paulo


“Existem alguns tipos de morte que não se pode obrigar alguém a reviver, um tipo de conexão tão profunda que, quando se rompe, você sente o estalo do elo partir dentro de você.”

Às vezes, um livro escolhido sem nenhuma pretensão surpreende, e muito. 

Foi assim com Aniquilação. Ao iniciar a leitura, esperava uma historia medíocre, que não geraria opiniões fortes, sejam elas positivas ou negativas. No entanto, Jeff VanderMeer logo mostrou que seu romance era mais que isso, construindo uma trama sólida e uma narradora extremamente interessante. Não apenas gostei do que li, também comecei a nutrir certa ansiedade pelas sequências.

Quer saber mais? Continue lendo para ver a resenha completa!


Ilustração do autor, de Eric Nyquist
O primeiro livro da Trilogia Comando Sul teve a vantagem de ser diferente das minhas leituras habituais em todos os aspectos: estilo, enredo, escrita. Quando solicitei o livro, sabia que estava sujeito a uma experiência não tão boa, já que a ficção científica não é de minha predileção. Porém, a sinopse me deixou intrigado, a ponto de me fazer arriscar.

Em Aniquilação, acompanhamos a décima segunda expedição a uma zona misteriosa, chamada de Área X. Nesta região isolada do resto do mundo por uma fronteira, a natureza tomou conta de qualquer vestígio da ação humana - com exceção de um farol, que continua de pé. A organização Comando Sul já enviou uma série de expedições com o intuito de desbravar a área e desvendar esse enigma natural, porém nenhuma delas deu muito certo. Em uma houve suicídio em massa, em outra os integrantes se mataram a tiros e na décima primeira eles até voltaram, mas acabaram morrendo de câncer meses depois.

Agora, nessa nova expedição, foram enviadas quatro pessoas: uma psicóloga, uma antropóloga, uma topógrafa e uma bióloga, que nos apresenta à Área X.

E foi justamente por isso, uma narradora mulher e outras três personagens femininas relevantes em uma história de ação/aventura, que resolvi apostar no livro. Obviamente, o simples fato de termos mulheres em papéis de destaque não diz nada concreto sobre a qualidade de uma obra, mas sabemos como esse tipo de história costuma ser extremamente misógina e tal presença feminina poderia indicar que esta é diferente. E ela é, de fato.

O que lemos, na verdade, é o relato que a bióloga registra em um diário, como o que suas companheiras receberam. Nessa missão, elas não tem nenhum contato com o exterior e devem se virar com o mínimo de tecnologia possível. E essa falta de contato não é apenas no quesito material, ela vai além: agora, a vida que as quatro mulheres levavam e nem mesmo seus nomes importam. Dentro da expedição, apenas a função de cada uma é relevante.

Dessa forma, o tempo todo elas são tratadas pela sua profissão, elemento que fortaleceu a impessoalidade nos relatos da missão. Nomes humanizam as criaturas, e a intenção não era essa; o autor queria mostrá-las apenas como objetos, peças com um propósito que compõe um esquema mais amplo.

Ilustração encontrada na parte interna da capa - preciso dizer que amei?

A narrativa também carrega traços dessa impessoalidade, especialmente no início. A bióloga é muito objetiva e descritiva, afinal, esse é o objetivo ao relatar sua experiência. Felizmente, o aspecto descritivo do texto não fez com que ele se tornasse enfadonho; apesar de longas, as passagem nunca são chatas - e isso vem de alguém que costuma pular trechos desse tipo.

Devo ressaltar que a objetividade narrativa não é encontrada do começo ao fim do livro. A bióloga tem um estilo próprio de narrar e nunca perde completamente o afastamento emocional do texto, porém, como qualquer pessoa, aos poucos ela despeja em seu relato algumas emoções, chegando até a escrever sobre eventos e sentimentos da sua vida anterior à Área X.

Aliás, uma das coisas que me deixou intrigado durante a leitura foi quanto à veracidade do que a bióloga diz. Não me aprofundarei em detalhes, porém, a personagem tem umas ideias muito convictas sobre a pesquisa que o grupo está fazendo, e seu ponto de vista diverge da psicóloga, a líder da expedição. E, por mais que ela tente ser neutra e no início pareça, de fato, uma narradora completamente confiável, em alguns momentos me perguntei se a bióloga realmente estaria certa - ou pior, se ela estaria completamente sã. Essa questão me acompanhou e a sensação de dúvida fez com que eu gostasse ainda mais do livro. A bióloga não poderia ser parcial, afinal, mesmo sendo bastante objetiva ao dissertar, a subjetividade humana não permite a imparcialidade.

Capas das sequências: Autoridade e Aceitação

Posso ter gostado muito de Aniquilação, todavia, penei para terminá-lo. Meu ritmo de leitura foi incomumente lento, já que a história é densa, carregada de detalhes e descrições. O texto em si não é chato em momento algum, porém os capítulos são longuíssimos, as pausas quase inexistentes dificultam uma leitura mais dinâmica.

Mas, e aí, ao terminar a leitura descobrimos os segredos da Área X? Não, claro que não. Aniquilação, como qualquer primeiro livro de série, introduz o mundo e deixa o leitor com mais perguntas que respostas. De certa forma, esse primeiro volume termina fechadinho, e os próximos nem serão narrados pela bióloga. Ela termina sua missão aqui, e em Autoridade e Aceitação descobriremos mais sobre a Área X - ou não - através de outras vozes. Estou desesperado para entender o que se passa, então, Intrínseca, por favor, não demore mil anos para lançar as continuações.


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Livro: Aniquilação

Série: Trilogia Comando Sul, volume 1

Autor: Jeff VanderMeer

Editora: Intrínseca

Paginas: 200

Comprar: SaraivaSubmarinoTravessa.

Leia um trecho


(4/5 conversinhas)


O livro foi cedido pela editora Intrínseca.

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1 comentários

  1. Li a triologia e confesso que não entendi nada. Tenho apenas fragmentos do que eu imagino ser. Entao realmente não sei dizer se gostei ou não do livro mas com certeza não recomendaria de forma alguma para outra pessoa. Nao sei dizer o que realmente se passou em "Aceitação". Alguma coisa que voce possa acrescentar?

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