“O problema é que a escola só se preocupa com a violência quando ela deixa uma marca visível.”
Em sua estreia como escritor, Danilo Leonardi, conhecido principalmente pelo canal Cabine Literária, faz um lançamento bonito e com muita repercussão midiática. Seu original, altamente devorável, é uma história jovem sobre bullying, preconceito e as consequências das nossas atitudes que li em poucas horas. Para ser franco, eu já havia lido três quartos do volume na fila de espera por um autografo. Lá, diante do homem em pessoa, eu já tinha algumas coisas a dizer, mas esperei até agora para expressar uma opinião completa.
João Galeto é um rapaz apagado e tímido que vive na obscuridade em sua escola. Sua vida foi uma sucessão de abusos emocionais, violência e apelidos ofensivos dos quais parecia não haver saída. Seu único amigo, Daniel, costuma causar mais problemas que soluções para sua situação, e quando uma de suas peripécias desperta a atenção do valentão da classe, Guilherme, é João quem fica enrascado. Só que nem o próprio garoto esperava que, quando encurralado de vez, ele finalmente reagiria metendo um chute nas partes do bully e o levando ao chão. Tampouco que isso seria documentado em vídeo e postado no youtube para obter milhares de visualizações, levando João a um estrelato repentino.
O texto simplesmente flui, sendo rápido e facilmente absorvido. Os conceitos utilizados pelo autor são extremamente interessantes. A história, embora simples, foi muito bem pensada e dá pano para muitas reflexões. Gostei da participação da maioria dos coadjuvantes, muito embora eu sinta que o livro tenha corrido com alguns deles. Vários tinham um nome e uns poucos traços de personalidade, o que tornava difícil lembrar quem era quem em alguns momentos - mas vale elogiar o fato de que eles realmente pareciam adolescente brasileiros genuínos, dos que você encontra em qualquer escola. Só senti falta de mais impressões do protagonista a respeito de alguns personagens e situações.
O mesmo acontece em outros momentos. Lembro-me de um trecho em que subitamente João chega a uma conclusão a respeito do que sente sobre a casa de seu pai e a de sua mãe, mas não vi em nenhum momento isso ser construído no texto – de fato, ele nunca realmente descreve em detalhes nenhuma das casas ou o que acha delas. Entendo que o livro seja pautado em ações e atitudes e possua uma simplicidade inerente ao público infanto-juvenil, mas em alguns momentos a falta subjetividade fez falta.
Apesar das críticas, que considero importantíssimas em se tratando de um primeiro trabalho, é um livro ótimo. Os diálogos são afiados, a transformação do protagonista através do livro parece legitima e há umas boas doses de cultura popular sendo referenciada, o que torna a história muito mais próxima do leitor. A sensação que tive é de estar lendo um possível John Green Brasileiro. Não hesitaria em recomenda-lo e na verdade já o fiz aos meus alunos quando os acompanhei para a Bienal - pois vejo esse livro sendo particularmente útil na vida dos adolescentes. Eu só sinto que talvez Danilo tenha enxugado o texto exageradamente, ou talvez pudesse ter se beneficiado de engrossar mais o caldo em alguns trechos.
Em suma: o livro é ótimo. Mas eu acho que ele poderia ter sido ainda mais do que isso. Talvez o autor precise de experiência para alcançar seu potencial máximo, só o tempo dirá; mas pode ter certeza que eu estarei acompanhando de pertinho para presenciar na primeira fila se isso acontecer, pois "Por que Indina, João" super me conquistou.
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Editora: Giz Editorial
Paginas: 206
Comprar: Saraiva
(3.5 Conversinhas)
Essa é a primeira resenha da minha Maratona Bienalesca de Leitura de Lançamentos. Fique de olho, pois muito em breve tem mais!
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