A morte é uma coisinha engraçada, pois apesar de previsível (sabemos que todos iremos morrer um dia) ela sempre nos pega de surpresa. Você pode estar no sofá rindo com mais um episódio de Doctor Who quando o telefone toca e vem aquela notícia: alguém morreu. O riso antes bem-vindo agora passa a ser algo que deve ser contido.
Menina, pega esse sorriso brilhante, essa gargalhada estrondosa e sufoca debaixo do véu do luto.
Perdi alguém que eu amava. Você também? Parte de mim morreu e outra foi descoberta. Sim, descoberta. Com a morte a força de seguir adiante e a empatia são descobertas. Também descobri que quando se perde alguém que se ama palavras são inúteis. Olhares cheios de lágrimas não derramadas e apertos de mãos firmes são trocados. Palavras não. Seu “meus pêsames” não significam nada para mim. São palavras vazias que deveriam ser levadas pelo vento, mas que caem no coração como pedras de chumbo.
Em velórios piadas involuntárias têm sabor de sal.
No velório do meu tio mais amado meu sobrinho de três anos começou a cantar “Parabéns para você” perto do caixão. Todo mundo ficou olhando para ele sem entender nada. Quando a canção terminou ele puxou minha saia, apontou para a vela ao lado do caixão e perguntou se poderia apagá-la. Meu sobrinho fez um piada involuntária e comecei a rir. E a chorar. E a rir.
Oh droga! Estou chorando de novo.
Não fui ao enterro. Estou doente, mas essa não é a verdadeira razão de não ter ido. Nunca enterro ninguém. Odeio que a última lembrança que eu tenha de qualquer pessoa seja dela dentro de um caixão jogado num buraco de terra qualquer. Prefiro que minha última lembrança seja algo mais cheio de significado, mesmo que seja de um momento banal, como comentar sobre um jogo de futebol.
Prefiro lembrar dos mortos como eles eram quando vivos.
Não douro a pílula. Se acho que alguém não valia nada enquanto vivo continuo achando a mesma coisa quando a pessoa morre. Morrer não significa virar santo. Morrer significa… Não sei o que significa, só sei que me sinto tão triste. Tão só. Oh Deus, preciso de ajuda, porque sufocar as lágrimas não está ajudando em nada.
O dia seguinte tem sabor de pesadelo.
Posso não saber o que significa morrer, mas sobre viver a história é outra. Viver é confusão. É estranheza. É seguir a corrente mesmo que você não saiba para onde esta navegando. O dia seguinte após enterrar alguém que você ama é estranho, pois ele é um pesadelo e acordar não é uma opção.
Perdão por esse texto. Ele é confuso, estranho, doloroso. Ele é minha alma no momento. Ele não foi devidamente revisado (tente revisar algo com lágrimas nos olhos e dor no coração). Acho que vou continuar a assistir Doctor Who agora, talvez dessa forma a piada desengasgue.
- elilyan andrade
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