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[Resenha] Dias Perfeitos, de Raphael Montes

9.7.14paulo

por Paulo V. Santana

- Livro: Dias perfeitos
- Livro Único
- Autor: Raphael Montes
- Editora: Companhia das Letras
- Comprar: Saraiva, Fnac, Travessa
- No Skoob

Leia também: Histórias que abandonamos - Dias Perfeitos








Minicrítica - Resumo:
Téo é um estudante de medicina que vê sua vida mudar completamente quando conhece Clarice. Ele se apaixona pela moça e não aceita “não” como resposta. Ao perceber que realmente não tem chances com ela, Téo a sequestra e juntos fazem uma road trip por algumas cidades do Rio de Janeiro. 

Dificilmente um livro me causa tantas sensações como esse, mas a que sobressaiu foi a perturbação. O protagonista do livro é extremamente cruel e não tem nenhuma consciência das atrocidades que realiza, o que torna tudo ainda piorl. Porém, é isso que faz de “Dias Perfeitos” um livro excelente. Pode não ser ideal para qualquer um, mas recomendo para quem procura uma leitura fora da sua zona de conforto. 


Quer saber mais? Clique abaixo para conferir a resenha completa!



A publicação de “Dias perfeitos”, em abril desse ano, gerou um burburinho que me deixou curioso. Todos falavam muito bem, então fui ao evento de lançamento no Rio de Janeiro e conheci o simpático Raphael Montes. No entanto, teria deixado na pilha de leituras por um tempo se não fossem os comentários do Diego - a leitura foi tão complicada que ele não aguentou e acabou largando o livro. Esse poderia ser um aviso para eu fugir também, mas só fiquei mais intrigado e corri para ler. Afinal, como um livro poderia perturbar tanto uma pessoa?

E foi exatamente assim que me senti com esse livro: perturbado. Mesmo depois de dois meses, ainda me sinto muito desconfortável pensando na história e, principalmente, no seu desfecho. Não pense que isso fez com que eu não gostasse do livro, até porque dei uma nota alta para ele. A arte deveria fazer as pessoas sentirem algo, não importa o que seja. O sentimento que prevaleceu foi o incômodo, e justamente por isso o livro é tão bom. Não absorvi a negatividade nem me senti mal com o que li, mas toda a leitura foi um processo estranho. Era um misto de felicidade diante da qualidade do material e perturbação com o que estava escrito.

O segundo romance do carioca Raphael Montes nos apresenta ao Téo, um futuro médico que não leva uma vida muito agitada. Mora com a mãe numa boa região do Rio de Janeiro e passa a maior parte do seu tempo dedicado à Medicina. Fora seus encontros com Gertrudes, um dos cadáveres estudados na aula de anatomia, não tem muitos amigos nem costuma sair. Toda essa calmaria acaba quando ele conhece Clarice, estudante de História da Arte que encanta Téo logo de cara. Ele nunca amou alguém de verdade, mas Clarice deixa o homem fascinado. E quando falo fascínio, falo sério. Téo não aceita receber “não” como resposta e, num momento de desespero, segue por um caminho mais fácil: sequestra a moça. Ele precisa que ela o ame de volta e a convivência seria a solução para deixá-los mais próximos, não é mesmo?

“Quem nunca se apaixonou sem ser correspondido? Quem não gostaria de mostrar que poderia ser diferente, que a história de amor poderia dar certo? Ele apenas fazia o que todos já tinham desejado fazer. Havia criado para si a chance de estar próximo de Clarice, de deixar que ela o conhecesse melhor antes do “não” definitivo”. Era ousado e corajoso.”

Se o Téo ficou fascinado com a Clarice, devo dizer que fiquei fascinado com o próprio Téo. Não da mesma forma, claro, mas ele é definitivamente um personagem interessante. Mesmo não gostando das atitudes dele (e eu realmente espero que você não goste), é inevitável querer saber mais sobre o Téo e por que ele age dessa forma. A calma e a naturalidade com que ele realiza atrocidades impressiona. Ele acredita que está certo, e assim é.

A narração em terceira pessoa foi uma sacada inteligente do autor, porque mantem o leitor um tanto afastado do protagonista mas perto o suficiente para que todos os seus pensamentos sejam acompanhados. Por se tratar de uma voz externa apenas contando uma história, não há nenhum julgamento sobre as atitudes do Téo, como se a maldade nas suas ações fosse comum. Além disso, o próprio Téo não tem noção da sua psicopatia, ele se vê como um homem bom que não está fazendo nada além de lutar pelo que ele acredita ser a coisa certa.

É tudo tão “comum” que não existem consequências para o que Téo faz. A única figura que representaria uma oposição seria a Clarice, porém ela não tem muita voz na história, nunca sabemos com clareza o que ela sente. É óbvio que o “não” realmente significa “não”, mas ao longo do cárcere a situação entre os dois fica confusa. Estar aprisionada afeta muito a personagem, e em alguns momentos o leitor pode se perguntar se ela é realmente boazinha.

E acaba sendo isso que o livro passa: olhando de fora, com uma visão neutra, não há absolutamente nenhuma diferença entre o que bom e o que é mau, o leitor é quem deve julgar. Patrícia, mãe do protagonista, que tem um grande coração e ama o filho e o cachorro de estimação, é tão humana quanto o Téo, que vê o assassinato apenas como parte do que ele precisa fazer para ser feliz. Eu poderia estar escrevendo que o Téo estava certo, que o sequestro foi uma medida extrema para uma situação extrema e que a Clarice é a verdadeira vilã disso tudo, mas essa não foi a minha interpretação.

“Não queria parecer doente ou maníaco. Com o tempo, ele ia provar a Clarice que ela estava errada. Jamais seria capaz de cometer abusos: faltava-lhe o instinto animal que os homens ganham ao nascer. Essa era apenas uma de suas qualidades. Se houvesse mais gente como ele, o mundo seria melhor.”

O livro está cheio de situações horríveis e que me deixaram assustado, principalmente pela frieza do Téo, mas o final foi, sem dúvida, o mais surpreendente. Eu passei boa parte da leitura pensando em como acabaria aquilo tudo e como seria a vida da Clarice depois dos eventos do livro, mas nunca, nunca mesmo, imaginei o que acontece. Foi horrível e genial ao mesmo tempo e não há como não parabenizar o Raphael pelo que ele fez. Eu odiei o final com todas as minhas forças, mas é aí que está a graça. Como eu falei lá em cima, a arte deve despertar algo nos espectadores.

A nota abaixo não é a máxima por uma questão pessoal na hora de classificar livros, mas esse merecia mais do que 5 até. Raphael Montes fez um livro impecável e que entretém. Vale a pena encarar o romance.

Classificação:
 (4,5/5 conversinhas)

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3 comentários

  1. Me recomendaram esse autor quando perguntei sobre quem são os novos autores nacionais que não escrevem YA e fantasia.

    Não sei se eu encararia esse livro. Parece ter uma carga negativa TÃO GRANDE. O tipo de livro que estressa o leitor, mas não por ser mal escrito, pelo conteúdo mesmo. A situação da menina no cárcere deve ser angustiante, não sei lidar com isso. E eu me irrito muito com livros com protagonistas com problemas psicológicos.

    Que irônica essa frase: "A única figura que representaria uma oposição seria a Clarice, porém (...) nunca sabemos com clareza o que ela sente" Hahahahahahah

    Já dei uma pesquisada nos livros do autor e espero que ele lance outros.

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    Respostas
    1. Oi, Felipe! Realmente, o livro tem uma carga negativa, mas ela não >me< afetou. O Diego, por outro lado, até largou o livro. É um livro complicado e não acho que seja para todos por conta das questões psicológicas, mas é tão bom que preciso recomendar. haha

      Estou com muita vontade de ler o primeiro que o Raphael escreveu, "Suicidas", espero poder comentar aqui no blog em breve.

      Até mais, e obrigado por comentar! :)

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  2. Excelente sua resenha!
    Eu havia recomendado uma amiga comprar esse livro, mesmo eu sem tê-lo lido, e ela gostou bastante! Finalmente, meses depois dela, eu o li e gostei também. Se fosse para resumir em uma palavra seria: sinistro! Tem umas cenas doentias, e há todo um clima de "isso não pode estar acontecendo". Mas demorei um pouco mais do que as pessoas que adoraram, levei 4 dias.
    Bom, para finalizar: também faço parte do grupo que não gostou do final.

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