Voltamos com o Buscando o Meu lugar! A coluna onde você descobre sobre as escolhas que a equipe do CC fez na vida. Na primeira tivemos a Ana Luíza, que eu sempre vi como alguém que tinha como certo o seu lugar no Cinema e me surpreendeu com um texto sincero sobre a própria vida. Agora temos o João, o calouro universitário do CC que acaba de entrar para Letras... depois de muita turbulência. Veja abaixo como ele foi parar nessa faculdade e o que ele está achando.
-dana martins
Eu acabei no curso de Letras quase que por acaso. Sempre fui muito (MUITO) indeciso, e quando jogaram em minhas mãos uma granada com um bilhetinho de *escolha o que fazer com sua vida ou morra*, isso só piorou. A gente se desespera, corre na psicóloga, abraça a mãe, mas sabe que, no final, precisa fazer a decisão sozinho. Sério, leitor(a), escolher facção, casa de Hogwarts e afins é fichinha perto disso (na verdade, essas escolhas servem até de metáforas para as que precisamos fazer na vida real. Reflitam).
Ok, mas ninguém disse que fazer essas escolhas seria tão difícil, né? :( |
O fato é que me inscrever para o vestibular foi o maior sufoco. Afinal, passei a vida inteira numa escola que pouco se importava em nos orientar sobre faculdade, e, mesmo tendo a chance de fazer cursinho e conversar com vários universitários incríveis, não dá pra decidir o que será do seu futuro em tão pouco tempo (no caso, o último ano do ensino médio) (não, um ano não é o suficiente, acreditem).
Entre os muitos cursos que eu pensava fazer - por ordem de preferência, se é que isso é possível: Comunicação, Design, Arquitetura, Letras, História, Biblioteconomia, Arquivologia... -, acabei com duas opções em mãos. Uma delas era um curso ótimo, numa faculdade renomada... e a muitos quilômetros da minha família. A história é longa, mas, resumindo: descobri que não estava preparado para ir embora no último dia de inscrição e fiquei a semana inteira em casa desejando morrer. Porque eu tinha feito a escolha errada. Porque não tinha lutado pelo que eu queria. Por ser covarde.
Por sorte (ou não), eu tinha pensado em deixar algo no Sisu por "segurança". Mas eu nunca ia precisar daquilo mesmo, né? Então era só escolher a opção "menos pior" numa faculdade perto de casa, já que iria ser feliz em qualquer outro lugar. Mas, por acaso, não consegui ir embora e ser feliz em outro lugar. Por acaso, meu curso de emergência foi Letras (a quarta opção, observe). Por acaso, ele se tornou minha última chance de entrar na faculdade naquele ano. Por acaso, foi para onde acabei indo uma semana depois da fase de depressão-pós-fazer-merda.
Não me entendam mal: eu sempre tive um desejo remoto de fazer Letras. Ler sempre foi uma das atividades que mais me deu prazer, e eu sabia que entrar num contato mais profundo com a Literatura me faria muito bem. Mas, com raras exceções, sempre que eu falava desse desejo para alguém, recebia como resposta 1- risadas ou 2- olhares de pena. Comentários como "credo, você quer ser professor???", "vai morrer pobre" ou "você merece coisa melhor" fizeram com que eu desistisse do curso em pouco tempo. Porque, por mais errados que esses comentários parecessem, eu sabia que eles não estavam completamente errados.
Mas daí eu entrei no curso. Com medo, desesperança, sentindo que tinha jogado minha vida fora. Mas entrei. Entrei e... UAU. Logo na primeira semana, minha visão mudou totalmente. Eu sempre achei que Letras fosse uma espécie de continuação do Português que a gente aprende na escola (que, não sei como foi na sua, leitor[a], mas aqui, se resume no ensino de gramática, literatura, artigos de opinião e mais um pouco de gramática), mas descobri que é algo muito mais amplo e interessante do que isso. Uma das coisas mais marcantes que uma professora disse no primeiro dia de aula foi: "se tiver alguém aqui querendo aprender gramática pra passar em concurso, esqueça. Esse não é o propósito de Letras."
Não tem gramática, gente!!!!!!!!!!!! (mentira, tem um pouquinho) |
"Ué, qual é o propósito, então?". É simples, amig@: estudar o português (e as língua no geral), em todos os seus aspectos. Origem, uso, transformação, variação, manifestação, importância... Talvez eu esteja exagerando um pouco (porque, oi, nem terminei o primeiro semestre ainda), mas é algo que realmente muda a percepção de como usamos nossa língua. A fala é uma coisa tão natural que passa praticamente despercebida em nosso cotidiano, e, uma vez no curso de Letras, você passa a enxergá-la de uma forma muito mais atenta, como se fosse algo físico presente em todo lugar, tipo o ar que você respira. Perceber a imensidão e riqueza linguística presente ao seu redor é, tipo, incrível.
O curso também tem um lado social muito forte que eu nem imaginava existir. Nas matérias que envolvem literatura, por exemplo, há muito debate sobre determinadas obras literárias e o que elas representam histórica e socialmente. Ok, fazíamos isso no ensino médio, mas num âmbito totalmente diferente. A própria literatura em geral é bastante discutida: minhas aulas favoritas até agora foram as que trataram de como ela é fundamental no desenvolvimento do homem. Isso sem citar os inúmeros debates sobre escravidão, exploração indígena, racismo, cotas e tantos outros temas que as aulas sobre formação e uso do português já geraram. Saber a opinião de pessoas tão instruídas (os professores doutores, reis do Brasil q) é, no mínimo, enriquecedor.
Dormir pra quê, né? (e, não, não tem pipoca toda vez) |
É claro que nem tudo são flores. Como você já deve ter percebido através dos meus resultados vergonhosos nos balanços de leitura, ainda tenho muita dificuldade em lidar com os textos obrigatórios da faculdade. É tanto material pesado que, às vezes, parece que perdi muito do prazer que eu tinha quando estava lendo. Até livros que eu espero muito tempo pra sair (continuação de séries, principalmente) não conseguem mais me empolgar como deveriam. Sim, leitor(a), sei que isso é terrível (principalmente para alguém como eu, que tem o sonho de trabalhar numa editora). Na verdade, é o motivo que mais me faz questionar se estou no curso certo e se ele não estaria fazendo eu perder um pouco de mim mesmo.
Também tem outras coisinhas básicas, como aquela professora querida falando sobre como Harry Potter é ruim e não deve ser considerado literatura. Desnecessário ficar esfregando na nossa cara, né?
O importante é que, no momento, estou bastante feliz com o curso. Mais do que eu achei que fosse estar. A melhor coisa que existe é saber que, depois de tanto sofrer pra descobrir um lugar em que eu me encaixasse, eu consegui. Mas sei que esse pode ser um estado temporário e que muitas outras dificuldades virão. Fico com medo, por exemplo, do curso não suprir a necessidade que tenho de estar perto de algumas outras coisas (além da Literatura) e eu não ter a oportunidade de encontrá-las em outros lugares. Tampouco me empolgo com a ideia de dar aulas - acho que nem tenho vocação para tal -, e nós dois sabemos que, num curso de licenciatura, é difícil visualizar um destino que não seja a sala de aula.
Sim, o futuro é muito incerto... Talvez eu acabe mesmo numa sala de aula (e, quem sabe, possa ser feliz com isso!!!), morra sem deixar grandes heranças para meus filhos ou possa ser mais feliz em outro curso. Mas se há algo de bom em toda essa incerteza é que ela sempre traz surpresas. E a esperança de que elas sejam positivas, que me tragam um pouco de felicidade na vida... é o que me motiva a continuar.
- João Pedro Gomes
Acadêmico do 1° semestre do
4 comentários
Ai, que série de textos linda <3 To indo pro cursinho no fim do mês (acabei de chegar no intercâmbio) e essa coisa de decidir-o-que-fazer-da-vida ainda me assombra um pouco. Sei que quero trabalhar com produção de conteúdo para a internet (ou seja, ter um blog e vlog de suceso ou algo do tipo) e ser escritora, mas ambas as coisas são MUITO dificeis de realizar. Meu plano B sempre foi fazer jornalismo, mas provavelmente vou ter minhas dúvidas sobre o curso até de fato ingressar no mesmo...
ResponderExcluirQuanto a essa coisa de licenciatura ter como destino primordial dar aulas, é verdade - mas não se esqueça que também tem a pesquisa. Meus pais fizeram licenciatura (minha mãe em letras, meu pai em história) e apesar de obviamente terem de dar aula como professores universitários, isso representa uma porcentagem muito menor da rotina de trabalho deles do que pesquisar e estudar.Não sei se você curte, mas também é uma alternativa.
Oi, Isabel (:
ExcluirBem-vinda de volta ao Brasil!!!!!!!!! Espero que o intercâmbio tenha sido maravilhosoo (sei que foi!) e que você tenha trazido uma bagagem cultural gigante da República Tcheca (foi pra lá que você foi, né? Praga? Acompanhei um pouco das suas aventuras facebook afora, HAHAHA Aliás, Praga é um lugar superimportante pro curso de Letras :P Quando comecei a ver na faculdade, lembrei que tinha uma pessoa que eu "conheço" lá e fiquei empolgado, fsklgjfskl Enfim).
Então, eu estou meio igual você. Me sentiria realizado num emprego onde pudesse falar sobre cultura (no sentido mais comum mesmo: literatura, cinema e essas coisas) (é meio o que já faço aqui no CC, mas podendo viver disso, sabe? Eu até brinco no grupo dizendo que um dia nós ainda vamos transformar isso aqui num negócio e ficar ricos) e, claro, sonho em lançar um livro (de fantasia, acho). Mas isso é bem difícil, principalmente quando você mora num buraquinho de São Paulo... Acabei perdendo a chance de me mudar daqui pra um lugar maior (não sei se me arrependo, não sei se era o curso certo) e, consequentemente, de crescer na minha área de interesse, tão limitada por essas bandas :\ Mas estou descobrindo coisas novas no meu curso (é como você disse, a gente só sabe como é de verdade depois que entra) e, por enquanto, isso está me fazendo feliz. Só não sei por quanto tempo.
Eu já pensei sobre o campo de pesquisa também. Dizem ser bem forte no meu campus, mas eu não sei. Acho que ainda não estou familiarizado o suficiente com esse meio científico para dizer com certeza, mas não sei se é pra mim. Teria que ser algo que eu gosto muito pra conseguir atuar nisso sem morrer de desgosto, e não sei se meu amor por linguística ou literatura é forte o suficiente. Espero descobrir o quanto antes D:
Ah, e boa sorte no seu cursinho!!! Eu adorei o que eu fiz, foi um aprendizado enorme. Principalmente porque eu fiz ao mesmo tempo que o ensino médio e comparar a dinâmica dos dois me fez pensar o ensino mais criticamente, de certa forma. E ninguém melhor pra orientar um jovem perdido na vida do que vários universitários que também se perderam um dia, HAHAH.
Enfim, obrigado pelo comentário e por acompanhar a coluna (:
(e me desculpe qualquer erro, tá tarde e eu estou dormindo na cadeirzzzzzzzzz).
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOlha quem tá aqui!
ResponderExcluirJoão, eu tô em crise com essa história toda e acabei aqui lendo o buscando meu lugar, pareceu certo ahahah , enfim, apenas fiquei curiosa para saber em que faculdade você tinha passado? E qual curso?