Sabe aquela frase: “você compra o livro pela capa”? Ela é verdadeira. Tanto que, com o passar do tempo, muitas editoras reeditam completamente seus livros para atrair novos leitores. É o caso da Bertrand Brasil, que desde do final do ano passado está relançando a obra de Ernest Hemingway com um novo design. E que design! Uma arte mais linda que a outra. A nova identidade visual é tão linda e apaixonante que fui bater um papo via e-mail com Angelo Bottino, designer responsável por essa recriação, para matar minha curiosidade de saber mais sobre ela. Você confere o resultado dessa conversa logo depois do pulo!
- Angelo, por favor, apresente-se brevemente para os leitores do ConversaCult.
Bem, me chamo Angelo Allevato Bottino, sou carioca, tenho 38 anos e trabalho há 15 como designer gráfico, principalmente para o mercado editorial.
- Qual a sua formação?
Me formei em Desenho Industrial em 2000 pela Esdi – Escola Superior de Desenho Industrial, da Uerj.
Me formei em Desenho Industrial em 2000 pela Esdi – Escola Superior de Desenho Industrial, da Uerj.
- Como surgiu a ideia de renovar a identidade visual das obras de Hemingway?
- Você já conhecia a obra de Hemingway? Teve que ler os livros para desenvolver as capas ou o briefing supriu toda a sua necessidade?
Sim, quando mais jovem, estudei um pouco de literatura americana e, obviamente, Hemingway fazia parte do currículo. Como já havia lido alguns dos títulos anteriormente, apenas reli algumas partes para relembrar. Nos demais, me baseei no material enviado pela editora e também em pesquisas na internet (além de ler alguns trechos, é claro) . De maneira geral, é importante ler os livros, especialmente no caso de policiais, para não correr o risco de entregar o culpado na capa, como bem ensinou o mestre Victor Burton. No entanto, muitas vezes e por motivos diversos (confidencialidade, por exemplo), temos que fazer as capas com base em resumos ou mesmo uma conversa com o editor ou o autor, quando possível.
Sim, quando mais jovem, estudei um pouco de literatura americana e, obviamente, Hemingway fazia parte do currículo. Como já havia lido alguns dos títulos anteriormente, apenas reli algumas partes para relembrar. Nos demais, me baseei no material enviado pela editora e também em pesquisas na internet (além de ler alguns trechos, é claro) . De maneira geral, é importante ler os livros, especialmente no caso de policiais, para não correr o risco de entregar o culpado na capa, como bem ensinou o mestre Victor Burton. No entanto, muitas vezes e por motivos diversos (confidencialidade, por exemplo), temos que fazer as capas com base em resumos ou mesmo uma conversa com o editor ou o autor, quando possível.
- Como foi o processo criativo para as capas? Houve um direcionamento específico que levou ao resultado final?
Felizmente, pude conceber o sistema da coleção já de início, apesar de ser razoavelmente comum (e não ideal) fazermos uma capa isolada e esta ser transformada em matriz para os eventuais livros subsequentes. Isso possibilita uma coerência que fortalece o partido gráfico. Em relação ao conceito por trás das capas, a ideia foi traduzir graficamente o estilo essencial, enxuto, sem palavras desnecessárias, da prosa do autor, descrita algumas vezes como atlética, sem gordura, apenas esqueleto e músculos. O próprio Hemingway associava seu texto a um iceberg: os fatos ficam expostos acima d'água enquanto a estrutura e o simbolismo, submersos, se escondem abaixo dela. Por isso, imagens objetivas, diretas, que funcionam como ícones, emergindo do branco, que mascara todo o resto e confere unidade à coleção. Por se tratarem de livros bastante conhecidos, em sua maioria, chegamos a pensar em nem colocar o título na frente, apenas a assinatura e a imagem correspondente, dada a clareza com que essa se relacionava a cada um.
- Você teve alguma referência especial para criar o design das capas?
Sim, as capas já publicadas, tanto no Brasil como no exterior. Para o caso de reedições/reimpressões, faz parte do dever de casa do capista saber o que foi feito anteriormente para aquele autor ou obra, de modo a não incorrer em cópias involuntárias.
- Como foi o processo de seleção das imagens que ilustram as capas? Quanto tempo demorou para conseguir as imagens certas?
Basicamente, uma vez definido o tema ou o assunto da imagem, trata-se de uma espécie de trabalho "braçal" de pesquisa em bancos como Corbis, Getty e iStock, peneirando por meio dos filtros de busca até chegar nas fotos desejadas. O tempo pode variar muito – de horas a semanas –, seja pela dificuldade em definir o que representa melhor aquele determinado título, seja pelo fato de ser uma imagem muito particular.
- De todas as capas da coleção, qual foi a mais desafiadora para fazer?
Creio que as dos três volumes de contos, dado que são temas variados e é praticamente impossível dar conta de tudo em uma imagem apenas, como pede o projeto da coleção. A solução foi escolher um conto específico, cujo tema tivesse certa relevância na obra do autor, e representá-lo.
- Qual é a sua capa preferida?
Na verdade, são duas: a de "O velho e o mar" e a de "Por quem os sinos dobram".
- Ainda não vi nenhum livro da coleção impresso, por isso estou curiosa em relação ao acabamento, pois, por algum motivo, acredito que a assinatura de Hemingway deve estar em alto-relevo. Estou certa? Quais foram os detalhes de impressão e acabamento?
Está certa, sim. Além do relevo na assinatura e no título, todas as capas receberam também aplicação de verniz UV localizado (assinatura, título e foto do autor na orelha) e laminação fosca BOPP Soft Touch. Apesar dos livros serem diferenciados por uma chapada de cor na lombada, quarta capa e orelhas, por questões de orçamento (e agilidade/disponibilidade), optamos por fazer a impressão em CMYK mesmo, 4/0, sem Pantones distintos para cada um.
- Para finalizar, que dica você dar a alguém que deseje se tornar capista ou designer?
Leia bastante, e não só livros técnicos ou relacionado a design.
A Bertrand é detentora dos direitos de publicação da obra de Hemingway, tendo lançado, até agora, 15 títulos. Um deles é “ O Velho e o Mar”, o mais vendido do autor no Brasil, e que foi agraciado com o Prêmio Pulitzer, em 1954. O livro conta a história de um homem que convive com a solidão, seus sonhos e pensamentos, a luta pela sobrevivência e inabalável confiança na vida.
Essa entrevista só foi possível porque a Bertrand é linda e permitiu o contato com o Angelo. Obrigada, Bertrand :D
Para mais entrevistas incríveis, clique AQUI!
-elilyan andrade
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4 comentários
Show de bola esse post! É difícil vermos entrevistas com o pessoal responsável por criar as capas, que são o "cartão de visita" de tantos livros. Eu simplesmente amei as capas novas para os livros do Hemingway e, se antes já morria de vontade de ler o autor, hoje fico ainda mais empolgada em adquirir os livros novos, ao invés de garimpá-los no sebo.
ResponderExcluirBeijo, Livro Lab
Adorei o post, muito interessante. A coleção me parece ser linda, certamente vai atrair novos leitores. Eu adoro essas capas icônicas, por vezes minimalistas.
ResponderExcluirSaberia dizer a ordem de lançamento dos livros? Não acho nenhum dos livros de contos com as novas capas.
ResponderExcluirAs capas, de fato, são lindas. O problema é o papel que a editora utilizou: de muito baixa qualidade. Tende a mofar logo...
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