Oi, gente, tudo bem? Tenho acompanhado e gostado muito de todas as discussões do mês dedicado a temática LGBT+ aqui do CC, e como não queria que ele terminasse ser dar minha humilde contribuição, aqui estou. Resolvi abordar o assunto através do cinema, e para isso selecionei três filmes para comentar como a sétima arte tratou do tema.
Vamos lá?
Vamos lá?
O Segredo de Brokeback Mountain
Sinopse: Durante um verão em que trabalham juntos cuidando de ovelhas na montanha Brokeback, Ennis del Mar (Heath Ledger) e Jack (Jake Gyllenhal) se conhecem e têm um caso. Passado o verão se despedem e cada um vai viver sua vida. Ennis se casa com Alma (Michelle Williams), de quem já era noivo quando foi para a montanha, e Jack se casa com Lureen (Anne Hathaway). Alguns anos depois, sem ter tido contato durante todo esse tempo, os dois se encontram e voltam para a montanha a fim de relembrar os velhos tempos. Esses encontros de tempos em tempos se seguem por muitos anos.
Comentários: Eu adorei esse filme. Apesar de ele ser um pouco antigo (2006), eu só o vi esses dias, e foi através dele que me veio a ideia para o post. Achei as coisas bem arquitetadas, e os acontecimentos nas vidas de ambos muito reais. O que é mais óbvio no filme é a negação de seus sentimentos que ambos fazem todo o tempo (o personagem Ennis os nega muito mais, na minha opinião). Ao invés de ficarem juntos eles se casam com mulheres para seguir os padrões impostos pela sociedade (é bom lembrar que o filme é ambientado num cenário rural dos anos 60, nos EUA, ou seja, se hoje já vemos preconceito, imagina nessa época). Em determinado momento, Jack, que é para mim o mais bem resolvido dos dois com a questão de sua sexualidade, sugere a Ennis que eles larguem tudo pra trás pra viverem de verdade sua história, mas o parceiro recusa por medo do julgamento e até da punição que receberiam se vivessem dessa forma. Esse filme é muito bonito e ao mesmo tempo muito triste por constatarmos que duas pessoas que se gostam simplesmente não podem ficar juntas.
Comentários: Eu adorei esse filme. Apesar de ele ser um pouco antigo (2006), eu só o vi esses dias, e foi através dele que me veio a ideia para o post. Achei as coisas bem arquitetadas, e os acontecimentos nas vidas de ambos muito reais. O que é mais óbvio no filme é a negação de seus sentimentos que ambos fazem todo o tempo (o personagem Ennis os nega muito mais, na minha opinião). Ao invés de ficarem juntos eles se casam com mulheres para seguir os padrões impostos pela sociedade (é bom lembrar que o filme é ambientado num cenário rural dos anos 60, nos EUA, ou seja, se hoje já vemos preconceito, imagina nessa época). Em determinado momento, Jack, que é para mim o mais bem resolvido dos dois com a questão de sua sexualidade, sugere a Ennis que eles larguem tudo pra trás pra viverem de verdade sua história, mas o parceiro recusa por medo do julgamento e até da punição que receberiam se vivessem dessa forma. Esse filme é muito bonito e ao mesmo tempo muito triste por constatarmos que duas pessoas que se gostam simplesmente não podem ficar juntas.
Tomboy
Sinopse: Após se mudar com sua família para um novo bairro, Laura (Zoé Héran), que se veste de menino, se apresenta para as outras crianças do bairro como Michael.
Comentários: Diferente dos outros dois, Tomboy aborda o transsexualidade. Eu também gostei imensamente desse filme porque ele é de uma delicadeza sem igual. A menina Laura, que obviamente não se reconhece no corpo que tem, deseja ser um menino e concretiza esse desejo ao se apresentar como um. Ela faz isso escondida da família, que aceita o fato de ela cortar os cabelos bem curtos e usar roupas de menino, mas vê isso como uma brincadeira e não sabe que na rua ela se apresenta como menino. Eu fui muito iludida pela posição da família até o momento em que a mãe descobre o que ela faz, pois estava achando lindo o fato de eles aceitarem aquilo com tanta naturalidade e lidarem tão bem com a sexualidade da filha. Mas tudo não passou de um engano, e a posição verdadeira de não aceitação da mãe fica bem clara quando ela descobre tudo. O pai parece lidar um pouco melhor com a situação, mas no fundo eu acho que ele continuou levando aquilo tudo como parte da “brincadeira” da menina. Uma coisa que me deixou muito impressionada foi o fato do filme manter a “identidade” real de Laura oculta durante os dez minutos iniciais do filme. A situação mostrada mexe com as emoções de quem está assistindo. Este é, sem dúvida, um filme que eu gostaria que todas as pessoas no mundo vissem.
Sinopse: Adèle (Adèle Exarchopoulos) é uma estudante que se apaixona por Emma (Léa Seydoux), a menina dos cabelos azuis, e embarca com ela numa relação diferente de tudo que já viveu.
Comentários: Assim como os filmes anteriores, esse fala da descoberta da sexualidade. Adèle está acostumada a se relacionar com meninos, mas ao conhecer Emma, não resiste a se aventurar numa história com ela. Eu a definiria como bissexual. O que sempre me chama atenção nos filmes que tratam do tema é a reação da família em relação à situação. Enquanto a família de Emma lida muitíssimo bem com a sexualidade dela, Adèle finge que Emma é só uma amiga para seus pais. Outra reação que me chama muito a atenção é a dos amigos de Adèle, que ao saber que ela apenas estava andando em companhia de uma lésbica, a humilham na frente de todo mundo. Assim como os outros dois filmes, me deixou vários questionamentos após assisti-lo.
Em resumo: Todos esses filmes são muito bonitos e me deixaram com vontade de ver outros com essa temática. Todos trazem a mesma noção de realidade, que foi o que mais me cativou em todos eles, porque eu sei que em muitas casas existem Adèles, Ennis e Lauras, vivendo seus dilemas, enfrentando suas dúvidas, e quando não há mais dúvidas, mas certezas, enfrentando o preconceito todos os dias de suas vidas.
Adriana Araujo
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4 comentários
sobre tombly: o filme é sobre um menino. não sobre uma menina que quer ser menino, mas sobre um menino trans que usa pronomes masculinos e se chama michael. e os pais do michael não tiveram que lidar com a sua sexualidade, mas sim com a sua identidade de gênero. (e transexualidade. não transexualismo. a terminação ismo detona patologia.)
ResponderExcluir~~~~~~~~ quem não assistiu os filmes e não curte spoilers pode não querer ler o resto desse comentario~~~~~~~~ (mas leiam sim hahah, juro que não é nada demais ok, nenhum detalhe, mas fica ai o aviso)
sobre azul é a cor mais quente: as duas atrizes são heterossexuais e pesquisaram sobre sexo lesbico assistindo pornografia. mas né, pornografia ta pra sexo do mesmo modo que ficção cientifica ta pra ciencia e porno lesbico existe em função de homem hetero. então né, as cenas de sexo do filme são bem ruins. fora que o diretor é um babacão e as atrizes deram varios depoimentos sobre como ele foi abusivo durante as filmagens. algumas cenas eu tive que pular porque era demais pra mim. tem MUITA coisa errada com esse filme, essas atrizes lidaram com muita merda. na graphic novel que inspirou o filme a adele trai a emma, mas o gênero da pessoa não é revelado. no filme decidiram que a adele ia trair a emma com um homem e isso é super problematico porque reforça o estereótipo de que pessoas bissexuais traem mais porque eles não conseguem ficar com uma pessoa de um só genero. bifobico e nojento.
"selecionei três filmes para comentar como a sétima arte tratou do tema". os filmes escolhidos são diferentes, mas todos tem uma coisa em comum: finais tristes. nem tou falando do post (não gosto de todos os filmes escolhidos mas gostei dos filmes escolhidos), mas sobre filmes no geral. ficção é legal. é legal você assistir um filme e se ver representado. é legal se identificar com uma historia ou personagem. ce pegou 3 filmes bem populares né. ok. imagina a mina lésbica que não ta ok com a propria sexualidade e tem medo de sair do armario. a maioria das pessoas gosta de filmes e se identificar com filmes é legal, né?? então ela pega esses 3 filmes com tematica lgbt+ bem famosos pra assistir e todos eles tem finais tristes. pode parecer besteira, mas ces tem ideia do que é pra uma pessoa no armario ver que em todas as historias pessoas como ela acabam mal? claro, existem filmes com finais felizes, mas eles são mais complicados de se encontrar, são menos populares, se ninguem te indicar ou se você não procurar especificamente por eles provavelmente não vao ser os primeiros filmes que você vai achar.
http://tvtropes.org/pmwiki/pmwiki.php/Main/BuryYourGays
http://tvtropes.org/pmwiki/pmwiki.php/Main/Gayngst
isso acontece, existe um padrão em filmes lgbt+ e finais felizes são exceção, não a regra. a mensagem que esses padrões passam é que as minhas historias e as historias de pessoas como eu sempre vão acabar mal. e isso afeta as pessoas. imagina você com medo de sair do armario e sendo bombardeado com historias tristes?
"ah, mas é a realidade" pois é, olha que merda. mas ficção não é só pra mostrar a realidade. eu pelo menos gosto de assistir filmes justamente pra fugir da realidade por um tempinho. ficção também é pra divertir e distrair. a realidade é exaustiva. a galera cishet tem milhões de filmes com finais felizes, então assistir algum filme mais realista sem o final de conto de fadas deve ser interessante. é interessante pra mim também, acontece que os milhões finais felizes de vocês tão ali sempre que vocês cansarem dessa realidade. e os nossos?
http://fauxcyborg.tumblr.com/post/66247716296/
Assisti ao primeiro e ao terceiro (aliás, amei Azul é a cor mais quente, lindo demais), e estou com Tomboy no meu hd externo há uns bons dois anos, mas ainda não assisti. Aliás, nem sei por que ainda não o vi (às vezes esqueço, quando lembro falta tempo), mas espero fazê-lo em breve. É um dos filmes que eu mais queria ver na época do lançamento, e acabei bobeando...
ResponderExcluirDe maneira geral, costumo gostar muito de filmes com essa temática. Um dos meus preferidos da vida toda é Canções de Amor, musical francês fofo demais.
Beijos, Livro Lab
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir“Azul É A Cor Mais Quente” Não É Um Filme Sobre Lésbicas. E Porquê Ele É Ótimo!
ResponderExcluirAviso logo que abaixo contem spoilers do filme
O filme não se trata sobre as relações lésbicas, muito menos sobre a descoberta homossexual de Adele. O filme se trata do amadurecimento pessoal dessa garota chamada Adele, se trata da primeira vez em que ela amou uma pessoa de verdade, em que ela saiu do casulo da “adolescente comum” para vivenciar sentimentos reais, questionamentos existenciais, o que está fazendo, por que está fazendo e se deve ou não continuar fazendo. Adele é uma pessoa que se vê numa posição completamente fora da sua zona de conforto, que ela tem a opção de evitar ou não, mas decide se jogar nessa experiência e ouvir seus instintos para descobrir quem ela é, sem se prender às regras da vida social ordinária, que é nascer, crescer, estudar, trabalhar, pagar contas, não amar e morrer.
Claro, todos esses questionamentos são levantados quando Adele se apaixona por uma pessoa do mesmo sexo que ela, mas essa é a parte que deve ser menos levada em conta no filme, e é exatamente por não compreenderem isso que muitas pessoas se decepcionaram dizendo que “o filme não retrata direito a dificuldade de se descobrir gay” ou que “o filme só mostra sexo e não os problemas de assumir para os pais”. Inclusive, é esse tipo de opinião que ainda trava relacionamentos entre duas pessoas do mesmo sexo sendo rotulados como “homoafetivos”. Casamento gay, beijo gay, filme gay, vida gay, sapato gay, escova gay, pasta dental gay. O relacionamento de Adele não é um relacionamento gay, ele é apenas um relacionamento.
O filme retrata de forma extremamente natural a evolução de um sentimento que se transforma em relacionamento, em rotina e no derradeiro fim. A forma natural com que (exceto pelo derradeiro fim) absolutamente todos os relacionamentos, independente dos gêneros das pessoas, se desenvolve ao longo do tempo. Duas pessoas se conhecem, elas se tornam mais próximas, começam a se ver mais vezes, se apaixonam, dão o primeiro beijo, passam a próxima fase, fazem sexo pela primeira vez, e aí fazem pela segunda, terceira, quarta, quinta, sexta, incansavelmente, naquela paixão inebriante de todo início de relacionamento. E aí está o motivo do número de cenas de sexo e da longa duração da primeira entre o casal. Porque o diretor não quis retratar essa história como mais um dos romances batidos que acabam e a gente fica se perguntando “E o que acontece depois do casamento? O que acontece depois que eles entram no quarto?”.
Um exemplo bom disso foi o filme “Amanhecer 1″ (da saga Crepúsculo), que todos os fãs ficaram em prantos por anos falando sobre a cena de sexo do livro, e quando passou no cinema foi uma porção pequena de beijos no palitinho, uma cerveja quente, entra o ‘fade-in’, escurece a tela, próxima cena. Ao contrário desse tipo de desapontamento, a ideia da cena de sexo em La Vie D’Adele quer ser visceral, quer ser pessoal, quer fazer o espectador se sentir dentro do relacionamento e dentro daquele quarto com elas, acompanhando o desenrolar. Na vida real, a tela não escurece e o resto do sexo fica por conta da imaginação. E o filme quis retratar o romance real. Também uma forte característica da direção de Abdellatif Kechiche. Elas começaram o sexo, elas chegaram no meio do sexo e elas terminaram o sexo. Assim como elas começaram o relacionamento, chegaram no meio do relacionamento e terminaram o relacionamento. Tudo real.
Assim como a mudança física e comportamental de Adele ao longo do filme, já que o filme apresenta uma cronologia muito interessante. No início ela é apenas uma garota, mas no final é uma mulher cheia de atitude, que está superando uma fase importantíssima da sua vida e decidida a seguir adiante. Isso pode ser notado em sua postura, suas roupas, seu corte de cabelo, sua maneira de olhar e sua maneira de falar.
http://sapatomica.com/blog/2014/03/15/porque-azul-e-a-cor-mais-quente-nao-e-um-filme-sobre-lesbicas-e-porque-ele-e-otimo/