CCSociedade Dana Martins

Como eu me assumi

29.5.14Dana Martins


E aí, galera? Como estão? Esse mês LGBT+ tem sido MUITO legal pra mim e vocês têm reagido de maneira linda. Tipo uma pessoa totalmente inesperada aparecer para me indicar o Canal das Bee! (ainda pensando em como usar isso) 

Hoje nós trazemos a opinião de uma pessoa sobre ter se "assumido" para a mãe. Eu não vou citar nomes, porque... aqui vai mais um questionamento: Por que faria diferença a gente saber quem é? O mais importante aqui é que é um relato simples que mostra tantos detalhes do cotidiano - da forma como pessoas LGBT+ são vistas na sociedade. Faz a gente pensar. 


Como a sua mãe ficou sabendo?
Mas então, minha mãe. Então. Acho que desde que eu tinha uns 12 ou 13 anos que ela desconfiava que eu não era hétero, ficava me dando várias oportunidades de contar, puxando assunto e tal. perguntava o que eu achava de tal atriz ou quando a gente saia ela falava "wow, nesse restaurante tem muitas meninas sentadas com outras meninas né", ai me olhava com ~expectativa de que eu fosse contar alguma coisa, coisas do tipo hahahaha. Acontece que quando eu me tornei consciente de que eu não era het eu prometi pra mim mesma que eu não ia sair. que eu não precisava anunciar isso pra ninguem porque se eu fosse hétero eu nunca ia precisar falar, sabe? Então ela falava essas coisas e eu ficava la tipo "hmmm verdade né" hahahah. Isso por anos. 

Minha mãe só teve uma confirmação minha ano passado. Acontece que eu fiquei doente e tive que ir pro hospital, mas era dia de entrega de um trabalho em grupo que eu tinha imprimido, então eu liguei pra casa da Gabriela* tipo 5h da manha pra falar que eu não ia e que ela precisava imprimir o trabalho. ok. Aí eu cheguei do hospital de tarde e a minha mãe ligou pra mãe da Gabriela* (elas são amigas) pra pedir desculpa por eu ter ligado tão cedo pra casa dela e elas ficaram conversando. ok. Aí quando elas desligaram a minha mãe veio falar comigo, porque a mãe da Gabriela* tinha comentado que eu e o meu amigo estávamos combinando de levar a Gabriela* pra um lugar onde só tinha ~viado e sapatão (palavras dela), aí a minha mãe perguntou se eu tinha orientação sexual (com essas palavras) e eu disse que era pan [o que é pansexual?] e expliquei o que era e ela ficou tipo. hm. ok. só não conta pro seu pai. acontece que é muito engraçado pra mim lembrar disso porque eu tinha acabado de voltar do hospital e tinha tomado injeção de adrenalina, fenergan e hidrocortisona, então eu tava mais dormindo do que acordada quando eu contei pra mamai que eu era pan hahaha.

Mas enfim. depois que ela finalmente teve A Conformação, as coisas continuaram iguais?? acho que principalmente porque a minha mãe já sabia há muito tempo então não teve nenhuma surpresa. Ela me pediu pra não falar com o meu pai e eu não ia falar mesmo, mas fiquei meio :~. Ela meio que ignora, acho que ela fica tensa toda vez que eu chamo atenção dela por algum comentário escroto ou falo de alguma menina hahah. Outro dia ela meio que me viu ficando com um menino e deu pra sentir as ~~ondas de alívio. mas geralmente quando eu digo que ela disse algo escroto ela pede desculpas e eu sei que ela tem a preocupação de não falar nada que ela sabe que vai me fazer reclamar durante 5 horas (mas eu sinto que ela não parou de falar essas coisas no geral, só perto de mim, o que é bem meh e me deixa chateada porque são coisas incrivelmente simples de mudar, só respeitar os pronomes da galere e parar de usar gay como adjetivo para caracterizar qualquer coisa que não seja um homem gay e excluir a palavra 'viado' do vocabulário. simples. mas né. vou trabalhando isso com ela).

agora, minhã mae super não daria uma entrevista hahaah
*os nomes mencionados foram trocados para preservação de imagem.

"Eu escolho ser uma minoria visível todos os dias. Eu me assumo todos os dias."

Como a Sara fala no gif acima, acho que o processo de contar para o mundo quem você é - ainda mais atualmente - é um exercício diário. Indico assistir o vídeo do gif acima, onde a Tegan e a Sara falam sobre como foi crescer, descobrir que sentiam atração por pessoas do mesmo sexo e a relação com a mãe. 

Se você quiser dividir a sua história ou quer ver um tema ser discutido aqui, nos mande um email conversacult@gmail.com

Agora para os leitores: Como foi que você descobriu qual era a sua sexualidade? Como é a relação com os seus pais sobre ela? Imagine se essa filha fosse assexuada. Ou: Imagine se ela fosse heterossexual! Como seria para ela ver essa pressão da mãe para apresentar algum interesse sexual? Você já pensou em mudar o jeito que você fala certas coisas em prol dos outros? (eu tenho certeza de que já - você consegue dizer o que?) A mãe deveria mesmo mudar o jeito de falar por causa da comunidade LGBT+? Qual vai ser o próximo texto do CC?

-dana martins



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