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Histórias que abandonamos: Dias Perfeitos, de Raphael Montes
23.4.14ConversaCult
Mistérios da vida: peguei um livro que tem tudo o que eu gosto, cuja escrita é muito boa (mas muito mesmo, gente. Não estou brincando!), com um tema atraente e de um autor no qual estou interessado. Não consegui termina-lo. O livro é de assassinato, mas a única coisa que morreu foi minha vibe e agora nós vamos juntos investigar esse caso e descobrir quem foi o culpado.
AVISO: Esse é um livro cuja leitura se beneficia do desconhecimento da premissa. Não revelo mais do que o primeiro terço da história, em que os personagens e contexto são apresentados, porém não recomendo a leitura do post se estiver interessado no livro e for do tipo que não gosta de spoilers.
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Começo este texto salientando que Raphael Montes é um excelente escritor. Mesmo limitado as pouco menos de cem páginas que li, posso perceber que ele trabalhou muito bem nesse livro. A obra é uma experiência calculada e muito bem desenvolvida, que tem como proposito desencadear certas sensações e sentimentos no leitor. O problema não é o livro, eu juro para vocês. O problema sou eu. Não tenho estrutura psicológica para ler ele. Ao menos, não ainda.
O livro conta sobre Téo, um médico que carece de sentimentos. Sua melhor amiga tem sido Gertrudes, a cadáver de uma senhora indigente que ele utiliza para dar aulas de anatomia. E isso, por si só, já diz muito sobre o personagem. Aos poucos, vamos conhecendo mais deste cara, sua família, seu cachorro, etc. Até o dia em que ele conhece Clarice e se apaixona por ela.
Não, não é uma história de amor. Ou é. Não sei. Se é, é o amor mais doentio que eu já vi!
Téo persegue ela, descobre seu endereço, sua faculdade e lhe resgata na rua quando ela cai de bêbada. No dia seguinte, quando Clarice revela estar ciente de que estava sendo seguida, Téo nega tudo, surta, e bate com um livro na cabeça da menina. Sem saber o que fazer, ele pega ela, lhe dopa, foge para outra cidade e faz todos acreditarem que estão juntos e que isso é só um retiro corriqueiro para a moça, que estuda cinema, poder terminar seu primeiro roteiro. Pode parecer muito spoiler, mas essa é só a premissa básica do livro, da qual eu não consegui passar.
Meus caros, eu leio e assisto Game os Thrones. Violência, tortura, abuso sexual e demais bizarrices nunca me incomodaram antes em uma leitura. Ainda assim, me peguei fugindo deste livro a todo o momento. Nada nesse mundo me fazia ter vontade de ler ele. Cheguei ao ponto de levar o problema a minha psicóloga, que apresentou uma resposta coerente para a questão: o problema não são as atitudes do protagonista, mas a falta de consequências que ele atribui a elas.
Téo fala sobre bater em Clarice como se fosse só um breve desvio, uma briguinha de casal. Enquanto ela implora para ser libertada, ele comenta como está chateado por que ela não é cooperativa e confiável. Vemos ele fazer coisas hediondas, mas a nível de consciência o homem está em completa e absoluta negação. Ele impõe seus ideais sobre Clarice e a relação deles sem querer saber da realidade. Enquanto persegue ela no começo dos livro, a vê beijando outra garota, mas ao invés de aceitar a suposta bissexualidade, decide que a outra é que foi uma pervertida que abusou da pobre Clarice. Do mesmo jeito, ele não consegue processar que ela não possa aceitar o amor dele e continua insistindo. E eu simplesmente não consigo aguentar isso! É PERTURBADOR DEMAIS PARA MIM!
Quando desisti de vez do livro, decidi ler o final para ver se encontrava uma última centelha para me motivar a leitura. Pelo contrário. A maneira como a história acaba só me deixa certo de que não vai ser tão cedo que irei tentar lê-lo de novo.
Raphael Montes, você nos autografou o livro e me certificarei de que ele chegue em mãos de outro membro do blog para ser devidamente apreciado. Só posso lhe pedir desculpas e dizer: o problema não é você. Sou eu.
Esse post só foi possível graças a Companhia das Letras, que é linda e nos cedeu um exemplar do livro. Eu só queria ter conseguido ler ele. Mas eu juro que eu tentei.
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7 comentários
Mesmo estando com esse livro aqui na pilha de futuras leituras, não resisti e tive de ler o post até o fim! Não ligo muito para spoilers, de qualquer maneira. Sabe que, por incrível que pareça, fiquei ainda mais curiosa/interessada no livro? Não sei, me pareceu que é um policial que caminha por vias mais psicológicas; gostei da insistência quase doentia do personagem, como você menciona no post.
ResponderExcluirEnfim, gostei muito do post, mesmo.
Beijos, Livro Lab
Ainda não tinha lido a sinopse do livro, mas só de ter ouvido falar muito bem do autor e ter visto essa bela capa já tinha ficado com vontade de DIAS PERFEITOS (título ótimo para um policial, haha), mas agora, tenho ainda mais vontade. GENTE <3 Adoro personagem doente e descompromissado com o bom senso e bem estar coletivo.
ResponderExcluirAbraço*
André Luiz
Fiquei com a sensação e que o cara é um psicopata, ainda quero muito ler.
ResponderExcluirNão acho que foi dramático.. quase desisti. Cheguei ao capítulo 24 querendo rasgar o livro inteiro, pisar e jogar fora. Terminei pois estava muito interessada em saber o final. Tive vários sentimentos desde o início e confesso que não desisti por pouco !! Terminei e amei a leitura.
ResponderExcluirOi adorei.. muito obrigado, amei a maneira que vc usou para descrever essa resenha...me fez se interessar pelo livro....mas vc já leu o livro reverso escrito pelo autor Darlei... se trata de um livro arrebatador...ele coloca em cheque os maiores dogmas religiosos de todos os tempos.....e ainda inverte de forma brutal as teorias cientificas usando dilemas fantásticos; Além de revelar verdades sobre Jesus jamais mencionados na história.....acesse o link da livraria cultura e digite reverso...a capa do livro é linda
ResponderExcluirwww.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?
Gostei bastante do livro e me identifiquei com o protagonista. Excelente narrativa!
ResponderExcluirestou no capítulo 17 e tive que jogar no google pra ver se tinha um final feliz porque estou tendo o mesmíssimo problema apontado por sua psicóloga! ainda to na dúvida se continuo ou não...
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