O trecho acima, que termina a entrevista com a Alliah, resume bem o que você vai encontrar aqui. Uma pequena conversa sobre escolher um caminho arriscado - e como está sendo.
Hoje é dia de novidade, bebê! Por acaso eu acabei fazendo uma entrevista com a Alliah que ficou tão boa que eu preciso dividir com vocês. Na verdade, meu objetivo era pesquisar sobre como funciona o uso de ilustrações em livros para o Clube de Escrita. Eu ia só pegar as principais informações e agregar ao post, que você vai ver em breve aqui. Mas depois das respostas da Alliah isso se tornou uma tarefa impossível, to até quase dando a parede do meu quarto pra ela pintar!!!
Quem é Alliah?
Alliah é escritora e artista visual, autora de Metanfetaedro ("um livro estranho com ilustrações estranhas"), de um monte de contos espalhados por aí e de ideias legais, tipo a criação de uma coletânea de dinossauros que será lançada pela editora Draco e você pode participar. Abaixo você vai conhece-la melhor e aprender com sua experiência no mercado literário.
Eu já queria fazer algo assim há algum tempo. Não sei dizer se houve um momento exato em que surgiu a ideia do Metanfetaedro. Foi um processo. Eu fui fazendo e experimentando até decidir que tava pronto. A única certeza que eu tinha é que eu queria criar algo que bebesse nas fontes do weird e do new weird. As influências literárias e quadrinísticas estão todas lá à flor da pele. O livro tem uma urgência que eu percebo agora que era inevitável. E as próprias histórias nasceram em pouco tempo. Acho que levei uns quatro meses para escrever o livro, fora o que já tava meio-pronto antes. Mas acredito que toda essa turbulência e fragilidade foram os toques responsáveis por fazer alguns leitores se identificarem tanto com aquilo que escrevi. Recebi mensagens incríveis de leitores que se empolgaram e se emocionaram com o Metanfetaedro. Isso é o mais importante.
2- Como foi pra publicar um livro assim? Encontrar a editora, falar que o livro seria ilustrado, se houve alguma resistência…
Foi um caminho não-convencional. O Richard Diegues, um dos editores da Tarja, entrou em contato comigo querendo publicar um livro com histórias minhas, entre já publicadas e inéditas. Minha primeira publicação profissional foi com a Tarja, em 2009, então eu já tinha um material bacana com eles. Eu respondi dizendo que tinha um livro de contos com ilustrações em mente e queria que entrassem apenas histórias inéditas. Ele me deu o sinal verde pra trabalhar nessa ideia. Acabou que entrou um conto já publicado, o da Morgana Memphis que tinha saído no Volume Vermelho d’A Fantástica Literatura Queer. É o conto que mais causa boas (e divertidas!) reações nos meus leitores, então nada mais justo que ele fizesse parte do meu primeiro livro solo.
Arte da Alliah. Eu adoro essa!A Alliah usa uma versão sem a cobra no header do blog, que eu prefiro, apesar de que essa cobra é um elemento muito legal. |
3- Você já publicou outros projetos com ilustração e escrita?
Sim, já me chamaram para ótimos projetos. No fim do ano passado a editora carioca Oito e Meio lançou a coletâna Para Copacabana, com amor, organizada por Daniel Russel Ribas. O Daniel me convidou para participar como escritora e ilustradora. Então eu tenho um conto lá e duas ilustrações, que vocês podem ver no meu blog aqui e aqui. O livro ainda tem artes de mais cinco ilustradoras. A Editora Draco está para lançar uma coletânea chamada Depois do Fim, organizada por Eric Novello. Eu participo desse livro com uma noveleta e uma série de oito ilustrações que constituem uma história própria, quase uma HQ. O Eric me passou as ideias iniciais para essas ilustrações e aí eu enlouqueci o resto. Meus trabalhos nesse livro estão entre meus favoritos.
4- E já teve ilustrações publicadas em histórias dos outros?
Durante boa parte do ano passado eu participei de um coletivo chamado Quotidianos, um grupo de escritores e artistas visuais que publica periodicamente pequenas histórias fantásticas ilustradas. Eu contribuía nas duas frentes. Minhas histórias eram ilustradas por Rogério Geo, artista de colagem com criações belíssimas. E minhas ilustrações apareciam nos contos de Jim Anotsu, Claudio Parreira e vários autores convidados. No meu blog tem uma lista com todas as minhas participações no Quotidianos.
Ilustração feita pela Alliah para o conto Minutos, do Marco Rigobelli fonte |
5- Eu vi no seu blog que você acabou de fazer uma ilustração para o conto Minutos, do Marco Rigobelli. Se alguém quiser uma ilustração sua em um livro/conto/parede (vai saber, né?), como é que faz?
É só a pessoa me mandar um email explicando a natureza do trabalho. É uma ilustração só ou mais de uma? Colorida ou em preto e branco? Será publicada digitalmente ou impressa? Quais as dimensões e formatos? Com essas informações básicas eu posso passar um orçamento dizendo quanto vai custar e quanto tempo vai levar pra ficar pronto. Então podemos conversar sobre os detalhes contratuais e os pormenores da arte. Se a pessoa não souber exatamente o que quer ou quiser me dar uma liberdade maior na hora de criar, eu topo também. Só entrar em contato que a gente conversa. Nesse caso da ilustração para o conto do Marco, ele me deu total liberdade para interpretar a história. Eu mandei duas opções de arte pra ele, dois rascunhos com duas abordagens diferentes, e ele optou por essa que vocês podem ver publicada no site do autor.
"Eu adorava fazer pinturas grandiosas em lugares não-convencionais."
Agora algo que eu tenho que comentar. Quando você falou em parede, lembrei que quando eu era menor, eu adorava fazer pinturas grandiosas em lugares não-convencionais. A porta e as paredes do meu quarto passavam por vários experimentos. Minha mãe sempre levava um susto quando encontrava alguma coisa nova desenhada pela casa, coitada. Hahaha! Tem um desenho que fiz na porta do meu quarto - em 2007, se bem me lembro - de um guerreiro medieval, um personagem do jogo Hexen. Tá aqui até hoje. Esse minha mãe não teve coragem de me mandar apagar com esponja e sabão. (Já tive que esfregar muita parede! Haha!). Então, olha, se alguém aí quiser me contratar pra pintar um mural ou algo do tipo, eu vou amar! Mesmo! Entre em contato!
6- E importante: Você tem algum projeto para o futuro? Seja de escrita, ilustrações…
Se tenho! Por onde eu começo? Hahaha! No momento estou envolvida em dois projetos independentes grandes. Um deles é uma publicação digital erótica que envolve literatura e artes visuais. É um trabalho solo, que estou desenvolvendo com muito carinho e cuidado. Será lançado no momento certo. O outro projeto é um estúdio independente que comecei com um amigo em Janeiro desse ano. Mas ainda não é hora de falar sobre o que estamos criando. Segredo!
Sobre publicações literárias, tenho alguns contos pra sair. Já comentei sobre a coletânea Depois do Fim. Tem a Erótica Fantástica II, também da Draco. E mais outro livro que ainda não foi divulgado.
Quem aí gosta de dinossauros?
Estou organizando, junto com o Gerson Lodi-Ribeiro, uma coletânea sobre dinossauros que será publicada pela Editora Draco. O período para submissão de contos está aberto e vai até dia 31 de Julho de 2014. Mais sobre o livro e a guia para submissão de contos nesse link.
Ah, e quadrinhos. Esperem que terá quadrinhos.
Fora isso estou trabalhando nos meus romances bem aos pouquinhos, sem pressa e sem desespero. Eles têm avançado a um passo gostoso. Sem previsões, deadlines e promessas aqui. Só posso garantir que não estão abandonados.
7- No estilo J.K. Rowling, vamos fechar com 7: Pra você ter uma ideia melhor, estou tentando responder à pergunta de um garoto que está escrevendo um livro infanto-juvenil e imaginou que seria legal ter ilustrações no meio (ele não sabe ilustrar). Que dica você daria pra ele conseguir publicar a história assim?
Bem, normalmente esse tipo de decisão não está nas mãos do autor. Tudo vai depender da editora que irá publicar o livro, já que a grana para pagar o ilustrador vai sair dos bolsos da editora e não do escritor. Mas se ele quer que o livro tenha ilustrações, o que ele pode fazer é mandar o original para editoras que normalmente publicam trabalhos ilustrados. Aí é responsabilidade do escritor fazer uma pesquisa ampla sobre quais editoras ele acha que seriam uma boa casa para seu livro, e ler com atenção as guidelines de cada uma que está aberta para avaliação de originais. Adicione aí uma boa dose de paciência para aguardar pelas respostas e, quando o autor receber uma resposta positiva, procurar conversar abertamente com o editor responsável - mas sem chegar impondo nada, que isso é um tiro no pé. Uma opção interessante é mandar o livro para algum prêmio de literatura infanto-juvenil como o Barco a Vapor. E claro que sempre há a alternativa de fazer uma publicação independente, mas seria um investimento caro e que deve ser pensado e planejado com bastante cuidado.
Capa de facebook baseada em uma série de cartazes que ela fez na época dos protestos, veja aqui. |
E, ainda no estilo, J.K. Rowling: era mentira e eu vou fazer mais uma pergunta nada a ver. Eu fui dar uma olhada nas suas outras entrevistas pra não ter que perguntar coisa repetida. Na com o Eduardo Kasse você contou quase a minha história de vida, quer dizer, disse que acabou se limitando depois que "o fazer artístico ganhou um pseudópodo incômodo de precisar fazer e acumular dinheiro", mas que estava dando um jeito de ser mais livre como antes. E aí, de lá pra cá, como você tem lidado com isso?
Eu resolvi focar em projetos independentes, onde tenho total liberdade para criar e para distribuir gratuitamente ou vender da maneira que quero. É o caminho mais difícil, sem dúvida. E é um caminho marginal. Larguei a universidade ano passado e estou dedicando 100% do meu tempo aos meus projetos e aos trabalhos como freelancer. Ainda estou no começo dessa jornada. Nos últimos tempos tenho lido, assistido e estudado um bocado de coisas relacionadas ao mercado independente de artes e entretenimento. Acho que nunca assisti tanta aula, palestra e conferência na vida, nem quando eu tava na faculdade. Hahaha! Minhas leituras de não-ficção têm ultrapassado as de ficção. Mas eu tenho curtido cada segundo, cada descoberta, cada insight. As coisas têm dado certo. Sem falar que eu tenho uma relação deliciosa com as pessoas que curtem e acompanham meu trabalho de perto. Cada hora fico animada com algo diferente que surge pelo caminho. É uma trilha arriscada, mas é uma trilha irresistível. Sinto que eu pertenço aqui. Como diz a música, I wouldn’t have it any other way.
Continue vendo o que a Alliah faz! Passe no blog dela, indico esse post sobre Frozen, você também pode segui-la no twitter @AlliahArt e até entrar em contato pelo email abaixo:
contato@alliahverso.com.br
A imagem ao lado é um auto-retrato feito por ela para um projeto, onde ela também fala um pouco sobre si com um texto. Para ver clique aqui.
Nossas entrevistas não acabaram! Em breve nós voltaremos com o ilustrador Luciano Tasso e sua visão sobre o mercado editorial.
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1 comentários
<CONVERSACULT3
ResponderExcluirAdorei a entrevista, Dana! Foi de grande serventia, haha
Abraço*