Pensando em tudo o que eu poderia dizer sobre Divergente, acho que a minha sensação final pode ser resumida em orgulho. Orgulho de ter lido o livro, de ver a adaptação virar verdade e de ver que o YA pode ser o remédio que o cinema precisa hoje em dia. Sério. Vamos conversar sobre o motivo.
Calma, por que o cinema precisaria de uma cura?
O cinema estereotipa as coisas. Isso nos leva ao que a Chimamanda Adichie chama de o perigo de uma única história. Basicamente, a criação de estereótipos que acabamos tomando por verdade, o que nos impede de ver outras pessoas como iguais e aí tudo bem jogar uma bomba no Japão ou arrastar uma favelada ou roubar um playboy ou ser grosso com um pai homofóbico ou deixar o cachorrinho cagar no meio da rua.
Por que o YA pode ser o remédio?
Por dois motivos:
1- A literatura YA é cheia de autores que estão tentando criar histórias menos estereotipadas, mais inclusivas e mais questionadoras. E. Lockhart nos trouxe Frankie Landau-banks para abordar a representação da mulher, Megan Crewe nos trouxe uma protagonista negra e John Green trouxe uma nova perspectiva para livros sobre câncer.
2- Fãs exigindo uma adaptação bem feita. Não adianta o livro ser incrível se quando for para as telas virar só mais uma porcaria. Há muitos livros ótimos que não são YA, mas eles têm a mesma quantidade de fãs dando feedback e exigindo uma adaptação mais fiel? E mais importante: que estejam sendo ouvidos tanto quanto os fãs de YA estão?
E o resultado é que quando você tem boas adaptações lucrativas desses livros, você está mostrando para o mundo inteiro que eles podem fazer mais disso. É um ciclo.
Alguém precisa dar o primeiro pulo |
E o que Divergente tem a ver?
Divergente [veja resenha] é um ótimo exemplo de um livro que tem algo a dizer e conseguiu levar isso para o cinema. A história é justamente sobre padrões de conduta que somos forçados a nos encaixar, em vez de procurarmos ser quem nós realmente queremos. No meio disso nós temos personagens gays, negros, asiáticos, latinos, mulheres em cargos de poder, homens sendo amáveis etc.
E por mais que nem todos os detalhes tenham ido para o filme, outras partes cresceram nas telas. Como a questão da Tris buscar o controle da própria vida (todos os medos dela são de perder isso), a sensibilização ao assassinar alguém e a luta contra relações abusivas, tanto no caso da agressão do pai quanto no estupro. Sério, quantas vezes você vê por aí todos esses temas serem tratados em um filme de ação? E ao mesmo tempo!
Espero que o cinema em geral aprenda com Divergente. Um filme que foi bom assistir e que não deixa com aquela sensação ruim por causa de tudo o que não foi. Eu comecei esse post sentindo orgulho, agora eu só estou aliviada. Tem noção disso? Um filme que valoriza o ser humano?
Agora eu tenho a esperança...
-dana martins
*Só pra lembrar que a análise não tem nada a ver com atuação, efeitos especiais, nível de fidelidade da adaptação (que, pessoalmente, achei bem fiel. Mesmo cortando algumas coisas) e muito menos sobre os momentos bregas de OH, EU SOU DIVERGENTE, que não tiveram a dose de drama necessária para funcionar. A parte técnica eu deixo para o Oscar analisar. Não, pera. Eles não analisam filme de... qual é o estereótipo negativo que estão dando dessa vez?
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4 comentários
Acredito que seja pouco provável Divergente ser a cura para o cinema, pois ele não se tornou hit. Será para o cinema o que Crônicas de Narnia é: uma boa franquia, mas nada revolucionário ou digno de nota ao longo do tempo.
ResponderExcluirNão li o livro e nem vi o filme, mas estou por dentro da história e sei que ele possui um potencial interessante. Talvez se os diretores/produtores fossem os irmãos Wachowski Divergente poderia ser um marco na história do cinema. No momento ele só é mais um filme baseado em uma série de livros YA com um razoável sucesso.
O Oscar analisa sim a questão técnica de filmes como Divergente, tanto que na maioria das vezes são os campeões de bilheteria e filmes mais populares que concorrem em categorias mais técnicas como efeitos, fotografia e sonoplastia.
ô jesus u.u Não estou falando em questão de moda ou impacto, porque isso eu acredito que não vai ser tão grande. Mas Divergente, diferente de Narnia, é a prova de que eles podem fazer um filme que represente bem os personagens, que não seja aquele clichê quase insuportável de personagens femininas e até que tenha uma boa diversidade no elenco. Ou de que eles podem misturar entretenimento com temas sérios de uma maneira positiva. Ele pode não causar uma revolução, mas é revolucionário em si. Infelizmente, grande parte da falta de valorização dele é justamente por ser YA (e aquela propaganda horrível de Four/Tris) e porque quando se coloca em comparação com um filme de alto orçamento, bem produzido e redondinho de Hollywood, ele fica para trás.
ExcluirMas o interessante aqui e a importância de Divergente (e adaptações YA), é: Filmes costumam ser mais estereotipados (segui seu exemplo e farei um post em separado sobre isso), que causa problemas horríveis na representação de seres humanos na tv, só que como são adaptações de livros e existe uma pressão pela fidelidade, eles acabam trazendo mais desses elementos dos livros para o cinema, o que resulta em algo no mínimo interessante (e positivo). E quando eles não afundam total, abrem caminho para mais histórias assim. (ver comentário do Sebastian no post Uma História de Literatura e Exclusão)
O sucesso de Jogos Vorazes seguido pelo sucesso de Divergente é o que nos dá a esperança de ter um filme de uma super-heroína no futuro próximo. E espero que quando eles olhem para esses filmes para tentar entender o que está acontecendo, eles percebam como os personagens estão sendo tratados.
(acho que a única diferença entre Jogos Vorazes e Divergente, se tratando disso, é que Divergente é uma história sobre isso, enquanto Jogos Vorazes é uma história que faz uso disso)
Sobre o Oscar, foi isso o que eu falei (na verdade, falando das categorias no geral também). E o problema é meio que isso.
Eu discordo. É muito mais fácil um roteirista pegar uma história pronta e adaptar para o cinema e ter a garantia do publico que já é fã dos livros. Fazendo uma adaptação descente, certeza que arrecadarão muito com esse filme.
ResponderExcluirNão que eu seja contra a adaptações de livros. Existem várias adaptações que eu amo muito.
Agora um filme original, criado para o cinema exige muito mais criatividade dos roteirista e etc. Então não, eu não vejo Divergente como uma cura do cinema, mas sim mais só mais uma adaptação com um publico garantido.
Será que exige muito mais criatividade? Pegar um trabalho já pronto, com uma base de fãs, cortar partes disso de modo que continue o mesmo e ainda seja bom para quem não conhece, é um grande trabalho. Muitas adaptações se perdem porque o roteirista está muito preso para criar.
ExcluirMas eu não entendi como isso discorda do texto, ou até o que tem a ver ser difícil ou fácil e ganhar dinheiro o.õ